
Quando entrar no gramado do estádio Beira-Rio no próximo domingo, Victor Cuesta alcançará alcançará um feito simbólico no Inter. No clube gaúcho desde março de 2017, quando chegou para reforçar o grupo para a disputa da Série B, o zagueiro de 32 anos completará 200 jogos com a camisa colorada.
Da estreia contra o Ypiranga, em que foi escalado como lateral-esquerdo pelo então técnico Antônio Carlos Zago no 1 a 1 pelo Gauchão, até o confronto deste fim de semana com o Bragantino, uma das seis "finais" que o time terá na luta pelo tetracampeonato brasileiro, o argentino tornou-se um dos pilares das reconstrução colorada.
No atual grupo de jogadores, apenas Rodrigo Dourado (240) terá mais partidas do que Cuesta, que igualará o número de participações de seu companheiro de defesa Rodrigo Moledo, afastado por lesão no joelho direito.
A marca chega em um bom momento do zagueiro, que recuperou o bom nível das atuações depois de altos e baixos na temporada. Alvo de críticas de torcedores, Cuesta manteve a titularidade mesmo nos piores momentos. O próprio jogador, em entrevista coletiva há duas semanas, admitiu que estava devendo em campo:
— Abel sabe o tipo de jogador que eu sou. Estava vivendo uma fase ruim dentro de campo. Sempre procurei trabalhar em silêncio e com humildade. Sou autocrítico. Os erros que tive foram tomadas de decisões minhas, por erro meu. Não foi culpa de companheiro ou do sistema defensivo.
Para quem jogou na mesma posição de Cuesta, porém, há explicações táticas para a melhora do desempenho. Para Bolívar, bicampeão da Libertadores pelo clube e hoje treinador, o sistema utilizado pelo técnico Eduardo Coudet — com linhas mais altas de marcação — pode ter prejudicado o camisa 15 do colorado.
— A atual forma de jogar imposta pelo Abel impede que o sistema defensivo fique tão exposto. Quando se joga com linhas muito altas, acaba ficando mais aberto para uma transição rápida do adversário. A entrada do Dourado também foi fundamental para isso, ele protege a defesa — avalia.
O número de 200 jogos em quatro temporadas chama a atenção, mas há explicações para sua assiduidade em campo. Mesmo exposta muitas vezes a duelos com atacantes, Cuesta não é considerado um zagueiro violento e indisciplinado, por isso acumula poucas suspensões (por cartões amarelo ou vermelho) no decorres das competições.
Outra característica a destacar é que Cuesta pouco sofre com lesões ou mesmo desgaste físico. Mesmo quando os técnicos optam por preservas titulares, o argentino é geralmente escalado. Na atual temporada, por exemplo, ele atuou em 52 dos 62 jogos do Inter.
Nesta reta decisiva do Brasileirão, Cuesta também tem contribuído com o ataque colorado. Na goleada sobre o São Paulo, em que o Inter reassumiu a liderança do campeonato, o zagueiro abriu o placar no histórico 5 a 1. Na virada sobre o Grêmio que decretou o fim da invencibilidade de 11 jogos do rival em Gre-Nais, o argentino fez o cruzamento para Abel Hernández empatar a partida.
— É um jogador com confiança, competência, e principalmente qualidade, por isso está no Inter. Além disso, precisa ter uma parceria boa, ter um jogador ao lado é muito importante, o Moledo também passava muita tranquilidade e agora o Lucas Ribeiro que tem ido bem. Ele tem uma liderança grande, mesmo sendo estrangeiro. Acredito que ele conseguiu esses números pela personalidade, técnica, qualidade e também pelo grupo de jogadores que atua do lado dele — ressalta Pinga, ex-zagueiro do Inter e campeão da Copa do Brasil em 1992.
Vice-presidente de futebol, João Patrício Herrmann enumera outras virtudes do zagueiro, que contrato com o Inter até 30 de junho de 2022:
— Cuesta é um atleta extremamente importante e muito identificado. Sempre muito dedicado no dia a dia e nos jogos e que merece alcançar essa marca relevante pelo clube.
Da Argentina a Porto Alegre
O zagueiro desembarcou em Porto Alegre em março de 2017, depois de ter se destacado pelo Independiente, de Avellaneda. O Inter desembolsou US$ 2 milhões (R$ 6,2 milhões na cotação da época) por 50% dos seus direitos econômicos. O jogador chegou ao clube com o cartaz de ter sido capitão da seleção argentina nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, e de ter atuado ao lado de Messi na Copa América do mesmo ano, em marcou um gol na vitória sobre a Bolívia por 3 a 0.
Formado nas categorias de base do Arsenal de Sarandí, Cuesta despontou no futebol profissional no Defensa y Justicia, na temporada 2009/2010. Ele voltaria ao Arsenal em 2012, participando da conquista do Torneio Clausura em 2012, até então sua única conquista na carreira.
Em termos de conquistas (ou falta delas), aliás, Cuesta viveu situações inusitadas na Argentina por dois clubes diferentes. Em 2013, o zagueiro deixou o Arsenal no meio do ano, e o clube acabou conquistando o título da Copa Argentina. A mesma situação ocorreu na temporada seguinte, quando defendia o Huracán. Mais uma vez, saiu em meio à temporada e o seu time acabou campeão da Copa Argentina.
Desde que chegou ao futebol brasileiro, o argentino se tornou uma das referências do Inter e também da posição. Em 2018, ano em que o Inter foi terceiro colocado no Brasileirão, recebeu dois prêmios individuais: o troféu de melhor zagueiro do Brasileirão e a Bola de Prata, da Revista Placar, de melhor defensor pelo lado esquerdo. Agora, com o Colorado na liderança a seis rodadas do fim do campeonato, tem a possibilidade de conquistar seu primeiro título no Beira-Rio.
Cuesta na temporada 20/21
- 52 jogos
- 4541 minutos
- 1 gol marcado
- 15 cartões amarelos
- 1 cartão vermelho
Números de Víctor Cuesta pelo Inter
- 199 jogos
- 8 gols
- 6 assistências
- 61 cartões amarelos
- 2 expulsões (Chapecoense e Grêmio)