Rivaldinho abre um largo sorriso ao falar do pai. Não é para menos. Assim como milhões de brasileiros, o centroavante de 21 anos orgulha-se de ter visto Rivaldo ser eleito o melhor jogador da Copa do Mundo de 2002, ano em que o Brasil conquistou o penta. Não entendia, à época com 7 anos, o que aquilo significava. Mas o passar dos anos mostrou que o futebol estava no sangue e o quão fundamental aquele camisa 10 foi para a Seleção Brasileira.
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Rivaldinho também descobriu-se jogador. Prefere a pequena área do adversário do que a função de armar as jogadas, função que Rivaldo era especialista. Pensou em largar o futebol quando precisou lidar com as comparações inevitáveis com pai. Rivaldo o convenceu a seguir em frente. Destacou-se no Paulistão e recebeu, pela segunda vez, uma oferta para defender o Inter:
– É um gigante que está me querendo, não posso deixar a oportunidade passar – pensou o centroavante, antes de fechar por duas temporadas.
Com nome publicado no Boletim Informativo Diário da CBF (BID) na semana passada, o jogador está apto a fazer sua estreia com a camisa colorada. Devido à idade, porém, precisará esperar pelas competições da FGF, que iniciam a partir do segundo semestre. Ou torcer que Argel precise de um centroavante da base o mais rápido possível.
Confira trechos da entrevista:
Como surgiu a ideia de jogar no Inter?
Desde o ano passado soube que o Inter tinha interesse. Quando eu estava me destacando na série B, pelo Mogi, soube do interesse do Inter. Acabou não dando certo, e eu fui para Portugal, fiquei alguns meses lá. Depois, voltei para o XV de Piracicaba. Me destaque no Paulistão de novo e veio, mais uma vez, o interesse do Inter. Falei que dessa vez eu ia, que é um gigante que estava me querendo e não posso deixar a oportunidade passar.
Rivaldo chegou a opinar na decisão?
Ele não precisou nem falar, sei a grandeza que o clube tem mundialmente. Mas ele disse para eu vir, que só dependeria de mim para estar no lugar certo e estourar.
Como é ser filho de um pentacampeão?
Olha, é muito bom. Falo que eu sou sortudo de ter um pentacampeão em casa. E é um treinador, tenho a comissão técnica que vão me ajudar, e estão me ajudando muito. Além disso, tenho um bom treinador em casa. Sou privilegiado.
A decisão de seguir os passos do pai, ser jogador, foi bem aceita pela família?
Meu pai sempre me deixou muito a vontade, nunca me forçou nada. Sempre mandou eu estudar, que o futebol seria consequência. Com 13, 14 anos, passei em uma peneira no Mogi Mirim. De lá, fui para a base do Corinthians. Fui conquistando, dando os meus passos sozinhos. Sou muito grato a toda ajuda que ele me deu. Mas nunca foi nada forçado, ele nunca precisou ligar para algum presidente para me colocar. Nem quando ele era presidente do clube, nunca me forçou a jogar nem forçou treinador algum a me escalar. Ele me dizia que se eu queria ser, que fosse pelos meus méritos.
Mas a comparação de vocês dois é inevitável. Isso atrapalha?
Antigamente, quando eu era mais jovem, criança, me atrapalhou. Já fiquei muito triste por ouvir comentários das pessoas que eu só jogo por ser filho, pelo meu pai ser o presidente. Que eu não era igual o meu pai, que se eu fosse um terço do que o meu pai foi, eu seria o melhor do mundo. Até que cheguei para o meu pai e disse que ia parar de jogar, que não precisava daquilo. Na época, eu era o artilheiro do campeonato paulista pelo Mogi. Meu pai estava no Uzbequistão e me disse que as pessoas falavam por inveja, porque ele estava do outro lado do mundo e era eu quem estava correndo, que eu estava ali pelos meus méritos. Fui ali que caí na real. Não me importa o que os outros pensam. Essa comparação sempre vai ter, inevitável, por mais que a gente jogue em posições diferentes. Depende de mim, vai depender do meu desempenho. Se o Rivaldinho fizer gol pelo Inter, vai repercutir mundialmente por ser filho de que eu sou. Se eu perder um gol, vai repercutir por ser filho de quem sou e estar em um clube que nem o Inter. Sempre terá esse peso.
Afeta psicologicamente?
Essa é a força que meu pai me dá. Ele me deixa ciente que no mundo em geral são maldosas, que não querem ver o sucesso do filho do Rivaldo. Não querem ver o sucesso continuar. Procuro estar focado e sei que Deus vai me abençoar.
Em 2002, na conquista do pentacampeonato do Brasil, onde você estava?
A primeira fase eu estava na Espanha, estava terminando a escola. No mata-mata, estava no Brasil. Era pequeno, não fui para o Japão. Lembro que acordava de madrugada para ver os jogos. Lembro da final, do Brasil campeão. Foi uma festa em Mogi Mirim, as pessoas me diziam que o meu pai era o melhor da copa. E eu não sabia o que aquilo representava. Como passar dos anos, fui ver que o meu pai está entre os melhores da história do futebol.
Conviveu com craques daquela época, tietava os companheiros do seu pai?
Tive contato com todos, desde a época do Barcelona. Meu pai me levava para os treinos. Acho que foi em 2003, em Manaus, que o Ronaldo me presenteou com a camisa dele, fui em jogos de amigos de Ronaldo x Amigos de Zidane, que ganhei a chuteira dele também. E eu sempre fui assim, boleirão, gostava de ir para o vestiário cm o meu pai. Gostava desse contato com todos, tirava foto. Gravei um comercial com o Denilson, o Roberto Carlos e o meu pai na Espanha.
Profissionalmente, você e o Rivaldo já jogaram partidas juntos. Qual a sensação?
Teve a primeira vez, contra o XV (de Piracicaba), em 2013, que jogamos pela primeira vez. Mas a mais marcante foi em 2015. Eu estava até triste, porque estava completando 7 meses que minha mãe tinha morrido. Mas acho que foi coisa de Deus. Disse até para o meu pai que eu não queria que aquele dia terminasse. Foi o melhor dia da minha vida, os gols que fizemos juntos. Foi o jogo mais emocionante, vejo os lances hoje e me arrepio. Foi sensacional.
Por quê?
Todo pai sonha em jogar com o filho, e o filho também. Sou um privilegiado, acho que Deus escolheu Rivaldo e Rivaldinho. Jogamos em um clube em que meu pai estava presidindo, o nome do estádio era o do meu vô. Sempre sonhei com isso. Fizemos gols, ganhamos o jogo, foi uma noite inesquecível.
Passe do Rivaldo pai para o Rivaldinho marcar?
A jogada não foi diretamente o passe dele. Ele começou, roubou a bola, tocou para mim. Devolvi de calcanhar para ele, ele achou o Serginho. Meu pai cruzou e fiz de cabeça. No segundo, sofri o pênalti, e o meu pai bateu. E no terceiro, meu pai começou a jogada, achou o Serginho, que me lançou e fechei o 3 a 0.
Como você espera que seja sua carreira no Inter?
Espero estar no principal. Tenho uma experiência de campeonato paulista, que é o mais difícil. Joguei série B, Europa. Mas sei que tenho que conquistar cada dia, tenho que suar mesmo, para quando tiver a minha oportunidade lá, não decepcionar.
Rivaldinho é um clássico camisa 9?
Sou centroavante, sempre fui. Gosto de fazer gol, mas também não sou só aquele que fica parado, só esperando a bola. Gosto de movimentar, mas sempre procuro estar na área, que é ali o meu lugar, onde tenho que estar para fazer o gol.
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