Um dos principais ídolos do Grêmio nos anos 2000, o ex-meia Tcheco hoje faz sucesso à beira do campo no interior paranaense. Ele comanda, desde o início da temporada, o FC Cascavel, que disputa a Série D do Campeonato Brasileiro. Na competição nacional, classificou a equipe na vice-liderança do Grupo 8. Na segunda fase, a primeira de mata-matas, empatou em 0 a 0 com o Cianorte no jogo de ida, fora de casa, e decide a classificação às oitavas de final neste sábado (18), em casa.
O grande feito, porém, que chamou atenção de todo o país, aconteceu no Estadual. Depois de uma classificação em segundo lugar na primeira fase, passou pelo Maringá nas quartas e pelo poderoso Athletico-PR nas semis. Ninguém imaginava que o clube do oeste paranaense, de uma cidade distante quase 500 quilômetros da capital Curitiba, poderia superar o atual tricampeão estadual e semifinalista da Copa do Brasil. Mas o time de Tcheco empatou fora e venceu em casa, de virada, para levar o clube pela primeira vez à decisão do Campeonato Paranaense em sua história.
— A euforia da cidade, dos torcedores, dos dirigentes, não poderia ser diferente. Se pudesse ter público, algo que está sendo estudado para a final, certamente lotaria os quase 30 mil lugares do estádio. Estamos invictos, passamos pelo Athletico-PR e agora teremos dois jogos difíceis contra o Londrina — relata Tcheco, lembrando que as finais devem ser realizadas em outubro, mas ainda não têm data definida.
Antes do FC Cascavel, o ex-capitão tricolor trabalhou como auxiliar-técnico no Coritiba, clube pelo qual encerrou a carreira de jogador, em 2012, e também no Paraná, onde jogou na época de juventude. Chegou a ser treinador interino do Coxa, em 2018, e recebeu o convite para ser efetivado. Porém, recusou porque entendia que ainda não era o momento.
— Achava que não era a hora, não tinha o conhecimento que o clube merecia ainda. Também tinha a ideia de começar um pouco por baixo, em clubes menores, para conhecer outros estilos de jogo, outros mercados, dificuldades. Por isso, fui para o Barra, da segunda divisão catarinense — conta.
Tcheco ficou pouco tempo por lá, em 2019, e terminou o campeonato em sétimo, sem a vaga na primeira divisão. No ano seguinte, assumiu o Rio Branco de Paranaguá, no Paraná, e levou o time às quartas de final do Estadual. Porém, acabou demitido, com o início da pandemia. Assim, abriu caminho para que fosse contratado pelo FC Cascavel para a temporada 2021.
— Venho progredindo dentro dos desafios que se colocam e alcançando os meus objetivos. Ainda não penso na próxima temporada porque temos metas a atingir aqui ainda, mas se eu não permanecer no clube almejo coisas maiores. O que penso para a minha carreira é chegar, ser contratado pelo trabalho, não pelo nome — destaca.
Aliás, o carinho pelo Grêmio tornou-se um desejo, quase um plano de carreira. Tcheco sonha, um dia, retornar ao clube e estar na casamata tricolor. Essa meta, no entanto, não tem prazo. Mas tem um propósito bem definido:
— É meu sonho voltar ao Grêmio, mas quero chegar por trabalho e merecimento. Estou buscando o meu espaço. Não quero ser contratado porque é o Tcheco, porque joguei no Grêmio. Vou voltar um dia, não sei se daqui três, quatro ou cinco anos, mas com embasamento e uma história como treinador. Tenho a minha como jogador, e muitos me cobram o título que faltou, mas quem sabe um dia retorno para dar esse título que faltou como jogador, agora como técnico.
Convites, inspirações e estilo ofensivo
O bom retrospecto nesta temporada rendeu convites para assumir outras equipes das séries C e B do Brasileirão, com salário bem mais alto do que recebe no interior do Paraná. Porém, optou por terminar o trabalho que começou no FC Cascavel para consolidar seu nome no mercado.
Ainda que possa alcançar o título da primeira divisão estadual pelo clube, a grande meta da equipe em 2021 é subir para a Série C do Brasileirão. De acordo com Tcheco, a expectativa é de que, em até cinco anos, o time possa estar na Série B. Por isso, o jogo deste fim de semana, contra o Cianorte, também do Paraná, tem tanta importância.
— Esse é o principal objetivo do clube. Claro que vamos buscar o título paranaense, mas pelo projeto do FC Cascavel a Série C é a cereja do bolo. Temos uma partida difícil contra o Cianorte, que ficamos no 0 a 0 no primeiro jogo. Agora, dentro de casa, nos consideramos fortes. Empatamos com eles no Estadual, sabemos que é complicado, mas estamos confiantes — garante o ex-meio-campista.
Com o quarto melhor ataque da primeira fase da Série D, Tcheco se considera um técnico bastante ofensivo. Gosta que as suas equipes joguem de forma objetiva, sempre buscando o gol adversário. Tem como exemplos técnicos como Rubens Minelli, Paulo Autuori e Mano Menezes, com quem trabalhou ao longo da carreira de jogador. No cenário internacional, se inspira em Jürgen Klopp, do Liverpool.
— Acompanhei o trabalho dele na Alemanha e, depois, na Inglaterra. Visitei o Liverpool quando o Lucas Leiva (ex-companheiro de Grêmio) jogava lá. É um dos treinadores que mais gosto. Lembro de uma entrevista em que ele falou da diferença de trabalho dele para o Guardiola, que os times do Guardiola eram como uma orquestra, de mais posse de bola, e os dele mais rock and roll, mais objetivos. Eu me identifico mais com o estilo dele, até porque essa capacidade do Guardiola é única, ninguém consegue fazer igual — afirma o treinador.
"Já me sinto preparado. Tenho uma linha de conduta, ideias de variações táticas se necessário. Tenho as minhas convicções bem enraizadas, acho que isso é importante. Quando o Coritiba me convidou, eu não tinha essa segurança. Hoje estou mais tranquilo, com sete anos de experiência como auxiliar, agora essas três temporadas como treinador e mais o tempo que tive como atleta. Estou pronto para assumir desafios maiores"
TCHECO
sobre trabalhar em clubes da elite do futebol brasileiro
Para se aprimorar, fez cursos de análise tática, gestão e até de executivo na Universidade do Futebol. Também tirou as licenças A e B da CBF para poder exercer a função de treinador no Brasil. Além disso, buscou um auxiliar que o complementasse. Em sua avaliação, é um técnico que trabalha muito as questões de ataque. Por isso, considera complementar o trabalho do auxiliar José Luiz, que é mais focado na parte defensiva.
— Ele é meu auxiliar desde o meu primeiro trabalho. Trabalhou 25, 30 anos no futsal, que traz muito coisa para o campo, ainda mais nos trabalhos de campo reduzido que se usa muito hoje em dia. Dentro dos nossos propósitos táticos, nos ajudamos muito. A gente se completa — afirmou, antes de tratar de seu estilo de jogo preferido:
— Depende muito das características dos jogadores que eu tenho. Gosto de times ofensivos. Meu desafio, dentro desse perfil, é criar alternativas para a equipe chegar perto do gol. Na última parte do campo, o que vão fazer é dos jogadores. As tomadas de decisão para chegar ao gol são com eles. O jogador que vai ditar o sucesso da tua maneira de jogar. A gente tenta criar possibilidades para que isso aconteça.
Ex-capitão do Grêmio, espera que a liderança de vestiário possa ajudá-lo a ter sucesso em diferentes perfis de elencos e cobranças. Hoje, está na Série D e disputando o título paranaense. Mas espera, em breve, alçar voos maiores. Quem sabe, um retorno a Porto Alegre para conquistar uma taça que ficou devendo enquanto jogador.