Paulo Henrique Ganso fora de campo é o mesmo de dentro do campo. Discreto, silencioso e cerebral. Parece estar dia e noite com a camisa 10. O que estaria longe de ser exagero. Ganso é o legítimo camisa 10, talvez o último representante dessa linhagem que pensa com a bola nos pés. Desponta, por isso, como a salvação da Seleção cambaleante de Mano Menezes para a Copa de 2014.
- Ele é um rapaz diferente do que estamos acostumados no mundo do futebol - diz o investidor Delcir Sonda, dono de 55% dos direitos econômicos do meia e proprietário da DIS.
Ganso é mesmo diferente. Retraído, mostra-se avesso à badalação que circunda o futebol. Atender aos compromissos publicitários representa desafio. É garoto-propaganda de gigantes: Gillette, Gatorade, Pepsi, Nike e Samsung. Todos os contratos se estendem até o final da Copa de 2014. Caem todos em sua conta. O Santos apresentou-lhe planos de carreira em que insistia ficar com quinhão dos ganhos publicitários. O meia recusou todos. Manteve posição, contrariando a própria família.
Quem convive com Ganso se impressiona com sua maturidade aos 22 anos. Sabe que caminhos tomar na carreira, tem ideias claras e posições firmes. É acima da média dos demais jogadores. Oriundo de família de classe média, terminou o ensino médio e estudou inglês. Deixou a casa da família e mora sozinho em apartamento em Santos. Em junho será pai. A gravidez foi acidental. O meia assumirá o filho, mas seguirá solteiro.
- Temos 80 jogadores aqui na DIS, mas mantenho relação mais próxima com o Ganso por ser o único deles com o qual não falo sobre futebol - diz Thiago Ferro, executivo da DIS.
Ganso fala pouco. Mas quando se manifesta, dispensa rodeios. Foi assim em dezembro. Às vésperas do Mundial de Clubes, anunciou que venderia para Sonda os 10% dos direitos que lhe pertenciam. Provocou um tsunami no hotel santista no Japão. A relação entre clube e Sonda havia azedado na renovação de contrato com Neymar. Ganso estava insatisfeito com o tratamento recebido na Vila Belmiro. O Santos alegou que, durante a recuperação da cirurgia no joelho, apresentou-lhe propostas de plano de carreira. Todas recusadas.
O obsessão do meia é jogar no Exterior. O Porto ofereceu 15 milhões de euros em dezembro. O Santos recusou. Exigiu 22,5 milhões de euros pelos 45% a que tem direito (o "passe" está estipulado em 50 milhões de euros). O Porto promete voltar em junho. O Anzhi, time de Roberto Carlos, também se apresentou. Mas, para a Rússia, ele disse que não vai. O Milan o queria, mas atravessa crise financeira. O futuro do meia pode estar em Paris. Sonda confirma que o PSG o procurou. Leonardo, diretor executivo do clube, é apaixonado pelos passes de Ganso.
À boca pequena em Santos, corre que o presidente do clube, Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro, e Ganso acertaram um pacto. Ele voltaria a jogar em alto nível no ano do centenário do Santos e, em junho, sua saída seria facilitada. O meia cumpre sua parte. Curtiu em 2012 suas primeiras férias desde que virou profissional, em 2008. Ouviu de Muricy Ramalho o conselho de que precisava apurar o físico para recuperar o posto de maestro do time.
- O Ganso está feliz, voltou para a Seleção que é o lugar dele. É uma pessoa que precisa estar bem para fazer o que mais gosta, armar um time de futebol. Trata-se do maestro, do pensador do meu time - avisa Muricy Ramalho.
É pela cabeça desse Ganso que passa o futuro da Seleção Brasileira.
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