
Em 2015, na condição de ex-dirigente do Inter, fui instigado a dar opinião sobre o ano colorado. Respeitosamente, recusei na maioria. Na condição de conselheiro do clube, precisamos contribuir com o ambiente de tranquilidade. Porém, após o encerramento da temporada, me sinto à vontade para opinar.
Tudo começa no fim de 2014, quando Piffero é eleito com 70% dos votos em uma aliança política aparentemente inusitada, misturando os grupos mais conservadores da política colorada (centralismo de decisões, empirismo nas ações) com um suposto grupo que defendia a modernização e profissionalização do clube. A atual gestão recebe o clube na Libertadores e com estádio 100% concluído, uma verdadeira panela de pressão.
Após sinalizar que teria acordo com Tite e ser desprezado publicamente por Mano Menezes, Piffero fecha com Aguirre. Promoveu, acertadamente, o preparador de goleiros do clube (Daniel Pavan) e a manutenção da estrutura de análise de desempenho.
Aguirre experimenta um ambiente de incerteza. Situação criada logo nos primeiros jogos do Gauchão, quando o presidente passa a contestar publicamente a escalação. Parece claro que o treinador foi contratado sem que o departamento de futebol conhecesse sua metodologia. O rodízio de times e atletas trouxe o benefício da descoberta de atletas da base, mas contribui, com a falta de treinos, na mecânica do jogo. A conquista do estadual e a campanha na Libertadores falam por si. Porém, o time paga o preço no momento em que o calendário aperta, culminando com a desclassificação da Libertadores.
A demissão de Aguirre vem três dias antes do Gre-Nal. Bizarro para um um presidente com larga experiência. O que prova que a arrogância segue sendo uma companheira perigosa de Piffero.
Depois de tentar de forma pública outros treinadores (Sampaoli, Muricy), fecha com Argel, utilizando-se da preparação física do clube, um novo acerto. Argel leva o time ao quinto lugar no Brasileiro, mesmo experimentando o ambiente de incerteza vivido por Aguirre. A direção não fez defesa pública e forte aos treinadores, e pouco defendeu os atletas. Chamou atenção a falta de defesa do capitão do time nos momentos em que foi criticado.
A diretoria surpreendeu por atitudes inexperientes. Na gestão como um todo, afastou profissionais experientes e os substituiu por dirigentes não remunerados, um retrocesso.
Faltou planejamento, apoio à comissão técnica e aos atletas. E refletiu em campo. Que em 2016 a diretoria tenha mais humildade, aprenda com os erros, busque planejar com mais empenho. Futebol se ganha com conjunto, com grupo, com exemplo e liderança. Já foi o tempo do dirigente que diz "eu ganho, nós empatamos, eles perdem".