O futebol é cheio de simbolismo: primeiro gol, primeira vitória, primeiro título e, entre todos esses temos, surge a inserção dos negros, ao contrário do início da história do futebol, quando o esporte era elitista e racista.
O Vasco da Gama foi o primeiro a se manifestar e lutar publicamente contra a exclusão de atletas negros no futebol. Tornou-se marco do futebol brasileiro a posição do clube em se manter fora da AMEA (Associação Metropolitana de Esportes Amadores) ao negar a exclusão de jogadores negros e brancos pobres da equipe, como a tal associação exigia nos idos de 1924. Agora, no momento em que as manifestações de intolerância, preconceito e discriminação voltam a acontecer com força, como comprovam os números do Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol 2015 levantados pelo Observatório da Discriminação.
Leia mais:
Rafael Cechin: "Nossas direções estão erradas"
Kalil Sehbe Neto: Juventude, patrimônio gaúcho há 103 anos
Alexandre Correa: a luta só está começando
Foram 41 casos comprovados de racismo em jogos disputados pelo país no ano passado. Só o Rio Grande do Sul é responsável por nove desses registros. A apresentação do documento ocorreu na sede do Vasco, que acolheu a ideia de combate ao racismo em harmonia com o passado do clube. Encontramos no Vasco um importante parceiro não só para o lançamento do Relatório como para continuarmos nossa luta. O presidente Eurico Miranda abriu as portas do clube.
O Relatório 2015 apresenta os casos de racismo denunciados pelos veículos de comunicação, com informações de desdobramentos, punições aos envolvidos e a análise de dados. Este ano o documento não apresenta apenas os casos flagrados dentro futebol. Também relaciona outros tipos de incidentes preconceituosos que aconteceram em outros esportes, incluindo casos do vôlei, basquete e o registro das brincadeiras de mau gosto endereçadas a um atleta da ginástica artística.
Outra novidade é a análise dos dados sistêmicos realizados por Edilson Nabarro, sociólogo e diretor da Coordenadoria de Ação Afirmativa da UFRGS, reconhecido pela luta em defesa da diversidade. Talvez o mais correto fosse chamarmos de Relatório Anual do Preconceito e da Discriminação no Esporte Brasileiro 2015 – e com Atletas Brasileiros no Exterior, mas decidimos manter o nome.
Presente no encontro, o procurador Felipe Bevilacqua, do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), estabeleceu um canal de comunicação com o Observatório. Informações sobre casos de racismo serão repassados ao tribunal.
O recado principal do encontro é o pedido para que as vítimas não silenciem. Ao contrário, procurem seus direitos.
*ZHESPORTES