
A crescente saudade que eu sinto das nossas grandes noites não tem me feito bem. Nesta quarta-feira, enquanto assistia à tragédia futebolística que foi o primeiro tempo de Cianorte e Inter, ouvir dois nomes da equipe adversária fazia meu coração bater acelerado, a respiração falhar. Tínhamos, contra nós, Montoya e Arroyo. Sempre que esses atletas eram nomeados pelo Pedro na transmissão da Rádio Gaúcha, a falta que eu sinto d'A Maior Competição da Via-Láctea me socava o estômago.
Montoya e Arroyo. Isso foi o mais perto que eu estive de uma Libertadores da América em anos.
É triste, eu sei. É quase patético. Durante a partida, as transmissões da rádio e da TV lembravam que o grande jogo da noite viria em seguida. Que o Flamengo encararia o Emelec fora de casa. Ah, o Emelec... tão doces lembranças... aquele primeiro jogo em 2010, estreia do Pato [Abbondanzieri, o arqueiro favorito de todos os tempos para este goleiro frustrado aqui] com a camisa 1... aquele gol do Nei, lá de longe... aquela virada já no finalzinho com o Alecsandro... o início daquela campanha tão linda que acabaria com...
Pênalti para o Inter.
Alguma coisa de interessante finalmente acontecia no gramado do Albino Turbay. E que gramado é esse? Agora olhando finalmente com atenção para a TV, ficava claro que havia algo de estranho com o césped paranaense. Parecia alto demais, parecia não cortado, parecia esquecido, parecia... parecia os canteiros de Porto Alegre! Há tanto deixados de lado pelos serviços municipais, os gramados da nossa cidade estão exatamente como os do campo do Cianorte: altos, tristes e estranhos.
D'Ale perdeu o pênalti, mas nada de ruim poderia nos acontecer. Era uma grande noite, havia um Montoya e um Arroyo contra nós, estávamos jogando em uma grama que nos era familiar (pelo menos para quem circula um pouquinho pela capital). Não haveria pênalti perdido que fosse nos fazer falta.
Em seguida, arrancada maravilhosa de Marcinho e gol do sempre esforçado Patrick. A confirmação da vitória trazia consigo outro elo entre a cidade do norte do Paraná e a metrópole mais ao sul do Brasil. Faltou luz no estádio. Escuridão e matagal. Agora sim estávamos emulando fielmente Porto Alegre. Para chegarmos à perfeição nesta sinédoque inesperada, faltava apenas uma meia dúzia de assaltos pelas arquibancadas.
Até o fechamento desse texto, não havia registro de crime ocorrido no Albino Turbay. Isso, pelo o que li, impede juridicamente o prefeito portoalegrense de poder processar os paranaenses por plágio completo. Falta de iluminação e mato alto até vá lá, mas copiar a violência daqui seria um pouco demais. Esse triplo combo segue sendo destaque apenas daqui mesmo.
Na segunda etapa, D'Ale ainda guardou mais um e voltamos a sonhar com a América. É sempre Libertadores quando o D'Alessandro comemora um gol. A felicidade desesperada que ele carrega no rosto, os repetidos gritos de "GOOOOL! GOOOOL!" tão bem articulados com os lábios que nós conseguimos ouvir até o sotaque argentino, os bracinhos balançando naquele sinal de garra, de dedicação, de celebração de alguma grande coisa. Não estávamos mais em uma terceira fase de Copa do Brasil, pois há uma conquista de continente em cada celebração do nosso capitão.
Quando o juiz apitou pela última vez ainda não eram dez horas da noite, esse sim horário de jogos grandes. Ainda não estamos disputando os maiores eventos da jornada. Mas, como bizarro consolo, havia um Montoya e um Arroyo derrotados, eliminados, com as camisas pisadas e rasgadas pelo Internacional e sua trupe com cara de gaúcho e pinta de gaúcho.
Essa saudade não tem me feito bem, mas...
Quem sabe a própria Copa do Brasil não nos reserve uma vaguinha no torneio que eu tanto sonho em disputar de novo?
Que venha o próximo adversário.