Passados 70 dias da da acusação feita por Edenilson de injúria racial por parte de Rafael Ramos no empate entre Inter e Corinthians, no Beira-Rio, pelo Brasileirão, o caso na esfera criminal só terá um novo capítulo na segunda semana de agosto. Para esta data está marcada uma audiência de conciliação que será determinante para o Ministério Público (MP) oferecer ou não a denúncia contra o jogador corintiano.
O inquérito do caso foi concluído pela Polícia Civil e enviado pelo delegado Roberto Sahagoff, titular da 2ª Delegacia de Polícia Civil de Porto Alegre, para o Ministério Público em 13 de junho. A tentativa de conciliação é comum nesse tipo de caso.
O MP tentou marcar em duas oportunidades, mas a audiência não pôde ser realizada por compromissos dos atletas. Ambas foram em datas próxima da viagem de Edenilson com a delegação do Inter para para o Chile para o confronto com Colo-Colo pela Sul-Americana.
As duas partes concordaram com audiência de conciliação para agosto, que poderá ser feita de forma virtual. A audiência é a última tentativa de acordo antes do MP oferecer denúncia contra Rafael Ramos.
De acordo com o apurado pela reportagem de GZH, Edenilson está disposto a aceitar encerrar o caso se Rafael Ramos admitir que cometeu a injúria. O jogador do Corinthians nega ter chamado o volante colorado de macaco. A defesa de Rafael Ramos entrou com pedido de habeas corpus contra o indiciamento, mas ações foram negadas.
O caso
As primeiras provas do inquérito foram colhidas ainda na noite de 14 de abril, quando Inter e Corinthians se enfrentaram pelo Brasileirão. Na ocasião, o jogador colorado alegou ter sido chamado de "macaco" pelo lateral-direito Rafael Ramos, do time paulista. No Beira-Rio, o delegado plantonista Carlo Butarelli ouviu os dois jogadores e decretou a prisão em flagrante de Ramos por injúria racial. O jogador foi liberado após o Corinthians pagar uma fiança no valor de R$ 10 mil.
A defesa da Rafael Ramos, no entanto, apresentou uma outra versão do que teria dito o jogador. De acordo com o advogado Fabiano Cerveira, em entrevista ao programa Sala de Domingo, da Rádio Gaúcha, um dia após o fato, o português fez um xingamento a Edenilson usando o termo “mano, caralho”.
Em 8 de junho, o IGP divulgou o laudo da perícia labial informando que não foi possível concluir o que Rafael Ramos disse para Edenilson. Em entrevista ao programa Hoje nos Esportes, da Rádio Gaúcha, naquele dia, a diretora do Departamento de Criminalística do Insituto-Geral de Perícias, Sheila Wendt, explicou por que a perícia não conseguiu apresentar uma conclusão.
— Para estabelecer algum resultado, a gente usa uma metodologia científica, que precisa ser testada e aprovada. Em várias áreas da perícia, temos metodologias consagradas. Qualquer análise tem que ser possível de ser repetida por outro perito, que chegará ao mesmo resultado. Neste caso, recebemos o pedido de leitura labial e procuramos tanto nacionalmente como internacionalmente se existia alguma metodologia, e não há. Então, se posicionar no sentido de tecer qualquer consideração sobre uma leitura labial, atualmente, é exploratório, é uma opinião. Pode ser baseado em algum conhecimento que a pessoa tenha, como um surdo-mudo, mas não é prova científica — declarou a diretora do IGP, sobre o laudo solicitado pela Polícia Civil, baseado nas imagens da partida.
Antes do parecer do Instituto-Geral de Perícias, outros especialistas em leitura labial já haviam se posicionado sobre o tema. Contratados pelo jogador corintiano, dois profissionais do Centro de Perícias Curitiba afirmaram que a palavra macaco não havia sido utilizada durante a discussão.
A defesa de Edenilson também contratou um perícia que confirmou o uso da palavra macaco. O documento, ao qual a reportagem de GZH teve acesso, diverge das apresentadas pelo corintiano, que apontam que não houve injúria racial, e da perícia oficial do Instituto-Geral de Perícias (IGP), que alegou não ser possível constatar o que foi dito pelo defensor português.
O relatório da perícia, assinado pelos peritos Roberto Carlos Meza Niella e Silvio Tavares Ferreira, apresenta uma análise de leitura labial das imagens do jogo e uma comparação com os fonemas pronunciados por Rafael Ramos em depoimento concedido ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Além disso, os peritos apresentam um vídeo com diversos falantes portugueses pronunciando a palavra "macaco", sustentando que a articulação vocal seria a mesma feita pelo lateral na partida.