As dificuldades de 2024 seguem vivas na memória do Grêmio. Na sexta-feira (27), na Arena, o presidente Alberto Guerra atendeu aos veículos do Grupo RBS para falar sobre um ano atípico. Uma temporada que começou com o entusiasmo do heptacampeonato gaúcho, mas que depois se tornou de dificuldades com a enchente.
As lições que levaram o clube a conviver até o fim do Brasileirão com o risco de rebaixamento norteiam mudanças para 2025. E mesmo sem confirmar o nome de Gustavo Quinteros, Guerra informou que há pré-contrato com o técnico:
— Não há motivo para duvidar da palavra do treinador.
O presidente lidera movimentos no clube para ajustar a rota, ainda mais que o início do ano terá a disputa do Gauchão. E o octa é uma das prioridades gremistas.
Confira a entrevista com Alberto Guerra
Já é possível dizer que o Grêmio tem técnico para 2025?
Vou deixar o nome do treinador para o departamento de futebol. Como você sabem, existe uma negociação e a gente tem que respeitar uma série de situações. Então, no momento oportuno, o futebol deve anunciar.
O que pesou na decisão de encerrar o ciclo com Renato?
É até um pouco simbólico pra mim, né? O Renato começou comigo em 2010 (como técnico no Grêmio) e agora ele encerrou, ao menos, esse ciclo. Acho que é importante dizer que ele saiu com as portas totalmente abertas, com uma relação maravilhosa com o clube e com todos os vice-presidentes, funcionários e jogadores. Foi um 2024 bastante difícil e desgastante. Não só para nós, até em função também da enchente, mas a própria situação da tabela do Grêmio ao longo do ano. E a gente entendeu, foi de comum acordo, muito mais pelo Renato, inclusive, que precisava descansar, precisava ter um tempo para ele. Estava há dois anos e meio direto nesse trabalho aqui. Então, a gente entendeu a situação, né, e agora vamos partir pra um novo projeto.
Teve algum sinal do Renato em relação a esse desgaste?
Em nenhum momento a gente sentiu que ele queria deixar o clube. Muito pelo contrário, a gente estava fechado no objetivo de tirar o Grêmio daquela situação e dentro do possível classificar para uma competição sul-americana que acabou acontecendo, ainda que de uma forma difícil, mas assim acabou acontecendo. E como você sabe, a minha relação com o Renato extrapola a figura de presidente e treinador. É também de muita amizade, porque em muitos momentos nós estivemos juntos, momentos bons, momentos difíceis. Então a gente estava imbuído tão somente em tirar o Grêmio daquela situação e não falávamos em outra coisa que não fosse isso.
Como é que tem sido essa busca por um técnico para 2025?
A gente vinha de muitos anos aí com o Renato ou com o Roger. E poucos outros treinadores, né? A primeira questão foi a característica do treinador, tendo em vista o perfil dos nossos jogadores. A gente queria também alguém que fosse, não adianta mudar também do 8 para o 80, então já ter algo também construído pela comissão que passou aqui. Então a gente, como característica, buscou um técnico que é construtivo, que propõe o jogo, que tem intensidade também na sua maneira de jogar.
Então a gente, como característica, buscou um técnico que é construtivo, que propõe o jogo, que tem intensidade também na sua maneira de jogar.
ALBERTO GUERRA
O que aconteceu na negociação com Pedro Caixinha?
Essas negociações são muito pesadas, são constantes durante todo o dia, às vezes avançam à madrugada. É importante dizer que todo treinador estrangeiro acaba tendo uma dificuldade maior de poder contratá-los em função de uma dificuldade de compreensão da nossa legislação tributária e trabalhista. Então são várias as questões que a gente precisa explicar que os brasileiros já não têm esse problema. É questão cultural também. Então muitas vezes não é dinheiro só, né? É uma questão de, às vezes, sobre um precedente. E aí é difícil do clube gerir. Isso é um lado do negócio. O outro, o que eu posso dizer é que o Grêmio, nesse caso, atendeu todas as exigências até segunda-feira, ao meio-dia, quando só foi pedido para dizer assim, olha, ou se assina ou nós estamos fora. Então, foi quando, aí disseram que não iam assinar. E duas horas depois anunciaram no Santos. Isso nos leva a crer que eles estavam, sim, negociando em paralelo. E, obviamente, que lá deve ter tido uma oferta maior. E isso é importante dizer que o Grêmio não entra em leilão. A gente poderia anunciar qualquer treinador a qualquer momento aceitando condições de dinheiro, vamos dizer, muito mais altas do que o mercado oferece. Não é a nossa maneira de atuar, a gente é muito diligente com as coisas do Grêmio. A gente sempre deixa claro para o treinador que quem vem para cá não é por dinheiro, que é um projeto, a gente gosta de ver o interesse do profissional, seja ele qual for, em qualquer área aqui do Grêmio, que queira vir para cá. Se a questão ficar muitas vezes em algumas picuinhas, é melhor nem vir, que não é aqui o lugar que ele deve vir. Então, isso foi o que aconteceu no caso do Caixinha.
Caixinha realmente pediu cláusulas como auxílio moradia, carro alugado, auxílio com passagens aéreas e até um eventual custo processual de uma ação movida depois contra o Grêmio, por exemplo?
Teve bastante desses pedidos que já eram ultrapassados ou depois voltavam e nitidamente para ganhar um tempo para poder que alguma coisa estava acontecendo paralelamente.
Existe o acerto com Gustavo Quinteros para ser o técnico em 2025?
Nós temos uma negociação muito bem encaminhada com um profissional, mas não vou falar em nomes. A gente nunca abre antes de fechar a negociação, isso está a cargo do Departamento de Futebol, que tem sido, como eu disse, muito diligente com as coisas do Grêmio, assim, seguindo uma diretriz aqui da Presidência e do Conselho de Administração. O que posso dizer hoje para o torcedor é que eu não tenho por que duvidar da palavra que o treinador já deu ao clube. E não tenho por que duvidar também de um aceite que deu numa proposta. Então já temos um documento assinado, inclusive com multa. E agora existem essas questões culturais que a gente está tentando explicar para que haja o acerto do contrato definitivo. E também existem questões pessoais dele que a gente respeita. E quando isso foi colocado, eu até achei bacana, porque eu também gostaria, como presidente aqui do Grêmio, de também ser respeitado dessa mesma forma. Então, assim, é o que tem na mesa, é isso. Se acontecer algo contrário, não vai ser por culpa do Grêmio. O Grêmio tem feito as coisas da maneira correta. E agora é questão de, acredito, de tempo só.
O que posso dizer hoje para o torcedor é que eu não tenho por que duvidar da palavra que o treinador já deu ao clube. E não tenho por que duvidar também de um aceite que deu numa proposta.
O Grêmio já tem mapeado quais reforços serão buscados?
Já temos alguns atletas mapeados, alguns inclusive com negociação andando. Que é uma convicção do departamento de até porque são investimentos, tudo no futebol é caro, mas não são aqueles grandes investimentos que envolveriam uma opinião também do técnico. Obviamente que a gente está esperando ele para validar algumas contratações. Nós também queríamos já ter anunciado o treinador, mas, como eu disse, toda essa questão cultural de explicar, né, legislação trabalhista, tributária, algumas exigências que é normal em alguns países e aqui fica mais complicado. A própria questão familiar dele, né, tá travando um pouco esse anúncio, mas já se conversa também da parte técnica? De de como ele joga, característica de jogadores.
O que ficou de lição de 2024 para 2025?
Classificaria a temporada de razoável para boa. Por que isso? Primeiro porque a gente conseguiu um heptacampeonato que não tem como não considerar. É tão histórico que é a segunda vez em 121 anos de clube que a gente chega e nos coloca com a possibilidade do octacampeonato em 2025. Começamos bem o ano, até aquele abril de 2024, nós tínhamos 120 mil sócios. Um time que estava desempenhando um bom futebol. Aí aconteceu a enchente. E aí virou uma combinação de vários elementos. Talvez tenha sido o desencadeou um efeito dominó. Uma sucessão de problemas e que se tornou pesado. Esse sofrimento até o final do Brasileirão. Nas duas copas a gente saiu nos pênaltis jogando em Curitiba. Tenho a convicção que se a gente jogasse na Arena nossas chances de passar naquelas fase seriam muito maiores. Mas é preciso entender que o Grêmio sofreu mesmo, e não é só com a questão do estádio. A gente tenta explicar, já falamos tantas vezes, isso é repetitivo, mas a gente sofreu muito aqui com as pessoas, funcionários do clube que perderam tudo, familiares. Isso chega dentro do vestiário, funcionário que está triste, que está deprimido, que chora. Cinco ou seis jogadores nossos saíram de suas casas resgatados de barcos. Então, foi diferente do que aconteceu com outros clubes aqui do nosso Estado. Isso pesou demais. Em função de ter ganho o Gauchão, de ter classificado ao menos na fase de grupos, acho que poderia classificar como razoável para bom. Mas com a certeza de que 2025 vai ser bem melhor. Nós temos uma boa base de grupo e com os reforços e determinadas posições, estou convicto que a gente pode fazer um bom ano.
O octacampeonato gaúcho é o primeiro objetivo do ano?
Não tenha dúvida. O octa gaúcho é um grande objetivo do clube, sim, e a gente vai estar muito empenhado em conquistá-lo.
Quantos reforços serão buscados?
Não posso falar em números, mas a gente provavelmente já perdeu alguns jogadores. Um lateral-direito que se aposentou, um zagueiro que se aposentou e outros que talvez não permaneçam. Tem que ver com o treinador e aí já tem uma necessidade de reposição. Não gosto de falar em números, mas a gente a gente sabe o que falta. Estamos muito atentos ao que aconteceu durante esse ano pra que não se repita em 2025.
Como é que vai ficar essa questão de patrocínio máster na camisa?
A gente já tem. Tem uma negociação bastante avançada. Não só com um possível um possível patrocinador máster, como também a questão do nosso grande parceiro, que aqui eu tenho que só agradecer, que é o Banrisul. E que fez uma nova negociação, tanto com o Grêmio quanto o Inter, para para passar para as costas e poder liberar o espaço para que o Grêmio e o Inter possam arrecadar um valor ainda maior e se tornar ainda mais competitivos. Então sim, mas é algo que ainda não está assinado, não está concretizado, mas eu diria que está caminhando muito bem.
Esse patrocínio máster será em conjunto também com o Inter?
Ele seria conjunto, seria conjunto Grêmio e Inter.
O que influência para 2025 o Grêmio ter adquirido parte da dívida da Arena?
Ultrapassados dois anos e pouco de gestão e esse sempre foi o objetivo do clube. Negociar com a Arena, que tem sido nosso parceiro, mas a gente entende que há questões que não há sinergia. Porque alguns interesses acabam desalinhados. Mas com relação à compra desse crédito, isso não tem a dúvida, nos coloca numa posição mais favorável para a discussão de determinados temas nessa relação. Não dá para colocar uma data, um prazo, mas que ao longo dos anos, até o término desse contrato, isso, não tenho dúvida nenhuma, vai ajudar muito o Grêmio nessa negociação, nessa relação.
O Grêmio trouxe Braithwaite. Um dinamarquês. E agora negocia a contratação de um sueco. Qual é o otimismo do Grêmio com essa negociação por Eliasson?
Eu não vou te falar em nomes, não é nem do meu estilo, nem do Grêmio falar em nomes antes de assinar o contrato. O que posso dizer é que todo esse trabalho que o Luis Vagner, quando chegou aqui no Grêmio, depois trouxe o Fernando Lázaro. Nada é de um dia pra noite, isso é uma construção, é um trabalho que vem sendo feito, construiu-se um departamento de scout que está se mostrando muito efetivo na última janela e descobre alguns nomes.
E é uma necessidade descobrir nomes fora que só da nossa realidade, porque o futebol brasileiro, com as SAF's, com novos clubes com poder econômico grande, que alguns anos atrás não tinha, tornou um mercado com uma maior procura do que oferta. A gente vê uma escassez de jogadores. Então clubes que antes talvez não competiam com o Grêmio na contratação, hoje têm a mesma capacidade ou maior. Os jogadores acabam ficando muito caros aqui dentro do Brasil.
Existe a necessidade de venda de algum jogador nesse momento ou o Grêmio pode esperar?
O Grêmio é um clube vendedor na sua essência. Eu que estou há 30 anos aqui, desde o primeiro dia, vejo o Grêmio precisar vender jogador para fechar as contas. Se gasta mais do que arrecada sabendo o que precisa vender a fim de ficar competitivo, ou minimamente competitivo, ainda mais agora nessa época de altos investimentos com o SAF.
Agora, não necessariamente precisa ser agora, mas em algum momento as vendas têm que ocorrer, não é? Esse é uma questão muito mais de mercado, de oportunidade, quando vem a oferta, do que de necessidade. Porque uma coisa que a gente não tem feito aqui é queimar os nossos ativos. Isso várias vezes eu falei, prefiro ter um time competitivo, segurar o máximo aqui, e quando sair é para uma oferta realmente irrecusável, tanto para o Grêmio quanto para o jogador.
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