O 4-1-4-1 desembarcou no Beira-Rio junto com Guto Ferreira. Desde a estreia do treinador, no 1 a 1 com o Juventude, o esquema foi adotado. Na ocasião, com jogadores em posições diferentes das que ocupam agora (Pottker, por exemplo, atuou aberto pelo lado esquerdo). O posicionamento das linhas, porém, não se alterou.
No primeiro momento, em que o Inter conseguiu sair da difícil situação em que se encontrava, a definição de um sistema foi louvada como parte responsável pela recuperação da equipe. Agora, diante das atuações pouco convincentes das últimas semanas, há quem culpe uma suposta teimosia de Guto, que não parece disposto a mudar o esquema e firmar alternativas. GaúchaZH perguntou a comentaristas se o sistema do Inter está por trás dos problemas recentes da equipe.
É hora de mudar o esquema?
Os comentaristas ouvidos pela reportagem concordam que não está no sistema tático a origem dos defeitos. Ressaltam que o esquema em si não é tão relevante em uma análise. Lembram que, com o mesmo desenho, um time pode atuar de várias formas diferentes (mais adiantado ou recuado, com passe curto ou lançamentos longos).
— Todo mundo joga assim (no 4-1-4-1). Não é esse o problema. O Levir mudou o esquema do Santos, jogou com losango no meio-campo, perdeu e foi demitido. Acho que tem duas coisas no momento do Inter: mudança de comando e de elenco no decorrer da competição. Isso atrasa o trabalho. O Inter teve uma Série B inferior ao seu potencial — destaca Paulo Vinicius Coelho, o PVC, comentarista dos canais Fox Sports.
— O Guto trabalha com esse esquema há muito tempo. No Bahia, já trabalhou muito assim, e acho que conseguiu melhorar o Inter — completa Vitor Sergio Rodrigues, dos canais Esporte Interativo.
Leonardo Miranda, do blog Painel Tático, do Globoesporte.com, pondera que é válido apontar a falta de alternativas ao 4-1-4-1. Concorda, porém, que o questionamento em relação ao sistema é secundário:
— É uma crítica válida, mas talvez o foco seja equivocado. Criticar o esquema tático não é criticar a forma com que se joga. O esquema tático não determina isso. Pelo que eu vejo do Inter, está apresentando uma falta de consistência ofensiva. E isso pode ter origem em outras questões.
Camilo e o 4-1-4-1
O Camilo saiu do Botafogo exatamente por isso. Precisava atuar como extrema, já que o Montillo tinha sido contratado.
Leonardo Miranda
Blog Painel Tático, do Globoesporte.com
Um dos motivos para contestar o 4-1-4-1 é a dificuldade para encaixar Camilo no sistema. Quando atuou como titular junto com D'Alessandro, o meia foi deslocado para o lado esquerdo, cumprindo a função que normalmente cabe a Sasha.
— Você só corrige isso se jogar no 4-4-2, com dois meias e dois atacantes. Só que não tem ninguém jogando assim. Se você fizer um losango, vai jogar com Camilo atrás do D'Alessandro, que também não é a melhor função para ele. Para colocar os dois no time, a pergunta é: quem tem de ficar mais desconfortável? O Camilo ou o D'Alessandro? O D'Alessandro foi campeão da Libertadores em 2010 jogando aberto pela direita. Pode jogar ali, mas ele quer? Tem de ser um dos dois no sacrifício. A não ser que você adote um sistema no qual ninguém mais acredita — analisa PVC.
Miranda lembra que Camilo enfrentou problema parecido no Botafogo:
— O Camilo não cabe no 4-1-4-1. É um meia central clássico. Nesse caso, para colocá-lo, até poderia se justificar uma variação de sistema. Mudar com um jogador assim é mais fácil, trocando um volante por um meia mais centralizado. O Camilo saiu do Botafogo exatamente por isso. Precisava atuar como extrema, já que o Montillo tinha sido contratado.
A questão Pottker
Quando o time tem a bola, o Pottker pode encostar mais no Damião para ter essa presença de área. Na hora de marcar, volta para pegar o lateral adversário.
Vitor Sergio Rodrigues
Comentarista dos canais Esporte Interativo
No 4-1-4-1, William Pottker é escalado aberto pela direita. Há quem critique esse posicionamento por, supostamente, o afastar da área adversária. Para os comentaristas ouvidos pela reportagem, a questão não é a posição em que o atacante é escalado, e sim a forma com que se movimenta.
— O Inter na Série B é diferente da Ponte porque tem a bola e joga avançado. Não tem campo para correr em um contra-ataque. A movimentação forte do Pottker é o "facão", da direita para o meio. Resgatar o Pottker é resgatar esse movimento — destaca Miranda.
Para Rodrigues, o Inter poderia, inclusive, variar o posicionamento quando tem a bola, de modo a aproximar Pottker da área.
— Eu faria um meio termo. Já que o Pottker é privilegiado fisicamente, poderia fazer como o Real Madrid, que ataca de uma forma e defende de outra. Quando o time tem a bola, ele pode encostar mais no Damião para ter essa presença de área. Na hora de marcar, volta para pegar o lateral adversário. Assim, o poder de fogo do Pottker seria melhor aproveitado.
Por que o Inter oscila?
A questão é: por que tem de ter o Damião? Não estamos falando de um Messi, capaz de fazer tanta diferença.
Paulo Vinicius Coelho
Comentarista dos canais Fox Sports
Se o sistema não é o culpado, quais razões podem ser apontadas para o mau momento do Inter? As explicações vão de questões físicas a uma possível acomodação pela situação confortável na tabela, passando pela dependência de Damião.
— É normal com clubes grandes, dentro da Série B, acontecer um relaxamento natural depois que abre vantagem na tabela. Muitas vezes não é intencional. Mas fica uma sensação de querer administrar demais. É ruim porque o Inter poderia aproveitar esse momento para preparar o time do ano que vem — critica Rodrigues.
PVC aponta, entre os motivos para a queda de rendimento, o fato de que o time não consegue atuar bem quando Damião está ausente:
— Quando o Damião está, o Inter ganha. Sofre mais quando ele não está. O sistema, todo mundo tem jogado assim. A questão é: por que tem de ter o Damião? Não estamos falando de um Messi, capaz de fazer tanta diferença.
Já Miranda cita o possível cansaço em uma competição em que a quilometragem percorrida é bem maior do que na Série A.
— O momento é difícil, mas natural. O Inter teve uma maratona de jogos no primeiro semestre e a Série B tem viagens maiores e desgastantes. O elenco com peças-chave com determinada idade, como o D'Alessandro, e o Inter está longe do interior paulista e do Nordeste, para onde são a maioria das viagens. Há um declínio físico e técnico — conclui, justificando que, mesmo com os voos fretados que diferenciam o Inter de seus adversários, a queda de rendimento se percebe na comparação do início da temporada para agora, e não necessariamente olhando para os rivais.