Quando pisar na Arena da Baixada, o Inter terá a seu favor dois profissionais que conhecem todos os meandros do adversário. Não apenas os detalhes do modelo de jogo, mas da gestão que, há quase uma década, fez o Athletico-PR ser catapultado de mera potência estadual a um dos protagonistas do continente.
Apesar do reencontro agendado para este sábado (16), é óbvio que as contratações de Paulo Autuori e William Thomas pelo Colorado, como diretor técnico e diretor-executivo, respectivamente, não tiveram como finalidade o confronto com os paranaenses, pela 17ª rodada do Brasileirão. Mas é inegável a referência direta no projeto implantado pela dupla no clube paranaense que, em 2018 e 2021, conquistou o bicampeonato da Copa Sul-Americana — não casualmente, o grande objetivo colorado neste ano.
— Eles já tinham passado pelo Athletico-PR e conseguiram o título nesse ciclo. O Autuori era sempre o suporte do comandante, seja para o António Oliveira como para o Alberto Valentim, que comandou o time na final. Já o William (Thomas) conseguiu trazer peças pontuais com um orçamento bem baixo se comparado ao desse ano, montando o time que foi campeão e chegou à final da Copa do Brasil (perdeu para o Atlético-MG). Então, dá para dizer que o Autuori teve influência na formação tática do time e o Thomas deu suporte para que isso fosse colocado em prática. Tiveram uma porcentagem muito grande na conquista — comenta a jornalista Monique Vilela, que cobre o dia a dia do clube paranaense em seu canal.
Thomas foi o primeiro a chegar a Curitiba. Formado em Educação Física pelo Centro Universitário Metodista (IPA), em Porto Alegre, buscou especializações na área diretiva em Portugal e Espanha. Assim, exerceu a função de diretor técnico atleticano entre 2013 e 2018.
Inclusive, é apontado como um dos mentores do modelo de jogo adotado pelo clube, além de ter participado da implementação do Departamento de Inteligência do Futebol (DIF), responsável pelo monitoramento do mercado e análise de desempenho de atletas.
Um dos projetos postos em prática foi a utilização de um time B durante o campeonato estadual, tendo como modelo o Real Madrid Castilla, que ajudou a lançar jogadores jovens, como Bruno Guimarães e Rony, campeões da Copa Sul-Americana de 2018 e da Copa do Brasil de 2019, sobre o próprio Inter.
Depois disso, prestou consultoria ao Atlético Nacional de Medellín, que tinha Autuori como treinador, e posteriormente ainda seria indicado por ele para substituí-lo como superintendente do Santos. Por fim, a parceria seria repetida outra vez no Athletico-PR a partir de 2020, quando Thomas retornou à Arena da Baixada, ocupando o cargo de gerente executivo.
— Já tive cinco oportunidades de trabalhar com o Paulo. Ele é um dos poucos profissionais no futebol brasileiro que tem a capacidade nos dois pilares, técnico e humano, de causar impacto no ambiente e nas instituições e, principalmente, de inspirar pessoas. Tenho certeza que vamos conseguir buscar os resultados que já conseguimos em outras instituições. Posso dizerque é um orgulho estar de novo ao lado do Paulo. E ao lado mesmo, porque nossa atuação é complementar — destacou ele, em sua apresentação no CT Parque Gigante.
A primeira passagem de Autuori pelo Furacão iniciou em meio a 2016, mas como treinador. Já consagrado por títulos brasileiro (com o Botafogo, em 1995), continental (Cruzeiro, em 1997, e São Paulo, em 2005) e mundial (São Paulo, em 2005), conduziu o time paranaense a uma vaga para a Libertadores do ano seguinte. Porém, em 2017, deixou o comando da equipe para assumir como manager.
— Comecei (como diretor) em 2017, a convite do presidente do Athletico-PR. Embora, em 2016, de setembro a dezembro, eu já tivesse trabalhado nisso, mas naquela altura eu também era técnico. E foi um pedido para que fizéssemos isso, apenas não formalizamos porque seria algo para experimentarmos. E deu certo. Em 2017, passei a trabalhar nesta função, que acho extremamente importante e espero que em um futuro próximo os clubes aqui no Brasil tenham nesta função alguém que tenha vivido como ex-jogador ou ex-treinador o vestiário, o treino e o jogo de forma intensa — comentou o próprio Autuori em entrevista ao podcast Ponto Futuro.
Reconhecido pela personalidade forte, chegou a pedir desligamento na metade da temporada de 2017 por não concordar com a demissão do técnico Eduardo Baptista. Porém, uma semana depois, retomou o cargo, onde permaneceu até dezembro.
Por fim, ainda voltaria ao clube em outubro de 2020, como diretor técnico, saindo somente em fevereiro deste ano.
Em abril, a dupla se refez em Porto Alegre. Agora, sob o distintivo colorado, volta à Arena da Baixada, lugar onde a parceria alcançou o ápice. Desta vez, como rivais do Athletico-PR.