O ano do Inter passa por sobreviver ao maior estádio da América do Sul e um dos grandes favoritos ao título da Libertadores, o único intruso no domínio Palmeiras e Flamengo. Às 21h desta terça-feira, os colorados encaram o temível River Plate, campeão argentino por antecipação, dentro de um Monumental de Núñez certamente lotado, na abertura das oitavas de final da maior competição do continente.
O cartel do adversário assusta. Desde que reformou sua casa, o River jogou 16 vezes. Ganhou 15. Vem de 14 vitórias seguidas. É uma máquina de moer quem se atreve a desafiá-lo. Além dos jogadores de ótima qualidade, há um caldeirão de 86 mil vozes do lado de fora, capaz de amedrontar jogadores inexperientes.
A confiança está lá no alto, mesmo quando o discurso é de respeito ao Inter. O técnico Martín Demichelis sucedeu tão bem o ídolo Marcelo Gallardo que nem se fala mais tanto do Muñeco. Por isso, pode se dar ao luxo de declarar o seguinte, quando perguntado sobre o Inter:
— Sim, claro, é duro. Mas como disse lá atrás, no sorteio. Nenhum dos que passaram em primeiro gostariam de cruzar com o River, porque vamos dificultar para todos.
O momento, para piorar, é ruim. Por mais que tenha trocado de técnico e gostado do desempenho contra o Bragantino e do primeiro tempo contra o Cuiabá, já se vai mais de um mês desde a última vitória colorada. O julho inteiro, justamente a época que se esperava um novo time, foi embora com três empates e duas derrotas na conta colorada. E só não foi sem gol porque Bustos marcou no sábado.
A esperança, assim, reside em Eduardo Coudet. O técnico é um velho conhecido do River, conhece os perigos do Monumental e a força do adversário. Mas é capaz de montar uma equipe que jogue do jeito que fizeram as equipes que ganharam do campeão argentino. Ou seja: enfrentando de frente, sem medo, longe da própria área. Demichelis elogiou o técnico colorado:
— Coudet nos conhece muito bem e isso vai dificultar o confronto. Mas vocês viram a festa que faz nossa torcida. Ninguém pode vir aqui e mandar no jogo. Vamos tentar dominar a partida na terça-feira.
O treinador do Inter deixou claro que não pretende se encolher em Buenos Aires. Reconhece a dificuldade do confronto, mas promete coragem:
— É um estádio difícil, vamos preparar o melhor jogo que pudermos fazer e dificultar para eles. Temos muitos jogadores experientes, que sabem enfrentar a pressão da torcida, de jogos decisivos. Vamos trabalhar, temos três dias para recuperar. Jogamos no sábado e ficamos com um a menos, e eles jogaram na sexta e ficaram com um a mais. Temos de montar a estratégia. Vamos correr riscos, tivemos desgaste, mas vamos jogar.
A boa notícia para Coudet e para o Inter é que os jogadores se consideram recuperados. Segundo Alan Patrick, que concedeu entrevista nesta segunda-feira, o time está 100% para o jogo. Partidas com essa importância costumam causar efeitos assim. Aránguiz é o mistério, mas deve jogar. A tendência é de repetição dos 11 que enfrentaram o Cuiabá. E o desejo é de repetição dos 45 minutos iniciais, quando houve sufoco, posse de bola, chances de gol. Como disse Coudet, desta vez, por mais tempo.
Por outro lado, os mata-matas recentes reduzem a esperança. O Inter caiu para Caxias e América-MG (e ainda teve o Melgar na Sul-Americana passada). Como acreditar que a equipe que foi eliminado para eles pode passar pelo River?
— Precisamos pegar como aprendizado, fazer melhor e encarar como mais uma oportunidade. Chegamos mais fortes do que antes. Eles vão querer nos atacar, nos colocar para trás, mas em jogos desse tamanho também sempre surgem as oportunidades para atacar. Precisamos saber os momentos. Coudet é um cara inteligente, já conseguiu perceber as características de cada jogador, vamos nos adaptar. Compreendemos o que ele quer — respondeu Alan Patrick.
As esperanças do 2023 colorado começam a ser jogadas no maior estádio da América, contra o campeão argentino. É dífcil? Sem dúvida. Mas imagina passar por isso...