Após a conquista de vaga inédita para a canoagem de Santa Maria e com muito a falar e a agradecer à cidade, Gilvan Ribeiro, 27 anos, decidiu enviar uma carta.
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No material entregue à reportagem do Diário na tarde de domingo, o canoísta, que segue dos Estados Unidos para o Mundial da Europa nesta segunda-feira, falou sobre a sua trajetória de 15 anos, desde que começou no esporte em um projeto social no bairro Campestre, onde a família reside até hoje.
Confira a carta de Gilvan Ribeiro:
Quando eu passei a linha de chegada foi como se um ciclo de 15 anos se encerrasse naquele instante. A prova durou pouco mais de trinta segundos. Foi tempo suficiente para ver toda minha vida passar diante dos meus olhos. Foi em Santa Maria que eu comecei nessa jornada, em 2001. Desde as primeiras remadas, aquele garoto franzino, que não conseguia vaga no time da escola, alimentava um sonho: ir para a Olimpíada. Naquelas circunstâncias isso era como chegar à lua. Foram incontáveis tardes de inverno a bordo de um caiaque na barragem do bairro Campestre. Muitos foram os dias em que pensei em desistir. Falta de apoio no esporte era apenas uma das dificuldades. Descobri que o universo cobra caro por sonhos grandiosos.
Com o tempo fui conquistando espaço pelo mundo. Nesse momento entendi que o meu sonho também pulsava no coração de muitas pessoas. Percebi o quanto que as minhas vitórias representavam para a minha cidade. Assim, a felicidade de conquistar algo se multiplicava, mas também a responsabilidade.
Essa foi a minha terceira tentativa de conquistar a vaga olímpica. Em 2012, ela escapou por quatro décimos de segundo. Recuperei as forças e a motivação para treinar por mais quatro anos. O último ano foi o mais difícil. Passei por provações físicas e psicológicas extremas. Para estar na Seleção tive que ficar longe da minha filha recém-nascida. A culpa que me coloquei por isso, levou-me a um estágio de depressão no ano passado. Como se não bastasse, há duas semanas uma lesão na coluna fez com que a preparação final fosse com muita dor. Mesmo assim, todos os dias colocava o caiaque na água e remava forte. Sempre com o pensamento na minha filha e nas pessoas que acreditavam no meu sonho. Eu continuei, dia após dia me dedicando inteiramente.
No último sábado, o garoto do bairro Campestre chegou na lua a bordo do seu caiaque. Junto com ele, a sua filha Clara e a família Ribeiro. Junto com ele, uma cidade inteira de pessoas batalhadoras que merecem sorrir. Junto com ele, a certeza de que todos podem sonhar alto. Basta ter dedicação plena e colocar amor naquilo que você faz que os resultados virão. Elevo minha gratidão a todos que nunca deixaram de acreditar. Santa Maria vai para a Olimpíada!