O Inter pegou um dos mais temidos e indesejados adversários nas oitavas de final da Libertadores. Dos oito oponentes possíveis, abriu para o time de Mano Menezes justamente a bolinha que tinha o papelzinho escrito River Plate. No caminho pelo tri da América, o virtual campeão argentino é o primeiro passo colorado. O jogo de ida, na semana de 2 de agosto, será no remodelado Estádio Monumental de Núñez. A volta, sete dias depois, ocorrerá no Beira-Rio.
O discurso externo, como não poderia ser diferente, foi de que "tudo bem, não dá para escolher adversário a essa altura do campeonato", de que "é duelo de time grande" e os demais clichês que situações dessas costumam gerar. Mas internamente, o River disputava taco a taco com o Flamengo o ranking de inimigo mais difícil. Ainda que seja uma viagem curta, que certamente vai permitir milhares de colorados na Argentina, trata-se de um rival poderoso em campo e fora, com tradição na Libertadores. Nos últimos cinco anos, é a única instituição não-brasileira a ser campeã.
— Quando se classifica na Libertadores, já está em grupo seleto. Depois que passa da fase grupos, fica mais seleto ainda. Agora não tem escolha. Esperamos o sorteio, coube o River e vamos fazer um confronto com a grandeza de multicampeões da América. O sorteio nos colocou com uma grande equipe na frente, mas agora para frente é 50% a 50%. Vamos ver quem tem mais farinha no saco — disse um político Mano Menezes aos canais oficiais do Inter.
Felipe Becker, vice de futebol colorado, foi no mesmo sentido:
— É um jogo grande, com dois times gigantes. No momento em que estamos, nos vejo em boas condições de fazer um bom enfrentamento e disputar a classificação. Sobraram os 16 melhores times da América, não vai existir jogo fácil.
Dois fatores principais pesam na análise de Mano. Um é o calendário. Até a data do confronto da competição continental, possivelmente o River terá sido campeão nacional. A Liga Argentina tem última rodada prevista para 30 de julho. Mas a equipe de Martín Demichelis tem ampla vantagem na liderança na comparação com os concorrentes mais próximos, Talleres e San Lorenzo. Além disso, pesa o fato de o país vizinho ter menos jogos do que os brasileiros. Na mesma entrevista, Mano citou que, na época do Cruzeiro, comparou seus números aos de Guillermo Barros Schelotto, então do Boca Juniors, porque haviam começado seus trabalhos no mesmo período. Segundo o técnico colorado, ele teve 60 jogos a mais do que o colega e 180 treinos a menos.
O outro ponto é o próprio River. O time se encaixou com Demichelis, manteve uma base dos últimos anos, tem jogadores identificados com o clube e, agora, aumentou o estádio. Após a remodelação, o Monumental de Núñez recebe mais de 80 mil pessoas por partida.
— Gosto de ver o River jogar, gosto de grandes jogos. Agora vamos ver com outros olhos, atentos aos detalhes, para esmiuçar esse grande adversário — declarou Mano.
Na Argentina, a reação divergiu um pouco. Ainda que haja um respeito ao Inter, a sensação inicial foi de um certo alívio. Primeiro porque o desenrolar do sorteio deixou com 50% de chances a possibilidade de ter um superclássico já nas oitavas de final. Faltavam quatro bolinhas a serem abertas, Inter e Boca no Pote 1, River e Nacional-URU no Pote 2. Um confronto entre os dois gigantes argentinos certamente causaria mais drama. Além disso, o Palmeiras era apontado como o outro adversário indigesto das oitavas.
Assim, o Inter ficou no meio do caminho. O Olimpia era considerado o oponente menos temível. Em enquete promovida pelo canal TyC Sports, os colorados eram desejados por apenas 2% dos participantes. O repórter Hector Salerno, do jornal Olé, afirmou:
— River terá pela frente um adversário com nomes conhecidos, um reforço internacional (Enner Valencia), um técnico experiente e uma cidade que traz boas recordações (referindo-se à Libertadores de 2018, quando o time de Gallardo eliminou o Grêmio na Arena).
A publicação menciona que a chegada de Valencia repercutiu em mais sócios para o Inter. Também fala da repatriação de Aránguiz e Luiz Adriano, além de citar a boa fase de Alan Patrick e da importância de De Pena. Ao mesmo tempo, analisa que o ponto fraco está na defesa, mais especificamente nas jogadas aéreas.
Quem passar de Inter e River pegará o vencedor de Athletico-PR e Bolívar-BOL. O lado da chave ainda tem Flamengo x Olimpia e Argentinos Jrs x Fluminense. O time gaúcho decidirá em casa as oitavas. Se avançar e o adversário for os paranaenses, definirá seu futuro em Curitiba. A eventual semifinal, porém, deve ter jogo da volta no Beira-Rio, a menos que o adversário seja o Olimpia. Aliás, sobre isso, Mano fala sobre o trunfo das arquibancadas:
— Nesses jogos grandes, a torcida sabe que tem uma parcela importante no que podemos conquistar.