Revelado em um momento turbulento do Inter, durante a disputa da Série B, o meia Juan Alano não conseguiu ter uma sequência com a camisa colorada. No início de 2020, depois de ser emprestado para o Coritiba, acabou vendido ao Kashima Antlers, do Japão. Naquele momento, o negócio foi bom para o clube gaúcho, que arrecadou 1,5 milhão de euros (cerca de R$ 6,7 milhões pela cotação da época) e quitou parcelas atrasadas das compras de Edenilson, Nico López e Cuesta. Para o jovem atleta, foi a perspectiva de atuar no Exterior.
Um ano depois, o jogador de 24 anos se prepara para iniciar sua segunda temporada no futebol japonês. E, em um bate-papo com GZH, fala sobre a amizade construída com Leandro Damião, seu adversário na Ásia, o convívio com Zico, que atua como diretor técnico no clube japonês, e a saída do Beira-Rio:
— Vi muitos jogadores que eram emprestados, faziam bons campeonatos, mas nunca voltavam para o Inter. Então, eu tinha essa ideia de que seria difícil eu ser emprestado e voltar para jogar — comentou ele.
Como está a vida por aí? É uma cultura totalmente diferente. O que achou mais complicado para se adaptar?
Acho que o mais complicado foi a velocidade do jogo. O futebol japonês tem outra dinâmica, os jogadores japoneses são muito rápidos. Então, demanda um tempo para você se adaptar. A cultura do país é totalmente diferente também. É um país do outro lado do mundo, demora um tempo para você se adaptar, mas acho que o mais complicado foi dentro de campo: a comunicação e a dinâmica de jogo. Demorei um pouco, mas, depois da metade do campeonato, no segundo turno, consegui me adaptar e terminar bem o ano.
Tem muitos brasileiros no seu clube. O técnico é o Antônio Carlos Zago, ex-Inter. Isso ajuda no dia a dia?
Ah, sem dúvidas. Ano passado, era eu, o Léo Silva (zagueiro), que está há nove anos no futebol japonês, e o Everaldo (ex-Grêmio) que chegou junto comigo. Agora vão chegar o Pituca (ex-Santos) e o Arthur Caíke (ex-Bahia). Então, com jogadores e comissão técnica brasileira, isso ajuda bastante na comunicação e na ideia de jogo. Facilita. A gente se dá muito bem e, com a chegada deles, garanto que a adaptação será mais fácil tendo nós por aqui. E para nós é sempre bom ter mais brasileiros.
O Zico foi responsável por abrir as portas para o futebol brasileiro aí no Japão. Hoje, inclusive, ele é o diretor técnico do Kashima Antlers. Como é conviver com ele diariamente? Recebe algumas dicas dentro de campo também?
A gente sabe que o Kashima tem este histórico de sempre ter jogadores brasileiros. O Zico é um grande ídolo não só aqui no clube, mas no Japão todo. E ele dá muitas dicas, ajuda bastante. É um cara gente fina. Na hora de brincar, ele brinca. No que pode ajudar, ele nos ajuda. Então, é um cara muito importante na nossa adaptação. Não tenho nem palavras para dizer quem é o Zico. Um cara respeitado em todo o mundo e, para mim, é um privilégio muito grande. Fico muito feliz de poder trabalhar com ele e ainda poder seguir algumas dicas que ele dá.
O Leandro Damião, seu ex-companheiro de Inter, também está aí no Japão, mas jogando pelo Kawasaki Frontale, que foi campeão nacional na última temporada. Você mantém contato com ele ainda?
Pude trabalhar com o Leandro Damião na época do Inter. Aqui a gente manteve o contato sempre. Um cara super gente boa. Já pude visitar ele e a família dele aqui no Japão. Nos jogos, a gente conversa. Na verdade, vários times aqui tem jogadores brasileiros e normalmente a gente se dá bem porque está todo mundo longe. Mas o que tenho mais contato é o Damião mesmo. Fico muito feliz por ele estar indo bem no time dele e por ter esse contato, que é muito importante. Quando eu vim para o Japão, o primeiro atleta que fui conversar foi ele, que me falou muito bem daqui e me ajudou bastante.
Eu vi muitos jogadores que eram emprestados, faziam bons campeonatos, mas nunca voltavam para o Inter
JUAN ALANO
meia do Kashima Antlers
Você foi um dos destaques do Coritiba, na Série B, em 2019, jogando um pouco mais recuado no meio-campo. Segue atuando na mesma função?
Lá no Coritiba eu fiz, basicamente, a função que fazia quando o treinador era o Odair (Hellmann). Eu entrava como um segundo volante, onde o Edenilson joga. Então, eu tinha uma ideia muito boa desta função, me sinto muito bem jogando ali. No Coritiba, eu tive a sequência que eu sempre busquei. E, com a sequência, você vai pegando confiança, mostrando seu potencial e foi o que aconteceu. O Kashima me comprou, mas aqui estou jogando como extrema. Mas o Zago me dá muita liberdade para flutuar pelo meio, que é onde eu gosto de jogar. Então, venho me adaptando a isso e, neste ano, vou seguir nesta função.
Após o empréstimo para o Coritiba, você pensou que seria reutilizado pelo Inter em 2020?Quando eu fui emprestado, eu fui pensando só na minha carreira, em como era importante eu ter essa sequência que não tive no Inter. E, como eu sou da base do Inter, eu vi muitos jogadores que eram emprestados, faziam bons campeonatos, mas nunca voltavam para o Inter. Então, eu tinha essa ideia de que seria difícil eu ser emprestado e voltar para jogar. Fui convicto de que faria um ótimo campeonato e, se voltasse, tudo bem. Mas, se tivesse outros caminhos, como aconteceu, tudo bem também. Confio muito no que Deus coloca no nosso caminho e estou muito feliz de ter vindo para cá. Como eu sou novo, profissionalmente, foi muito bom para mim.
Quais são seus planos para a carreira? Pretende continuar no futebol asiático ou pensa em voltar ao Brasil?
Acho que é muito cedo. Claro que a gente pensa na carreira, mas como é meu segundo ano, só penso em ficar no Japão. É um país muito bom, um clube muito bom e eu gosto muito daqui. Então, não penso em voltar agora para o Brasil. Estou muito focado no Kashima, quero ser campeão. A gente sabe que tem condições e só penso nisso.