Um vídeo da emissora boliviana Zona Deportiva que mostra um dos torcedores do Corinthians atirando o sinalizador que matou o garoto Kevin Douglas Beltrán, mas fugindo imediatamente das arquibancadas do estádio, transformou-se na grande esperança de liberdade dos 12 corintianos presos em Oruro.
De acordo com o ministro conselheiro da embaixada brasileira na Bolívia, Eduardo Saboya, que teve contato com o grupo que está preso, todos querem colaborar com as investigações bolivianas.
- Eles reclamaram que não tiveram acesso às imagens para que pudessem ajudar a identificar o autor do disparo do sinalizador - disse o diplomata. - Eles estão nervosos e abalados, e reafirmam que são inocentes.
Apesar de alegarem inocência e reafirmarem que o culpado pelo disparo já voltou ao Brasil, todos os 12 torcedores foram indiciados por homicídio culposo e foram transferidos nesta sexta-feira para a penitenciária de Oruro. Dois deles são acusados como autores porque foram presos com vestígios de pólvora nas mãos e sinalizadores similares ao que matou Kevin; os outros dez são acusados como cúmplices.
Na segunda-feira, o advogado boliviano Jaime Luiz Flores - oferecido pela embaixada brasileira - vai entrar com um recurso para suspender a prisão preventiva, decretada nesta sexta pelo juiz Julio Guarachi. Mesmo que seja acatado, os torcedores deverão ficar na Bolívia até o fim das investigações, que podem levar seis meses.
Um dos corintianos presos na Bolívia é Tadeu Macedo Andrade, um dos líderes da Gaviões da Fiel. Ele chegou a comandar informalmente a torcida no ano passado e foi o mais votado entre os candidatos ao Conselho Deliberativo da organizada. De acordo com membros da uniformizada, sua presença pode contribuir com as investigações.
As imagens de tevê se tornaram peça importante porque ainda não foram analisadas pelo Ministério Público da Bolívia, que ordenou a prisão dos 12 brasileiros a partir das investigações das primeiras oito horas após o episódio.
- Eu vi as imagens rapidamente. A análise tem de ser feita de forma cuidadosa, por peritos - disse Saboya, revelando que a possibilidade de liberação ainda é remota.
O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa de São Paulo avalia que ainda é cedo para iniciar uma investigação em território brasileiro.
- O crime foi cometido lá e, por isso, temos de aguardar uma comunicação formal do Ministério Público da Bolívia para iniciar qualquer ação - explica a diretora Elizabeth Ferreira Sato.
O professor de Processo Penal da USP, Maurício Zanoide de Moraes, explica que, se o culpado estiver realmente no Brasil, dificilmente ele será extraditado. Vai responder ao processo aqui.
- As investigações podem ser conduzidas na Bolívia, mas o acusado vai responder ao processo no Brasil - explicou.
Os tratados entre Brasil e Bolívia apontam que condenados podem cumprir pena em seu país de origem.