O centroavante virou peça de museu? No país de Careca, Romário e Ronaldo Nazário, os melhores que passaram pela Seleção Brasileira nos últimos 25 anos, quem ocupa a cena hoje é o camisa 9 que atua mais fora do que dentro da área. Uma tribo da qual fazem parte Diego Tardelli e Firmino, as fracassadas apostas de Dunga na Copa América.
Perdeu-se a fórmula que gerou Roberto Dinamite, Reinaldo, Alcindo, Claudiomiro e tantos outros ou o Brasil apenas acompanha a tendência mundial, que é formar mais atacantes de velocidade do que os tradicionais finalizadores?
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- Talvez seja uma nova tendência, mas não se trata de uma espécie em extinção. O centroavante nunca vai acabar - aposta Luís Fernando Ortiz, ex-craque do futsal, há 10 anos no Projeto Aprimorar, do Inter, hoje sob sua coordenação.
Leandro Damião, Walter e Luiz Adriano, recentemente contratado pelo Milan, foram alguns dos chamados centroavantes à moda antiga que desenvolveram suas qualidades a partir dos ensinamentos de Ortiz.
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Segundo o coordenador, em cada categoria há pelo menos dois garotos com características de jogador de área. Ortiz reconhece, contudo, que, influenciados pelos exemplos europeus, os meninos preferem ser atacantes de movimentação.
- Estamos sempre à procura do jogador terminal - diz Ortiz.
Ao falar sobre as características do bom centroavante, ele enumera como básicas o drible curto, giro, cabeceio, capacidade de proteger a jogada e saber atuar como pivô.
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- Acho que dá para produzir centroavantes de área. Mas vai muito da biotipia do menino. Para ser de área, tem que ter bom porte - entende Luiz Gabardo Júnior, técnico da equipe sub-20 do Grêmio.
Como ocorre no rival Inter, a base do Grêmio aposta no aprimoramento das virtudes individuais dos jogadores. Destaque da equipe sub-20, o centroavante Batista passou pelo Projeto Lapidar e hoje é elogiado por suas qualidades na conclusão.
- Ele também sabe jogar pelos lados, mas é centroavante - enfatiza Gabardo.
Técnico do sub-20 do Inter, Ricardo Colbachini também cita Leandro Damião como prova de que ainda é possível formar o velho modelo de centroavante.
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- Ele precisa preparar a jogada para quem vem de trás, mas não pode deixar de ser o definidor - destaca.
Bruno Gomes, Bruno Baio e Luís Fernando Müller, o Milla, são lembrados por Colbachini como os mais recentes frutos do projeto coordenado por Ortiz.
Autor de 320 gols na carreira - "por aí, talvez um pouco mais" -, Tostão, que atuou com Pelé na célebre seleção brasileira tricampeã em 70, no México, diz nunca ter gostado de jogador de uma função só.
- O centroavante não morreu. Quem morreu é o jogador grosso, que só tem uma qualidade, chutar ou cabecear. Esse não cabe em equipe de primeiro nível, só em time pequeno - critica o atual colunista da Folha de São Paulo.
Tostão prefere equipes em que vários jogadores que façam gols. Como o Cruzeiro de sua época, nas décadas de 60 e 70, em que dividia a tarefa de marcar com Dirceu Lopes, Evaldo, Natal e Hilton Oliveira.
Jogador fincado na área é um desperdício, em sua avaliação.
- É claro que há situações específicas, contra uma defesa fechada, que exige pressão, bola alta. É muito comum o time não ser campeão e ele ser o goleador do campeonato - observa.
Parceiro de Pelé no lendário Santos, que ganhou tudo o que disputou nos anos 60, o ex-centroavante Coutinho vê uma crise na posição. Chega a dizer que, na atualidade, nenhum camisa 9 o agrada. "Não vejo nada nesses caras", responde, questionado sobre Diego Tardelli e Firmino.
- Também falam muito nesse Luís Fabiano, do São Paulo. O cara consegue ficar em impedimento 10 vezes na mesma partida - critica.
Apesar de ter sido um especialista dentro da área adversária, Coutinho, hoje com 72 anos, diz não fazer restrições a atacantes que atuem de outra forma.
- O importante é ser inteligente. Se souber se colocar, vai produzir muito mais para o time - sentencia o homem que protagonizava Pelé as tabelinhas até hoje citadas por antigos torcedores do Santos.
Claro que ainda há bons especialistas por aí. É o caso de Fred, goleador do Brasileirão passado, com 18 gols. Ou Ricardo Oliveira, do Santos, que já marcou oito vezes neste ano. Mas será difícil que, tão cedo, alguém repita a marca de Reinaldo, ex-Atlético-MG, autor de 28 gols em 18 jogos do Brasileirão de 1977.
De outro lado, a escassez de centroavantes tornou mais amena a vida dos zagueiros, avalia Ancheta, 67 anos, ex-central do Grêmio e da seleção uruguaia - foi um dos melhores na sua posição na Copa de 1970, no México. Jogadores como Palhinha, Dario e Flávio Minuano, alguns dos centroavantes com quem ele cruzou pelos gramados brasileiros, tinham em comum a individualidade.
- Antes, eles iam para a área em busca de espaço. Eram teimosos. Os rápidos e fortes eram os mais difíceis de marcar. Hoje, é mais na base do cruzamento - compara Ancheta, coordenador das seleções das escolinhas do Grêmio.
Para o uruguaio, faltam trabalhos de fundamentos para a produção de novos centroavantes.
- Só se procura jogador alto, para cabecear. Não importa se não sabe jogar, tem que ser alto. Não se deveria medir jogador por tamanho, mas, sim, por qualidade - opina.