A vitória no Gre-Nal 435 deixou uma imagem que simbolizou para o ambiente externo a boa relação entre jogadores do Inter e o técnico Alexander Medina. O fato de os atletas terem procurado o uruguaio na comemoração logo após o apito final do árbitro Leandro Vuaden foi vista como um sinal de apoio ao treinador que chegou ao clássico com o cargo ameaçado depois da vexatória eliminação na Copa do Brasil para o Globo-RN.
Bater o maior rival com uma atuação convincente tirou do Beira-Rio, pelo menos momentaneamente, a pressão em cima da comissão técnica, algo que os jogadores sentiam a responsabilidade de colaborar. Cacique Medina completou, nesta sexta-feira (11), dois meses de trabalho no CT Parque Gigante.
Neste período, o treinador construiu com o grupo uma relação de compromisso nos treinamentos que as principais lideranças viam como desperdício ser cortada precocemente. O risco era real após a queda na Copa do Brasil e seguiu forte nos bastidores do clube até a vitória com bom futebol no Gre-Nal.
— Quando o treinador é capaz, entrega trabalho, é gente boa, chega cedo, vai embora tarde, o grupo aceita essa condição e quer que o treinador fique. Fazemos os treinamentos em dois períodos, tentamos absorver uma ideia que não tem nem dois meses ainda, mas vemos que pode melhorar — afirmou D'Alessandro um dia após o Gre-Nal em entrevista ao SporTV.
A declaração pública do argentino vai ao encontro das informações sobre o ambiente interno no Beira-Rio. É verdade que a alta intensidade dos treinamentos de Medina exigiu bastante dos jogadores desde o início da pré-temporada. Alguns chegaram a relatar dificuldade na realização das tarefas, mas isso não chegou a gerar um atrito com os integrantes da comissão técnica.
Se a exigência física gerou dificuldades, os trabalhos técnicos e táticos foram fundamentais para o elenco se aproximar do técnico. Ele é elogiado pela qualidade das tarefas e também pela capacidade que demonstra para explicar o que busca em cada atividade.
Esse entendimento contribuiu para a decisão dos jogadores de chamarem uma coletiva na sexta-feira (4) da semana passada, após a eliminação na Copa do Brasil. O grupo decidiu ainda na viagem do Rio Grande do Norte de volta a Porto Alegre pela manifestação e o critério de escolhas dos atletas. Falaram ali o zagueiro Victor Cuesta, o volante Gabriel e o meia Mauricio.
— Estamos aqui para assumir a responsabilidade, sobretudo eu que estou há bastante tempo no Inter. O Gabriel mal chegou e o Mauricio é um guri com um futuro enorme. A responsabilidade é nossa, não tem que responsabilizar treinador, dirigente, nada. A responsabilidade é nossa e temos que trabalhar mais forte ainda para recuperar. O trabalho tem sido bem feito no dia a dia. O treinador nos dá as ferramentas e não estamos sabendo executar dentro de campo — disse Cuesta.
Essa coletiva dos jogadores aconteceu antes da reunião de mais de seis horas do Conselho de Gestão na última sexta-feira, que foi seguida por conversas em separado do presidente Alessandro Barcellos e dos homens do futebol com Cacique Medina e Paulo Bracks, que acabou demitido naquele dia. No Inter desde o começo de 2021, o executivo não chegava a ter uma má relação com os jogadores, mas havia, principalmente entre os mais experientes, uma desconfiança com o seu trabalho. Essa saída foi vista por quem acompanha o vestiário como algo que ajudou a distensionar o ambiente e que foi seguida por novas reuniões.
No sábado, véspera da partida contra o Aimoré, a última do Gre-Nal, houve uma conversa dos dirigentes com jogadores e comissão técnica em tom de cobrança. Depois, Medina fez uma segunda reunião apenas com seus atletas. Ali, o uruguaio se sentiu apoiado para dar sequência ao trabalho.
— Passamos dias muito duros, mas também existe uma avaliação do trabalho que vinha sendo feito. Eu penso que há um convencimento. Se os jogadores não estivessem convencidos, eu seria o primeiro a ir embora. Mas os jogadores estão convencidos do trabalho. Acontece que no futebol é preciso também ter paciência — declarou Medina depois do Gre-Nal.
Nos últimos dias também teve mudanças em algumas ideias de Medina. Um exemplo está na escalação do Gre-Nal, que teve na quarta-feira três diferenças em relação ao time que iniciaria em 2 de fevereiro. Kaique Rocha, Liziero e Mauricio foram as novidades nos lugares de Dourado, Bruno Méndez e Wesley Moraes.
A vitória no clássico veio e ajudou a distensionar o ambiente. O Inter, agora, tem a missão de obter uma sequência de bons resultados para a pressão não voltar porque, mesmo com boa relação com os jogadores, Cacique Medina é mais um treinador que depende de vitórias para ter vida longa no futebol brasileiro.