![Luis Acosta / AFP Luis Acosta / AFP](http://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/17469401.jpg?w=700)
É tão berrante quanto o amarelo da camiseta que a Seleção precisa mudar. Não só ela. Por décadas, a genialidade de Romários e Ronaldos nos distraiu de problemas muito maiores no futebol brasileiro. Depois de a Alemanha apontar que o rei está nu e de o Paraguai impedi-lo de apanhar uma cueca, teria algo que Dunga poderia fazer para iniciar essa mudança estrutural imensa? Talvez uma.
Uma primeira medida salutar seria deixar de convocar jogadores vendidos antes de cumprir todas as categorias de base em clubes brasileiros. Funcionaria assim: o São Paulo deseja vender o zagueiro Rodrigo Caio, 21 anos. Vendeu? Boa sorte, Rodrigo Caio. Mas não na Seleção. Se desejar vestir a canarinho no Rio, em 2016, ou na Rússia, em 2018, o beque terá de aguentar mais dois anos no São Paulo. Ou no Corinthians, no Palmeiras... Enfim, no Brasil até os olímpicos 23 anos.
Talvez o São Paulo desejasse vender Rodrigo Caio mesmo assim. A folha é mensal e está atrasada, azar da Seleção. Já o zagueiro, este sim pensaria bem melhor se soubesse que a Europa, agora, significaria o exílio certo de Olimpíadas, Copas e competições onde todo jogador deseja um dia brilhar e valorizar o próprio passe.
Com o tempo, a Seleção contaria mais com jogadores atrelados desde a adolescência à amarelinha, entrosados uns aos outros e familiares aos conceitos que a comissão técnica desejar, e menos com paraquedistas estranhos ao torcedor como um Roberto Firmino, que aterrissou na Seleção quatro anos depois de fazê-lo na Europa. Já os clubes, apesar da pressa e do desespero para saldar dívidas, teriam um belo incentivo para postergar a venda ao menos dos seus guris mais promissores, qualificando times e campeonatos.
Pode parecer uma tentativa ingênua de parar a engrenagem do capitalismo, mas é o contrário. Os melhores jogadores irão um dia para os clubes mais endinheirados, e eles estão na Europa. Mas precisamos viver das migalhas?
Douglas Costa foi vendido pelo Grêmio aos 19 anos Shakthar da Ucrânia por 6 milhões de euros. Ontem, aos 24 anos, foi vendido pelo Shakthar ao Bayern de Munique por 29,6 milhões de euros, nada menos de R$ 102 milhões. Por que não o Grêmio realizar diretamente essa última venda? De quebra, ver a camisa 10 por cinco anos em Douglas Costa, e não em um Douglas barrigudo e grisalho. E vale perguntar: embora a desculpa para vender seja sempre a mesma, o Grêmio ficou menos endividado de 2010 para 2015?
Enquanto isso, o Shakthar dividirá 29,6 por seis e buscará aqui no Brasil outros cinco Douglas. Ou Luans, Valdívias, Walaces, Rodrigo Dourados...
Precisa começar por algum lugar. Se é impossível chegar à Rússia com todos os convocados com a base cumprida no Brasil, quem sabe uma meta de 70%, 80%? Não requer a aprovação de lei alguma, basta uma mudança de atitude lá de Dunga.