À frente do time, D'Alessandro entrou no gramado do Passo D'Areia pela última vez como jogador do Inter. A ideia da direção colorada era que o camisa 10 ingressasse apenas nos minutos finais na partida diante do São José, pelo Gauchão, para que a torcida se despedisse do argentino que deu nove títulos ao Beira-Rio. A pedido do então capitão, Argel manteve o time habitual, com D'Ale entre os titulares.
O anúncio do empréstimo ao River Plate, na tarde desta quarta-feira, transformou os pouco mais de duas dezenas de ingressos vendidos para os visitantes na casa do Zequinha em dois setores tomados pelos vermelhos. Ainda antes da bola rolar, a torcida entoava "E dá-lhe D'Alessandro, dá-lhe D'Alessandro", exatamente como fez na chegada do ônibus colorado ao estádio na zona norte em Porto Alegre. O trapo com o rosto do argentino tremulava ao som do cântico em homenagem ao capitão.
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Na concentração, no hotel Holliday Inn, D'Ale foi um dos primeiros a passar para sala onde aconteceu a palestra do técnico, que contou com a presença de nomes como Alisson Farias e Geferson – que sequer estavam relacionados. Ali foi encaminhado o time. Como de costume, o argentino rumou em direção ao ônibus com o semblante mais sério. Atendeu a seis torcedores que pediram para tirar foto e sorriu para o agradecimento de um deles:
– Muito obrigado pelo tu fez por nós – disse o torcedor colorado, emocionado.
Em campo, D'Ale não parecia despedir-se. Buscava a bola no campo de defesa, cobrava maior aproximação dos companheiros e até esbravejou com a arbitragem aos 35 do primeiro tempo, por uma falta em cima de Anderson. Pouco antes, na entrada da área, fez cruzamento rasteiro e Vitinho quase abriu o placar no Passo D'Areia. Nos passes errados do capitão, aplausos da torcida.
Na ida para o vestiário, D'Ale se calou. Evitou os microfones. Voltou a campo para o segundo tempo. Chegou a reclamar com o gandula a demora para a reposição de bola e abriu os braços para lamentar a cera que fazia o jogador do São José. Tudo antes dos 10 minutos da etapa final, e orquestrado pela súplica "D'Ale, não se vá" vindo da arquibancada.
E foi aos 19 que a história de D'Ale com o Inter quase termina ao melhor estilo da passagem vitoriosa do capitão: com gol. A bola sobrou na entrada da área e D'Ale, de perna direita, chutou forte, explodindo no travessão, enlouquecendo a torcida colorada que viu tudo de trás do goleiro Fábio. Como não podia faltar, o tradicional cartão amarelo por reclamação também apareceu na despedida. Serviu apenas para o camisa 10 lamentar e dar de ombros, mostrando que, mais uma vez, não entendeu o motivo da advertência de Márcio Coruja.
O cronômetro marcava 35 minutos do segundo tempo quando D'Ale encerrou sua passagem, de fato, pelo Inter. Aplaudido também pelos torcedores do São José, o argentino tirou a braçadeira e entregou a Alex, seu substituto. Antes, reverenciou a torcida que tomou o Passo D'Areia para o seu até breve. Depois da conquista da Recopa, fez questão de elogiar e agradecer a torcida pelo carinho.
– É importante começar o ano bem, e fico feliz de poder ter sido parte deste jogo. Não foi fácil. Foi muito difícil, merece muito a torcida. É complicado, mas acho que faz parte – disse o camisa 10, que caiu no choro ao falar sobre a sua passagem pelo clube. – Obrigado por tudo. Com certeza, recebi mais do que pude dar. O torcedor é fenomenal. Estou muito agradecido. Demonstração de carinho a gente não compra, sai ao natural. Sem palavras para o torcedor.
A relação com a torcida foi o principal tema da última entrevista de D'Alessandro como jogador do Inter.
– Não tem igual. O que eles (torcedores) me deram não tem comparação nenhuma. O torcedor tem que acreditar, tem que acompanhar. Vai acontecer muita coisa boa.
E, assim como fez à tarde, o argentino voltou a elogiar os funcionários do Inter e os seus colegas de elenco.
– Levo muito bem, dentro do meu coração, o relacionamento com os empregados e com o clube. Os títulos são consequência. E queria muito sair com um título, mesmo que não seja o mais importante. O grupo me apoiou muito. Não foi fácil, aconteceram muitas coisas hoje, e nunca pensei que ia chegar neste momento. Graças a Deus consegui retribuir um pouco o carinho que o torcedor me deu.
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