Obras da Copa incompletas, ruas e estradas esburacadas, policiamento falho, filas gigantes nos hospitais, escolas sucateadas, falência financeira. Pense em um problema do Rio Grande e tente associá-lo ao foguetório da noite da última quarta-feira, tão logo o Inter caiu na Libertadores. Parece difícil, talvez impossível. Mas há lógica.
Aos fatos, portanto. As mazelas e carências do Estado não podem ter outro responsável a não ser quem vota, elege e governa por aqui. Não por acaso, via de regra são as mesmas pessoas que espocam foguetes diante da derrota de um time gaúcho - escolha qualquer um entre Inter ou Grêmio, porque no Gre-Nal da flauta impera o empate técnico e, sempre que um perde, o outro comemora. Sem exceção.
Aí está o ponto: celebrar ostensivamente o fracasso alheio só mostra como os gaúchos, em boa parte, pouco se importam com o nivelamento por baixo. Se o outro perder, ótimo, porque aí desaparece a exigência para igualá-lo ou fazer melhor.
Aplique este raciocínio à história política recente do Estado e será fácil lembrar de episódios ferozes de polarização. Tarefa mais dura, provavelmente, representará listar benefícios deste tipo de comportamento. Pelo contrário: torcer contra na própria aldeia significa fogo-amigo, destruir em vez de construir, desagregar quando se poderia optar pela coalizão. Desdenhar da coerência.
Dito isto, e se o time do Inter estivesse em uma noite inspirada a ponto de brecar o Tigres? Agora estaríamos falando de dois jogos épicos contra o River e a chance de ganhar uma Libertadores, talvez com viagem ao Japão no final do ano - para o desafogo dos agentes de turismo, aniquilados por este dólar galopante.
Os olhos míopes dos fogueteiros de quarta, porém, enxergariam uma derrota do Grêmio. Mas o rival na decisão representaria maior cobrança por títulos, o que invariavelmente resultaria em um esforço extra. Pela lógica, chance ampliada de sucesso.
Vale relembrar um episódio de quase 10 anos atrás, a Batalha dos Aflitos. Se um dos pênaltis do Náutico entrasse no gol de Galatto e mantivesse o Grêmio na Segundona, quem garante que o Inter entraria na Libertadores de 2006 tão disposto a mostrar serviço? Outro ano do Grêmio na Série B reduziria a pressão por um sucesso colorado.
Na quarta-feira, enquanto aqui havia um Gre-Nal de torcidas, no México os clubes uniam-se nas redes sociais com a hashtag #TodoMéxicoEsTigre, em apoio ao time de Sobis.
#ficaadica.