É com Rafael Moura no ataque que o Inter vai até Florianópolis em busca de seus primeiros três pontos fora de casa. Nesta quinta-feira, às 21h, no Orlando Scarpelli, será dele e de Lisandro López a responsabilidade de comandar o ataque colorado e fazer com que as baixas no departamento médico não prejudiquem tanto o planejamento do técnico Diego Aguirre.
Figueirense x Inter: tudo o que você precisa saber para acompanhar a partida
Nesta entrevista a Zero Hora, concedida horas antes de o grupo embarcar para Santa Catarina, ontem à tarde, o centroavante projeta o Brasileirão e a Libertadores, revela conselhos ao técnico Diego Aguirre, fala sobre a rotina de vaias e aplausos no Beira-Rio e do pior momento no clube, quando esteve perto de deixar o Inter:
- Eu não sou de desistir fácil. Sempre disse que não sairia do Inter por baixo.
Imagens: Ronaldo Bernardi
Jorge Henrique fala em "mudança de atitude" para vencer o Figueirense
O departamento médico cheio é um reflexo de uma temporada puxada?
Além dos jogos, da sequência grande, os jogos tem sido desgastantes física e psicologicamente. Em grande parte dos jogos tivemos de decidir nos últimos minutos, aquela pressão toda. Mas temos feito um planejamento bom. Temos revezado bastante. Coincidentemente, temos muitos jogadores lesionados. Como ainda temos um mês para um jogo importante como o da Libertadores (Tigres, dia 15 de julho, no Beira-Rio), não adianta forçar um retorno prematuro e perder os atletas por mais dias.
A folga de quatro dias após a partida contra o Figueirense é merecida?
O calendário permitiu. Temos de descansar a cabeça. O corpo temos de cuidar. Teremos de trabalhar em qualquer lugar que estejamos pois se só comermos e dormirmos vamos voltar mal fisicamente e vamos ter de correr para melhorar a condição física novamente. É um descanso muito mais de cabeça que físico.
Torcedor Colorado ZH: cinco razões para manter o apoio a Aguirre
É o momento de você celebrar essa sequência de jogos como titular?
O grupo do Inter é muito forte. Não acontece só comigo (de ficar um tempo fora). Todo mundo deu uma parada. Até o D'Alessandro, que é nossa referência, nosso capitão, teve de parar. Há um revezamento planejado. E comigo não foi diferente. Aguirre é muito justo nesta questão de revezamento. Ele dá oportunidade a quem dá retorno dentro de campo. Não adianta apenas treinar ou cobrar nas entrevistas. Eu fiz o gol contra o Santa Fe, contra o Palmeiras, participei do gol contra o Corinthians. E, por justiça, Aguirre optou por me dar essa sequência como titular. Antes, com o Nilmar. Agora, com o Lisandro.
Qual a mudança para você em ter o Nilmar e o Lisandro como companheiro de ataque?
Nilmar é meu amigo pessoal. Fiz campanha para ele voltar para o Brasil e fechar com o Inter. No treinamento, quando saiu a escalação contra o Corinthians, a gente se deu um abraço e disse: "Que saudade de jogarmos juntos, quanto tempo". Deu certo nossa parceria naquele gol. Agora, com o Lisandro, teremos a mesma postura e movimentação. Lisandro é tão inteligente quanto o Nilmar. O compromisso tático dele e a leitura de jogo é mais parecida com a minha. O centroavante hoje em dia não fica mais fixo, na área. Eu tenho saído da área em muitos jogos. E o Lisandro também. Ele dá bastante assistência porque é inteligente. Ele sabe o que eu preciso e eu sei o que o Lisandro vai fazer pelas características semelhantes. Quem ganha com isso é o Inter.
Diogo Olivier: a incrível média de público do Tigres em casa
Você ouviu aplausos no último jogo no Beira-Rio. Como lida com essa relação de amor e ódio da torcida?
Eu tenho de ser parcial. Não posso achar que é pessoal. Quando eu cheguei aqui, achei que era pessoal. Mas percebi que já aconteceu com muitos ex-jogadores e acontecia com outros do grupo. O (Rafael) Sobis já sofreu isso. O Fabrício (lateral-esquerdo emprestado para o Cruzeiro). Quando deixei de pensar no pessoal, melhorei. O torcedor sente o momento. Quando o momento do Rafael não era bom, ele vaiava. Ele queria que o Rafael saísse. E agora que o momento do Rafael é bom, ele quer que o Rafael fique, aplaude, quer que o Rafael esteja em campo, quer tirar foto, abraçar. No jogo contra o Coritiba (no dia 7 de junho), estádio lotado, me aplaudiram na escalação no telão, me aplaudiram quando eu fui correr para aquecer. Depois, me aplaudiram quando entrei em campo. Fui embora e tive de ficar uns 40 minutos atendendo aos torcedores. Mostra o carinho e o momento bom que estou vivendo e que o torcedor está reconhecendo. Eu acho que fui tão cobrado pela imprensa e por alguns torcedores que todo colorado que me encontra me diz: "Eu não te critiquei, apostei em ti. Tu te entrega, é determinado, honra a camisa". É legal porque o torcedor agora quer me dar carinho.
Você jogou em clubes como Corinthians, Fluminense. Já tinha passado por essa situação?
Nunca fui cobrado como fui cobrado aqui. Sempre tive relação de mais amor com a torcida. Mas nunca chegou até mim algo como "Esse cara tem de sair daqui, não queremos ele aqui". Sempre diziam que eu ia dar a volta por cima, que eu era importante, que seria recompensado pelo meu esforço. A torcida quer muito esse título da Libetadores e quer muito esse tricampeonato. Por eu ter participado do gol contra o Santa Fe, pelas entrevistas, pelo jeito que eu sou de baixar a cabeça e trabalhar, o torcedor me entendeu e o carinho aumentou. Teve, claro, aquele episódio que mandei alguns torcedores ficarem calados, porque estavam me enchendo o saco e perdi a paciência. Mas nunca fiz nada desrespeitoso contra o clube, contra a instituição. Ao contrário, chego cedo para treinar, me dedico. A coisa virou. O torcedor passou a ver o lado do ser humano, que se dedica, mas que também erra.
Nilmar e Juan estão fora da partida contra o Figueirense
Você enxerga que reverteu a situação de meses atrás, quando se dizia que você estava para sair do Inter?
Eu sempre estive com a cabeça no lugar. Todos os dias. Eu dizia para todos que iria ficar no Inter. Eu fui bem claro para a imprensa, com a direção, com o Francis (Mello, empresário). Ele foi convidado a vir aqui para conversar e isso é interessante, porque mostra que eu não sou um Zé Ninguém, que eu tenho propostas e sempre tem alguém me querendo. E eu não sou de desistir fácil. Sempre disse que não sairia do Inter por baixo. Em 2007, pelo Fluminense, jogamos a Copa do Brasil, fomos campeões e eu fui vendido. Só que ficou a sensação de eu não ter passado bem lá. Tanto que depois joguei no Goiás, voltei para o Flu, tive proposta da Europa, e escolhi ir para o Fluminense. Fiz gols e fui campeão Brasileiro. Não sairia daqui por baixo, como terceira opção do treinador.
Você sente que o querem no Inter?
Parte da diretoria querer que eu continue aqui. Hoje eu sinto que me querem aqui. A comissão técnica sempre disse que contaria comigo. Tudo o que colho hoje é fruto de um trabalho. Todo o dia a minha família, o Aguirre, meus companheiros, me faziam me sentir importante.
Aguirre espera "até o último momento" por Nilmar contra o Figueirense
Quando Aguirre sofreu com as críticas, você o ajudou?
Ele se surpreendeu com a cobrança. E aqui no Brasil em quatro jogos você pode ter mudança de treinador. Teve um jogo contra o Veranópolis, se não me engano, que ele discutiu com um torcedor, o Taiberson entrou, a torcida queria o Vitinho, mas o Taiberson participou da vitória, ele virou para a torcida e esbravejou. Quando o Aguirre entrou no vestiário eu chamei ele e tive uma conversa de uns 50 minutos, explicando como eram as coisas por aqui. Eu passei para ele que deveria manter a calma, manter a postura dele e ser correto que colheria os frutos do trabalho. Ele é muito convicto das coisas que faz. Tem treinador que quando pressionado começa a mexer, mudar tudo, par agradar algumas pessoas. Era início de Gauchão. Falei que com outros anos tivemos as mesmas cobranças. Não seria fácil, mas que daria certo. Hoje ele é revolucionário, moderno, é aplaudido por todos. Porque seguiu o seu conceito, o seu pensamento. Basta ver que o treinador que chegou no São Paulo (o colombiano Juan Carlos Osorio) agora pediu ajuda para ele.
Foi difícil entender o método de trabalho de Diego Aguirre?
No início, sim. Todo mundo ficava preocupado, porque o jogador de futebol é assim: quer ser titular. Você fica de fora, daí depois no outro jogo você é titular. Enxerga que é a oportunidade. Mas não tem a sequência e fica mais uma vez encucado. Jogador pensa muito nele. Se acontece só com determinada pessoa, esas pessoa vai ficar de cara feia, vai desanimar. É normal, tem de se indignar. Não tem de estar satisfeito porque mesmo sendo terceira, quarta opção, ganha bem. Mesmo sendo bem remunerados, não podemos esquecer do prazer pelo que fazemos. O dia que acabar o prazer, tem de parar. Quando entendemos que todo mundo passou pelo revezamento, as coisas melhoraram. Todo mundo se sente útil no Inter hoje, todo mundo se sente parte das conquistas. Tivemos problemas por não ser assim no ano passado. Hoje é difícil enumerar todos que são ou já foram importantes na temporada. No ano passado tínhamos uma equipe titular muito boa e em certos momentos do campeonato faltou o que temos hoje: grupo e qualidade. Hoje, temos qualidade até de sobra.
Inter e Colón divergem sobre dívida de Luque
Você se frustra até agora ter vencido apenas Gauchão com a camisa do Inter?
Era uma preocupação nossa, minha, do Juan, do Diego Forlán, da turma que chegou em 2012, pelo alto investimento, que depois que a gente chegou o Inter deu uma parada nos títulos importantes. Ligamos o alerta. Pensamos muito grande nesta temporada. O planejamento foi feito. Éramos para estar revezando ainda mais, mas por algumas lesões não temos como revezar como gostaríamos. Neste início de Brasileiro, temos de ser melhores fora de casa. Fazemos o dever de casa, mas precisamos somar pontos fora. Precisamos de 24 vitórias. A média que o Cruzeiro teve no ano passado foi essa e o time foi campeão. Temos de ganhar os jogos em casa e tirar sete vitórias fora de casa. E ainda não conseguimos nenhuma. E passa por isso: se queremos algo mais no Brasileiro, temos de vencer fora de casa.
O Inter puxa o freio de mão nos jogos? Muito se fala que o time diminui o ritmo.
O que acontece é que nossa escalação muda a cada jogo e os que estão de fora fazem com que não estejamos em um nível tão alto. Pega o D'Ale, Sasha, Valdívia, Nilmar, Juan, Paulão (que estão lesionados)... com esses jogadores você não apenas eleva o nível do grupo como dá qualidade, velocidade, maturidade, posse de bola. Mudou um pouco a característica após a saída deles e caímos um pouco em termos de qualidade. Quando o grupo inflar de novo, vamos subir novamente.
Se o Inter ganhar a Libertadores, o que o torcedor pode esperar? Uma reprise de 2010, quando se diz que o Inter abdicou da temporada, ou o foco de 2006, com chances de ser campeão brasileiro até dezembro?
A gente quer muito passar de fase na Libertadores. E já temos um fato novo, que é a inversão do mando de campo. Primeiro jogo será no Beira-Rio e a final decidiremos em casa. O Tigres é uma equipe qualificada, os caras estão querendo e será um jogo muito difícil. Depois, se passar, é a final. E final não se joga, se ganha. A partir daí, vamos para somar os pontos do Brasileiro. Está muito distante ainda, temos muitos jogos. Queremos muito entrar para a história do clube com esse título que o Inter não ganha há muito tempo.
Leia outras notícias do Inter
Acompanhe o Inter no Brasileirão através do Colorado ZH. Baixe o aplicativo:
IOS
*ZHESPORTES