Na véspera do aniversário de um ano do retorno de Douglas Costa ao Grêmio, GZH revela bastidores do retorno do jogador que encheu o torcedor de esperanças, mas que acabou em frustração na temporada de 2021. O contrato era de 31 meses, com um investimento que poderia chegar a R$ 57,3 milhões, entre salários (R$ 800 mil) e bonificações. Mas durou apenas oito meses, sendo rompido em comum acordo pouco depois do rebaixamento do clube à Série B do brasileirão.
Formado nas categorias de base do Grêmio e vendido ao Shakhtar Donetsk, em 2010, para iniciar uma trajetória de sucesso na Europa e também na Seleção Brasileira, o meia-atacante não conseguiu repetir o desempenho em sua volta a Porto Alegre. Além de não ter ajudado a evitar o rebaixamento, a saída precoce deixou uma dívida de R$ 6 milhões.
Mas o prejuízo para o Tricolor poderia ser bem maior caso decidisse romper unilateralmente o contrato. Neste caso, se o jogador decidisse levar o rompimento para a Justiça, teria como reivindicar um valor de até R$ 50,9 milhões (além dos salários dos 23 meses restantes, entrariam na conta bônus e valores por metas de produtividade). Estas cifras estão no contrato entre Grêmio e Douglas Costa ao qual GZH teve acesso. São milhões que ajudam a dimensionar a frustração e os riscos assumidos na passagem frustrada do jogador, que atuou 28 vezes, marcou três gols e sofreu três lesões.
O retorno de Douglas Costa ao Grêmio teve seus primeiros capítulos no final de 2020. Então treinador, Renato Portaluppi conversou com jogador. A vontade do atleta de deixar a Juventus para retornar ao Brasil avançou do estágio de possibilidade para um desejo.
A diferença salarial na primeira pedida inviabilizou o acerto. Na época, o departamento de futebol passava por uma reestruturação. O CEO, Carlos Amodeo, atuava como executivo interino da pasta (ficou de março a maio). Em abril de 2021, a posição de vice de futebol passou a ser ocupada por Marcos Herrmann, que entrou na vaga deixada em aberto por Paulo Luz, no início de março.
A negociação emperrou no meio de maio, após as partes não chegarem a um acordo depois da primeira proposta. Fontes consultadas por GZH avaliam que o atleta soube criar um ambiente de pressão nas redes sociais pelo acerto, com declarações de amor ao clube e o desejo de voltar. Dirigentes e seus familiares, na época em que o acerto não aconteceu, chegaram a receber ofensas pelas redes sociais.
O cenário mudou em poucos dias. Em uma tentativa de retomar as conversas, advogados ligados ao jogador procuraram o empresário Jorge Machado. Enquanto o Grêmio acenava com cerca de R$ 1 milhão de salário, o jogador pedia cerca de R$ 3 milhões, e a intermediação de Machado ajudou as partes a chegarem a um acordo.
— Fui procurado pelo estafe do Douglas. Falei com o jogador e com o Grêmio, e se reduziu significativamente a diferença entre os pedidos. Acertei uma comissão com o clube, que acabou sendo quase zero. Quando o Douglas foi embora, se extinguiu este valor, como estava no contrato. Apesar de ter sido um negócio grande, não ganhei milhões como dizem por aí. Ganhei pouco pelo que fiz, mas fiquei feliz por ter viabilizado a transação — disse o empresário.
Vice de futebol da época, Marcos Herrmann confirma a procura de Jorge Machado e explica a atuação do empresário:
— Ele nos procurou em maio e foi objetivo e claro na reunião. Disse que não fazia sentido uma negociação levar cinco meses e não ter evoluído consideravelmente. Pediu, então, autorização para destravar o processo. Ele disse que para o futebol brasileiro, aqueles padrões oferecidos por nós eram excepcionais, e foi à luta. Foi claríssimo e muito objetivo para ambos os lados. E de fato, em poucos dias, o negócio evoluiu e se chegou a um acordo. Em resumo, conseguimos assinar o contrato pela metade do valor que vinha até então sendo pedido.
O CEO, Carlos Amodeo, também comenta as tratativas:
— Não tinha ninguém capitaneando as conversas, uma negociação depende de duas partes. Esse negócio, circunstancialmente, estava sendo liderado pelo Marcos Herrmann com o meu apoio e também acompanhado pelo presidente (Romildo). Naquele momento, eu acumulava a função de diretor-executivo.
Com o acerto entre Grêmio e Douglas Costa, o jogador e seu empresário, Junior Mendoza, buscaram a liberação na Juventus. Consta como uma das cláusulas de que a negociação seria encerrada caso o time italiano não cedesse o vínculo sem custos. Ele veio emprestado até junho de 2022, com pré-contrato firmado para ampliar a permanência até dezembro de 2023.
A reportagem teve acesso aos contratos de trabalho e de imagem assinados entre Grêmio e Douglas Costa no início de 2021. No vínculo acertado, que tinha validade até dezembro de 2023, o jogador tinha salário mensal bruto de R$ 800 mil (sendo R$ 320 mil como direito de imagem e R$ 480 mil como contrato CLT). Mas o que tornou o contrato de 31 meses um negócio com maior peso financeiro foi a estrutura de bônus. O clube concordou em pagar mais R$ 24 milhões, em seis parcelas. As três primeiras com vencimentos em 20 fevereiro, 20 maio e 20 de setembro de 2022. Outras duas prestações seriam em fevereiro e setembro de 2023. O último pagamento estava previsto para fevereiro de 2024. Para cada temporada que participasse de mais de 60% dos jogos, ganharia mais R$ 3,6 milhões (12 parcelas mensais de R$ 300 mil).
Sem ter o rendimento esperado, e após a série de polêmicas com a torcida e direção pela tentativa de realizar uma festa no Rio de Janeiro para celebrar o casamento com a modelo Nathália Felix, as partes passaram o início de 2022 em negociações para encerrar o vínculo. Entre idas e vindas, e após iniciar os treinos de pré-temporada com o restante do grupo, o jogador aceitou a proposta de rescisão após alguns clubes interessados recuarem do interesse em um empréstimo pelos valores envolvidos no negócio. Douglas Costa abriu mão de milhões para facilitar a saída para o Los Angeles Galaxy, dos Estados Unidos, e aceitou a proposta de acordo.
A rescisão, assinada em 10 de fevereiro, deixará um passivo de cerca de R$ 6 milhões, valor proporcional dos bônus cumpridos no contrato, além do pagamento estabelecido em acordo judicial de valores pendentes de salário e direitos de imagem da última temporada. O pagamento na Justiça será de cerca de R$ 400 mil.