O Inter servirá de palco do reencontro entre Mário Fernandes e Mano Menezes. Anunciado como o primeiro reforço colorado para a temporada 2023, o lateral-direito voltará a ficar frente a frente com o treinador, em cena que deveria ter acontecido há mais de uma década, em Belém, do Pará. Porém, na ocasião, o atleta decidiu rejeitar a convocação do comandante e não se apresentou à Seleção Brasileira, em episódio que jamais foi repetido desde então.
O ano era 2011. Mano estava à frente da equipe nacional e chamou para a reedição do Superclássico das Américas, contra a Argentina, somente atletas que atuavam em clubes do Brasil. Entre eles, o jovem lateral gremista, que estava prestes a completar 21 anos de idade.
No primeiro confronto, em 14 de setembro, assistiu do banco de reservas do Estádio Mário Kempes, em Córdoba, um chato empate em 0 a 0 que teve como destaque a "lambreta" do centroavante colorado Leandro Damião sobre o argentino Emiliano Papa. Naquela noite, Mário foi um mero coadjuvante de um time que tinha Ronaldinho e Neymar, além de Danilo, então no Santos, como titular da lateral direita. Cenário bem diferente de duas semanas depois, quando o camisa 2 gremista ganhou as manchetes mundiais por não comparecer no duelo de volta contra os "hermanos", no Mangueirão.
— Ele não vai mais, não quer ir, é uma decisão pessoal. Ele quer ficar focado no Grêmio. Não acha um bom momento para ele, não é nada contra a Seleção — declarou o empresário Jorge Machado à reportagem na época.
Conforme relatou Zero Hora em 27 de setembro de 2011, "Mário confidenciou a amigos que não havia se sentido totalmente à vontade no ambiente da Seleção", tendo como pior momento o "discurso improvisado que todo novato precisa fazer na frente dos demais jogadores". A reportagem trazia a informação de que o atleta havia feito festa na madrugada anterior no bairro Cidade Baixa, na capital gaúcha, e não foi encontrado em sua casa na manhã seguinte, quando seria levado ao aeroporto Salgado Filho.
— Não sou intransigente, mas em qualquer lugar do mundo existem regras. E nós vamos cumpri-las em respeito àqueles que também, em determinados momentos, estavam com algum desconforto, sentindo dores ou, até mesmo, um cansaço a mais, e estão na Seleção. Isto precisa ficar claro e assim que me posicionei em relação ao acontecido — declarou o treinador em entrevista coletiva na época, logo depois de confirmar que não chamaria ninguém para repor a ausência do lateral.
Sem Mário Fernandes sequer no banco de reservas, o Brasil venceu a Argentina por 2 a 0, com gols de Lucas Moura, então no São Paulo, e Neymar, do Santos. Ronaldinho, que atuava no Flamengo, foi o responsável por erguer a taça.
Em setembro de 2014, quando já estava no CSKA Moscou, da Rússia, o lateral voltaria a ser convocado para um novo amistoso contra a Argentina, desta vez por Dunga.
— Mário Fernandes teve esse episódio há um tempo atrás, ele era um jogador jovem, é jovem ainda. Mas todos nós temos uma segunda oportunidade, não podemos crucificar pelos erros do passado. Principalmente, se tratando de jogadores jovens, que saem muito cedo de casa, não têm acompanhamento de pai e mãe, tem acompanhamento de outras pessoas que muitas vezes não dão o conselho ideal. Temos que ter a sensibilidade de observar isso. Ele já está há mais de três anos no futebol russo e tem jogado bem — comentou o capitão do Tetra na ocasião.
Aos 32 anos de idade, o lateral está de volta a Porto Alegre. Com a experiência de uma década de futebol europeu e de ter disputado a Copa do Mundo de 2018, após ter se naturalizado russo, o jogador irá se reconectar com uma história de seu próprio passado.