O Grêmio tinha tudo para viver uma noite de domingo (3) inesquecível, mas faltou o resultado acompanhar a expectativa que havia sido criada para este momento. Na rodada que marcou o retorno da torcida à Arena, após 570 dias de ausência por conta da pandemia, pouco mais de 7 mil gremistas viram o Tricolor ser derrotado por 2 a 1 pelo Sport. Sob vaias e um ambiente de revolta, o time de Felipão ficou estacionado na 18ª colocação, sem deixar o Z-4 do Brasileirão.
— A torcida fez mais falta para o Grêmio do que o Grêmio para sua torcida. O Grêmio é movido por sua torcida. Quem é gremista sabe disso — disse o jovem Guilherme Martinello, de 27 anos.
Além da paixão pelo Tricolor, o jovem deixou Capão da Canoa ostentando a carteira de vacinação, que atestava as duas doses contra a covid-19. Este era um dos pré-requisitos para sentar outra vez nas cadeiras da Arena.
Por conta dos protocolos sanitários, as arquibancadas não estiveram tão abarrotadas de gente como na última vez, em março de 2020, no Gre-Nal pela Libertadores, quando a palavra coronavírus começava a surgir no vocabulário gaúcho.
— Nós tínhamos três motivos para não vir: o horário ruim da partida, o time que vem jogando pouco e o adversário pouco atrativo. E, assim mesmo, nós viemos — brincou Nelson Grotto, natural de Faxinal do Soturno.
Esta mescla de saudade e euforia foi levada para dentro do estádio, fazendo com que cada acontecimento ganhasse outra proporção.
Já no aquecimento dos goleiros, antes mesmo do apito inicial, Gabriel Chapecó e Brenno foram recepcionados pela primeira vez por aplausos, em vez de um som mecânico que saía dos alto-falantes.
O mesmo ocorreu com Douglas Costa e Felipão, os mais ovacionados quando o telão apresentou a escalação inicial. Casualmente, os dois ídolos estavam se reencontrando com os fãs, neste retorno de ambos ao clube.
— Tem de ganhar hoje (domingo). A torcida agora vai dar pressão e a coisa vai mudar. Vai ser 3 a 0 — sentenciou o confiante Cristian, enquanto aguardava na fila, ao lado do pai Airton Grade.
Estas e tantas outras histórias serviram como combustível para que o Tricolor se jogasse ao ataque nos minutos iniciais. Tudo estava lá, como nos velhos tempos. Os cânticos que ecoavam pelas paredes, os gritos de "uh!" a cada cabeceio de Borja, os corpos que se levantavam a cada cruzamento de Vanderson.
Porém, a expectativa foi dando lugar à apreensão. Assim, começaram a surgir os primeiros murmúrios de reclamação quando o juiz assinalou uma falta de ataque. Depois, Sander acertou o travessão gremista, até aparecerem as primeiras vaias, embora tímidas, na saída das equipes para o intervalo.
Felipão tentou recuperar a confiança do torcedor na volta para o segundo tempo, colocando Campaz e Guilherme Guedes nas vagas de Alisson e Rafinha, e a mudança foi recebida com aplausos. Contudo, foram os visitantes que chegaram às redes, com Gustavo aproveitando rebote após cobrança de falta efetuada por Hernanes.
Foram segundos de um silêncio retumbante. Em seguida, a torcida tentou empurrar o time com o velho grito de guerra, que foi aumentando gradativamente: "Grêmio, Grêmio, Grêmio….".
O resultado imediato foi um cabeceio de Borja, tirado por Thyere em cima da linha. Mas foi Mikael quem fez os pernambucanos, donos do pior ataque do campeonato, ampliarem o marcador.
O desenho transformou os apoios em vaias, que tiveram até mesmo o presidente Romildo Bolzan como alvo. O clima transbordou das cadeiras para dentro do gramado, deixando os atletas extremamente nervosos. No fim, Douglas Costa ainda conseguiu descontar, em belo chute de fora da área. Apesar da pressão nos últimos minutos, no entanto, o Tricolor não chegou sequer ao empate.