Em uma academia do bairro Santa Catarina, em Caxias, treina o atual campeão brasileiro e pan-americano de taekwondo. Aos 23 anos, Matheus Rocha pratica a luta oriental desde os 16.No ano passado, tornou-se faixa preta, a graduação máxima. Nascido com síndrome de down, é um exemplo de que o esporte oferece chances a quem procura transformar vidas, seja a sua ou a do próximo. Basta haver estímulo desde casa e preparo de quem ensina.
A mãe de Matheus, Tânia Rocha, conta que o filho praticou outros esportes, mas foi no taekwondo que mais se identificou. Tudo começou quando, na saída da escola, o professor Paulo Fraga, vestido com quimono, deu um panfleto a Matheus.
- Pessoas com deficiência não estão acostumadas que se dirijam diretamente a elas. Ele ficou tão admirado, que me disse que queria ser igual àquele professor _ conta Tânia, que é psicóloga.
Nos últimos oito anos, Matheus treina com o professor Tadeu Drago. Disciplinado, é um dos responsáveis por passar dicas aos alunos mais novos.
- Ele está tão adaptado que eu o vejo sem síndrome. Ele faz os exercícios com a mesma qualidade e intensidade que os outros colegas, muitas vezes até os ajudando a melhorar. O preparo dele é tão bom quanto o dos demais - diz Tadeu.
O professor comenta que o número de atletas com síndrome de down tem crescido no taekwondo, o que permitiu a criação da categoria especial em que Matheus compete. Antes disso, o caxiense participava dos torneios em uma categoria de demonstração, lutando com os demais competidores, porém com avaliação individual. O professor destaca que ainda existe resistência tanto por parte tanto de pais quanto professores por iniciar crianças com síndrome de down na luta, mas vê em Matheus um exemplo de que essas barreiras podem cair:
- Muitas pessoas acham que o filho não vai conseguir, mas mesmo quando vão à procura, encontram dificuldades em achar auxílio profissional adequado. Falta qualificação para atender a esse público. Desde bebê, o Matheus foi muito estimulado, por isso tem uma capacidade motora e mental maior. Isso facilitou o nosso trabalho. Já tive outros alunos com síndrome de down, mas que não se adaptaram justamente pela questão da falta de estímulo desde pequeno.
Paixão pela culinária aprendida com a avó
O quimono não é a única vestimenta que identifica Matheus. Quando pendura o traje de luta, veste o avental de chef de cozinha e dá vida à outra paixão, essa mais antiga que o taekwondo: a cozinha. Desde pequeno, aprendeu com a avó a fazer pizzas e outros pratos que gosta de preparar com a ajuda do pai, um cozinheiro de mão cheia. Quando se refere a ela, que já faleceu, Matheus leva os dedos aos olhos para segurar o choro.
Um dos pratos que mais gosta é o bauru. Em setembro, Matheus assinou a "sugestão do chef" da edição da Confraria Gourmet, do Café de la Musique, em prol da Comunidade Down de Caxias. Ele explica como bolou o prato:
- O bife leva queijo, molho de tomate e uns temperinhos como enfeite. A batata-frita vai em um potinho de porcelana, para não misturar com o molho. E vai mais um arrozinho.
A receita foi um sucesso, e o chef já tem nova data para voltar ao Café. No dia 19 de novembro, servirá dois tipos de massa em um novo evento da Comunidade Down.
Superação
Caxiense com síndrome de down se destaca no taekwondo (e na cozinha)
Matheus Rocha, 23 anos, é campeão brasileiro na categoria especial. E assinou um bauru gourmet no Café de la Musique
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