Confesso: fiquei irritado com a decisão da Conmebol de punir o Boca Juniors. Porém, ao contrário do Editor de ZH de Opinião Nílson Souza expôs neste espaço na segunda-feira, considerei a pena branda para o crime cometido em La Bombonera.
O lendário clube portenho merecia uma pena ainda mais pesada, como a suspensão por um ano de competições internacionais e uma espécie de "condicional" por igual período: se voltasse a repetir atos de violência, receberia em dobro a punição anterior. Mas é uma evolução em uma entidade tão frágil nas punições por atitudes fora do que é mais sagrado no futebol.
Por décadas, e ainda hoje, atos hostis de torcedores permanecem impunes sob o véu do "crime de multidão". Sem a sanção esportiva, os clubes pouco ou nada fazem para evitar que estes atos se repitam. A cena ridícula dos policiais protegendo jogadores nos escanteios continua nos gramados sul-americanos: ninguém faz nada, nenhum clube é punido, então tudo continua como está.
Sofrendo penalidades nas competições, seja a perda de pontos ou mesmo a exclusão em competições eliminatórias, muda-se o comportamento dos dirigentes com os responsáveis pelos atos, normalmente os mesmos de sempre. A Uefa já eliminou o Feyenoord por atos de violência em 2007.
O sucesso das penalidades coletivas evidencia-se quando um objeto é atirado no gramado. Imediatamente, os demais torcedores apontam o responsável, que é detido, identificado e sofre penalidades como a suspensão do direito de ir aos jogos. É isso ou o clube perde mando de campo. O anonimato não é mais tolerável.
Em 1996, no Gre-Nal do Brasileirão, o volante gremista Dinho foi atingido por um objeto no queixo em um escanteio. Condenado, o Inter perdeu um mando de campo. Essa foi a última vez que o colorado sofreu essa penalidade, há quase 20 anos. Hoje, o Beira-Rio é um estádio facílimo de ser invadido. Porém o torcedor sabe que qualquer ato hostil, e ainda mais com o "carinho" do STJD/CBF com os clubes gaúchos, as sanções serão severas.
O futebol precisa das pessoas de bem. Das famílias. Dos amigos. Com um mesmo e exclusivo propósito: torcer, vibrar, se emocionar. É necessário um basta. É duro punir um clube por atos organizados de violência de sua torcida? É. Sim. É injusto? Definitivamente não.
Funciona.
A dor ensina a gemer.