Para o bem do restante da temporada, é bom que o Inter tenha aprendido as lições dadas pelas saídas anteriores de D'Alessandro. A aposentadoria como jogador foi a terceira — e última — vez que deu adeus aos colorados. E nas duas anteriores, houve problemas sem ele. Para 2022, o desafio é evitar a repetição.
D'Alessandro saiu do Inter pela primeira vez em 2016. Após a Recopa Gaúcha, ele informou que havia recebido (e aceitado) uma oferta do River Plate para retornar ao clube que o lançara. Saiu para um empréstimo que duraria todo aquele ano. Coincidência ou não, o Colorado terminou a temporada rebaixado, na primeira queda de sua história.
Quem viveu de perto essa situação toda foi o técnico Argel Fuchs. Melhor do que qualquer outro, ele sabe a diferença que faz ter D'Alessandro a seu lado. Eles trabalharam juntos em 2015 e o atual treinador do Alverca-POR sofreu sem o camisa 10 em 2016.
— D'Alessandro me ajudou muito. Ele é um líder, um exemplo. Chegava uma hora antes de todo mundo. Tinha autoridade e status para cobrar os companheiros, mas também negociar premiações, explicar situações, entre outros. Sem contar que odiava perder, né? Vimos isso no domingo — comentou Argel, que afirmou manter diálogos com seu capitão até hoje.
Segundo ele, a saída de D'Alessandro pesou não só enquanto homem forte do vestiário, mas também em campo. O time perdeu criatividade e força no meio, e não houve reposição. Andrigo foi a aposta como substituto, e até funcionou no Gauchão.
— Mas o Brasileirão é diferente. Campeonato mais longo, duro. Não dá para jogar com pouca gente. Precisava reposição e não veio. Mas posso dizer: com ele, teria sido diferente — completa Argel.
A outra saída de D'Alessandro foi em 2020. No final de dezembro, ele deixou o Inter e acabou transferido, posteriormente, ao Nacional-URU. Em razão da pandemia, aquele não era o final da temporada. Sem ele, o Inter continuou bem sob comando de Abel Braga, mas faltou um pequeno detalhe para ser campeão brasileiro. O título escapou porque, entre outras coisas, a equipe não venceu o Corinthians na última rodada.
O ano seguinte, porém, mostrou ter faltado liderança. O time não foi campeão gaúcho, caiu nas oitavas da Libertadores e na terceira da Copa do Brasil e viveu um gráfico de eltrocardiograma no Brasileirão, que teve o alto na vitória sobre o Grêmio mas o baixo de ter ficado fora da Libertadores 2022. Sua vaga tanto como de 10 quanto de líder do grupo foi ocupada por Taison, mas é consenso de que apenas isso não foi suficiente.
Por mais que também não tenha vencido o Gauchão de 2022, D'Alessandro deixou clara sua importância na partida de despedida. Foi iniciativa sua a indignação que virou o gol de empate pouco antes do intervalo diante do Fortaleza. Esse espírito e essa qualidade ainda não encontraram substituto no Beira-Rio. Inclusive com a carga emocional. Ontem, 24 horas depois da despedida, o jogador ainda mandou um recado no Twitter ao clube:
— Um sonho que sonhamos e vivemos juntos. Gratidão eterna! Obrigado, Inter.
O novo treinador colorado já sabe que terá essa missão para seu trabalho a partir dos próximos dias.