Foram mais de seis meses de silêncio do Inter com relação à lesão de Rodrigo Dourado. O corpo médico do clube foi autorizado pela direção a falar sobre a lesão do volante somente nesse sábado (11). E apenas porque as redes sociais passaram a suscitar que o ex-capitão colorado não voltaria ao futebol, uma vez que, após a reapresentação do elenco para 2020, Dourado seguiu sem perspectiva de retorno.
O silêncio oficial foi quebrado pelo médico Carlos Poisl que, enfim, a ele foi permitido detalhar a lesão no joelho esquerdo do camisa 13, e projetar o futuro do jogador aos gramados. Será para depois do Gauchão, mas o retorno, ao menos agora, está previsto. É estimado para abril, possivelmente para as finais do Gauchão ou, devido à intensidade da competição em sua fase decisiva, Dourado poderá ser guardado para o começo do Brasileirão.
Já se vão 187 dias desde que Dourado foi visto pela última vez vestindo chuteiras e a braçadeira de capitão do Inter. Poisl detalhou a lesão e o processo que ainda deixa o volante fora de ação.
Em 9 de abril, Rodrigo Dourado deixou o complicado jogo com o Palestino (vitória colorada por 3 a 2), no Beira-Rio, aos 25 minutos, devido a dores no joelho esquerdo. Foi reavaliado após o jogo, mas nenhuma lesão mais grave havia sido diagnosticada.
Passou a fazer um tratamento conservador, com fisioterapia, até que em 17 de maio realizou a primeira artroscopia no joelho, pois os médicos precisavam investigar melhor os motivos de as dores não cessarem.
Na metade de junho, ele foi reintegrado. Na intertemporada de Atibaia, estava treinando normalmente com o grupo, e voltou a jogar em 10 de julho, quando o Inter perdeu o jogo de ida das quartas da Copa do Brasil para o Palmeiras — classificando-se mais tarde, em casa.
— Ele atuou contra o Palmeiras, jogou 90 minutos, mas se sentiu inseguro e relatou que estava perdendo rendimento — disse Poisl. — Fizemos, então, uma nova ressonância, que mostrou um edema ósseo no fêmur e na tíbia. Voltamos o tratamento do zero. Ele passou por todos os processos. Muito próximo de setembro, fizemos uma outra ressonância e o edema não melhorou. A partir disso, fizemos uma nova artroscopia (a segunda) para limpar o joelho do jogador. O processo de recuperação era demorado. Foram dois meses de muleta, sem por o pé no chão — acrescentou o médico.
Mesmo com esse segundo procedimento, as dores demoraram a sumir. Dourado seguiu sendo submetido a tediosas sessões de fisioterapia, na academia do CT Parque Gigante. Dificilmente era visto em campo — mesmo que para caminhadas ou leves corridas. Nesse período, chegou a ser cogitado pela direção antecipar a renovação de contrato do jogador — que se encerrará ao final de 2020 —, mas o volante se recusou a tratar do tema no momento, uma vez que primeiro deseja voltar a jogar.
— Não é um cenário ideal, mas animador — prosseguiu Poisl. — Esse edema de tíbia sumiu. Resta ainda uma coisinha no fêmur, o que nós até já esperávamos. Mas já está melhor, não está com dor. Fizemos um teste de avaliação (na reapresentação do elenco para 2020) a fim de verificar o equilíbrio da musculatura, e obtivemos bons resultados. Mas um atleta que jogou só em julho, e que passou dois meses e meio de muletas, não pode ser jogado aos leões agora. Teremos um processo lento de recuperação. O Dourado vai jogar, pedimos a paciência de todos. Esperamos que seja antes de abril o seu retorno. De 10 em 10 dias devemos fazer atualizações sobre a sua recuperação — finalizou Poisl.
Dedé, um caso análogo ao de Dourado
O duplo edema de Rodrigo Dourado, na tíbia e no fêmur do joelho esquerdo, não chega a ser algo raro. Mas, na recente história da elite nacional, encontra alguma semelhança apenas com o zagueiro Dedé, do Cruzeiro — ainda que o caso deste seja mais grave. Em 2014, Dedé sofreu ruptura de ligamentos no joelho direito, voltando a jogar somente em 2016. Retornou em março de 2017, porém, passou a conviver com dores.
O joelho esquerdo pediu socorro. Devido a tantas compensações para buscar o equilíbrio, o zagueiro forçou demais o lado esquerdo, e acabou sofrendo com um edema de tíbia e fêmur — assim como Dourado. Foram quatro meses de reabilitação para voltar conseguir aos gramados. Retornou jogando em alto nível, conquistou a Copa do Brasil, o Mineiro, foi convocado para jogos da Seleção, e chegou a ser lembrado por Tite para a lista de espera para a Copa do Mundo da Rússia.
— Dedé voltou muito bem em 2018. Embora tenha começado o ano como reserva, até pela recente recuperação, foi colocado por Mano Menezes entre os titulares na final do Campeonato Mineiro. E fez um excelente jogo no Mineirão, ajudando a equipe a vencer por 2 a 0 e a ser campeã. Tudo voltou ao normal para Dedé, que sempre foi um atleta de muito vigor físico e excelente na bola aérea. Ele corria, saltava e dividia sem o menor problema. Claro que o departamento médico do Cruzeiro, quando achava necessário, recomendava descanso ao zagueiro. Ainda assim, Dedé esteve em campo pelo Cruzeiro 45 vezes em 2018 e outras 45 em 2019. Números positivos levando em consideração que chegou a ser poupado ao lado de outros titulares em razão de prioridades aos torneios de mata-mata — recordou Rafael Arruda, setorista de Cruzeiro no portal Superesportes.
Sérgio Campolina foi o médico responsável pela recuperação de Dedé. Lembra que o tratamento foi conservador, sem a necessidade de cirurgia e que, muitas vezes, edemas demoram a desaparecer por completo.
— Fizemos um tratamento conservador com o Dedé e, ao voltar, ele fez 45 jogos, sendo 2018 o segundo ano da carreira com mais jogos disputados. Um edema ósseo pode levar até dois anos para desaparecer das imagens, mas, clinicamente, não significa esse tempo todo. Dedé voltou 100%, fez uma reabilitação de regeneração articular, com perda de peso e ganho de massa muscular. Aposto que Dourado voltará a jogar em alto nível também — afirmou Campolina.
Rodrigo Dourado deverá voltar ao futebol na reta final do Gauchão. Possivelmente como reserva, uma vez que Musto deverá ser o titular de Eduardo Coudet, com Rodrigo Lindoso como suplente. Dourado viverá uma situação nova no Beira-Rio: lutar por vaga no time.