O Leonel Chaves, aqui de ZH, é nosso especialista em futebol europeu. É um enfronhado em futebol de modo geral, mas adora destrinchar o do Velho Continente. No Sala de Domingo, da Rádio Gaúcha, até tiram sarro dele e suas pastas organizadas por cor, com cruzamento de dados, gráficos, desenhos táticos de jogos ao redor do mundo e observações pertinentes à movimentação dos jogadores. É um doido, em suma.
Leia mais opiniões de Diogo Olivier
Talvez por ter sido goleiro. Dizem que todo goleiro tem um pouco de louco. O Leonel chegou a jogar na base do Grêmio, Caxias, Sapucaiense e Criciúma, até seus joelhos o aconselharem a largar as luvas de vez.
Então ele estudou, virou jornalista como o pai, ninguém menos do que Ricardo Kadão Chaves, o único a fotografar Brizola em sua fazenda em Durazno, interior do Uruguai, entre outras imagens únicas, e agora monta teses ao nosso lado na Redação. Azar o dele. Pois o Leonel me chamou a atenção para algo que nos obriga a, no mínimo, refletir sobre uma nova mania do futebol brasileiro: poupar jogadores.
Confira mais notícias de Esportes
Antes havia o desconto das competições paralelas, mas agora nem isso. Preserva-se, simplesmente. O calendário é apertado. O Brasil é continental, de viagens longas, desgastantes, ao contrário da Europa e seus países menores e deslocamentos mais curtos.
Os jogos são quarta e domingo, com aquela maratona desumana. São vários os argumentos, todos respeitáveis. E, na falta de um, sempre haverá o desconforto muscular. Que não é lesão, não chega a ser uma dor propriamente: é um desconforto. Algo que indica a necessidade, claro, de preservar.
Dados clínicos e de preparação física não podem ser contestados. Longe de mim tal pretensão. As comissões técnicas dos clubes os coletam fartamente. O futebol é cada vez mais profissional nesta área. Mas a gente vê Messi jogando uma partida atrás da outra e fica com a pulga atrás da orelha, para ficar no trocadilho com o apelido do argentino.
La Pulga acaba de fechar 50 partidas seguidas na Liga Espanhola. Enfrentou muitos mequetrefes, contra os quais poderia descansar. Na temporada europeia passada, Messi jogou 58 partidas. É o número que salta das planilhas do Leonel.
Agora mesmo: pegou o Almeria, na última quarta-feira, no Camp Nou, estava escalado contra o Valencia, sábado, fora de casa e, claro, será estrela em Paris, na Champions, diante do PSG. Jogo e viagem. Viagem e jogo.
O Barcelona escala titulares ao máximo. Cada rodada é um ponto a mais no entrosamento, na mecânica, no ajuste tático fino. Messi tem atuado até na Copa do Rei, a taça de menos grife almejada pelos catalães entre as que disputa. De oito jogos, disputou cinco.
É uma batalha atrás da outra, como se fosse o Rei Leônidas, de Esparta, a comandar seu pequeno exército contra os persas, de homens e criaturas recolhidos em vários mundos da Antiguidade. Pois se ele, o pequenino que é o maior de todos, do alto de seu 1m70cm, caçado em campo como é, se Messi está em todas, não é hora de nossas estrelas entrarem mais em campo?
Creio que há alguns dogmas por trás da preservação geral de jogadores nos clubes brasileiros. O Brasileirão não é mais o campeonato único no mundo, pelas distâncias estratosféricas. Tirando Recife (Sport) e Goiânia (Goiás), é um Rio-São Paulo acrescido da Região Sul. Só tiro curto, como na Espanha ou na Itália.
Os que estão na Libertadores já não disputam as fases iniciais da Copa do Brasil. Na própria Libertadores, os grandes podem até fretar aviões, para escala dos atrasos comerciais. A tendência dos estaduais é de enxugamento. Até 2017, o Gauchão terá 12 times e menos datas. Chegou a hora de, também por aqui, a preservação ser a exceção. E não a regra.
Opinião
Diogo Olivier: se Messi está em todas, poupar jogadores não será mania brasileira?
Diogo Olivier
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project