
Vice-presidente jurídico do Inter entre janeiro e agosto de 2015, o advogado Marcelo Domingues de Freitas e Castro teria usado empresa em nome de laranja para receber R$ 300 mil do Inter enquanto ainda estava na gestão do clube. Isso é o que diz um relatório do Ministério Público, que investiga a gestão do ex-presidente Vitorio Piffero.
A fonte da receita de Castro seriam processos trabalhistas em que o Inter figurava como réu. Segundo a apuração, Castro e intermediários ofereciam acordos favoráveis aos reclamantes. Assim, o Inter saía prejudicado ao oferecer valores elevados logo no início da discussão. Em contrapartida, o reclamante, ao aceitar, tinha de fazer repasses a contas e empresas indicadas por Castro, que seria o beneficiário final, segundo o MP, o que indica a prática de lavagem de dinheiro. "Se beneficiou com parte dos valores repassados aos reclamantes", diz trecho de relatório do MP, citando "provas contundentes".
Um dos casos que teria beneficiado Castro foi o do zagueiro Danny Moraes. O advogado do atleta disse, em depoimento, defender mais de 500 jogadores em processos trabalhistas e que este foi o primeiro em que fez acordo logo de saída. No caso de Danny, o advogado afirma ter sido procurado por um homem chamado Henrique, que portava proposta de R$ 918 mil em favor do zagueiro. Do valor, o próprio jogador disse ao MP que R$ 138,7 mil (pagos em quatro cheques) tiveram de ser revertidos para uma pessoa, também chamada Henrique.
Foi apurado, posteriormente, que se trata de Henrique Gershenson. O valor, de acordo com o MP, teria sido depositado na conta da empresa Sirotsky Gershenson Consultores Associados Ltda., que, segundo a investigação, seria administrada por uma mulher de 90 anos, mãe de Henrique.
Ainda com base na investigação, Henrique aparece como sócio da empresa Satnit do Brasil Consultoria Empresarial Ltda., cujo quadro social é compartilhado com uma mulher de mais de 80 anos, mãe de Castro. O ex-vice jurídico atua como advogado nessa mesma empresa, diz o MP, mas usaria nomes de outras pessoas para ocultar o fato de ser o verdadeiro proprietário. As mães de Gershenson e Castro não estão sendo investigadas.
Outro processo trabalhista com benefício para Castro teria ocorrido em ação envolvendo o ex-centroavante Christian. A primeira parcela do acordo, diz o MP, foi direcionada inteiramente para o ex-dirigente. Em depoimento ao MP, o próprio Christian disse que R$ 70 mil foram para pessoas das relações de Castro.
O MP apontou que Castro usou a empresa de consultoria jurídica Argos do Brasil Consultoria para receber o total de R$ 300 mil no período em que esteve na gestão. A Argos está no nome de Gislaine Nunes Fagundes, também apontada pelo Ministério Público como laranja de Castro, que tem vínculos com essa empresa comprovados em processos judiciais em que ele atua. Gislaine, segundo a investigação, atua como advogada e poderia ter prestado serviço ao Inter.
Mas, questionado pelo MP, o clube alega que "não foi localizada qualquer espécie de relação contratual formal, tampouco qualquer pagamento, notas fiscais e/ou recibos". O Ministério Público comprova o vínculo da Argos com Marcelo Castro pelas "contínuas transações, quase mensais, ao longo dos anos 2014, 2015, 2016 e 2017". Sustenta que, apesar das operações bancárias, em momento algum o nome de Marcelo Castro figurou nos extratos das contas bancárias da Argos do Brasil Consultoria. De acordo com o MP e observado nas transações, o nome vinculado aos acordos era sempre o da mulher de Castro.
CONTRAPONTOS
O que diz o ex-vice jurídico do Inter Marcelo Castro:
"Estou tranquilo! Esta situação não é nova para mim. Há pouco mais de dois anos, o que motivou a minha saída da diretoria do clube foi condenação prolatada contra mim, veiculada pela imprensa, cuja sentença foi fulminada por 5x0 pelos ministros do Superior Tribunal de Justiça. Inexplicavelmente, esta decisão unânime a meu favor não obteve nenhuma divulgação. Agora, novamente recebo tranquilamente esta acusação na certeza que, ao cabo do processo, restará plenamente comprovada a improcedência dos fatos a mim imputados. Com relação à informação de que me vali de 'laranjas', tenho a informar que nada disto foi feito. A respeito de minha esposa, cumpre definitivamente esclarecer que todos os valores a ela depositados são lícitos, contabilizados e declarados junto aos órgãos competentes e sem qualquer relação com o Sport Club Internacional. Desconheço qualquer fato em desabono a meus ex-colegas de diretoria."
O que diz Henrique Gershenson, por meio de Marcelo Castro:
"Estou autorizado a falar em nome do sr. Henrique. Ele me disse que efetivamente agenciou o acordo trabalhista de Danny Moraes com seu procurador Leonardo La Porta Costa. Afirmou que ajustou com o procurador honorários de êxito para concretização do acordo, tendo recebido e passado recibo, e que o depósito dos honorários ocorreu na empresa SG, mas que poderia ter sido depositado, endossado , cedido , transferido , doado a quem lhe aprouvesse. Que trata-se de um negócio particular e que nunca teve nem tem qualquer vinculação ao Inter e que possui sólida e duradoura relação profissional, de amizade, familiar com o sr. Marcelo Castro por mais de 30 anos."
O que diz Gislaine Fagundes:
"Jamais me prestaria para ser 'laranja' de qualquer pessoa. Fui sócia da Argos e neste escopo desempenhei minhas atribuições, respeitando todos os ditames da legislação em vigor. Acredito na justiça pois nada tenho a temer."