O maior jogador de futsal de todos os tempos desembarcou em Porto Alegre para vestir a camisa do Grêmio. Anunciado na quarta-feira (28), Falcão foi apresentado nesta sexta como reforço da equipe de Futebol 7 do Tricolor. Ele vestirá a tradicional camisa 12, que o consagrou nos ginásios, agora também nas quadras de grama sintética. Com 43 anos e aposentado há dois, ele viverá entre São Paulo, onde mora, e o Rio Grande do Sul. Com contrato específico para o Fut7 Nacional (Campeonato Brasileiro) e a Liga das Américas (Libertadores), o atleta não precisará morar no Estado, mas estará com os companheiros sempre que tiver jogos por essas competições. Entre os objetivos: popularizar o futebol 7 e tornar o Grêmio campeão do mundo também na grama sintética.
— Estou aqui no Grêmio pelo projeto do clube, mas também para deixar um legado — disse Falcão.
Confira a entrevista:
Como chegou para ti esse convite para jogar no futebol 7 do Grêmio e o que te levou a aceitar esse desafio?
Desde que parei de jogar tive vários convites, mas nada me apeteceu, até porque eu resolvi parar. Mas o Grêmio me procurou há um mês eu perguntei qual era a expectativa e vi que tinha realmente um calendário, uma programação. E é isso que o futebol 7 precisa. Ter um início, um meio e uma sequência. Quando os diretores do Grêmio me procuraram, que eu vi que o negócio era sério, que o clube tinha abraçado, quando recebi os vídeos de uma sede própria, que tinha uma comissão técnica própria, que tinha um investidor, tudo isso mexeu muito comigo. Queria vivenciar essa experiência de um clube grande. Então, depois de aposentado ter uma proposta de um clube desse tamanho, com um projeto que não vai exigir tanto de mim, foi muito bacana. Quero ser uma figura do futebol 7 como foi o Júnior no Beach Soccer anos atrás e deixar um legado, para que as coisas passem a acontecer cada vez mais para o futebol 7 e que realmente esse legado possa empregar muita gente, profissionalizar a modalidade. Estou aqui no Grêmio pelo projeto do clube, mas também para deixar um legado.
Quais teus objetivos agora como jogador do Grêmio Fut7?
Os números que eu alcancei no futsal foram pela minha ambição. Sou movido a querer ganhar, a gols, a títulos. A ideia era eu estrear só em dezembro, mas quando soube queria tinha esse jogo no sábado quis quebrar logo esse gelo. Quero entrar no grupo, bater um papo, brincar, e aí me preparar para a Liga das Américas. Claro que me preparar como uma pessoa que parou de jogar há dois anos, que tem 43 anos e vai precisar correr atrás dos meninos de 20, tudo isso tem um limite. Mas dentro desse limite eu quero muito ser campeão da Liga das Américas, que vai nos dar o direito de jogar o Mundial, e já estou vivenciando esse Mundial lá em Moscou no ano que vem e chegar com o troféu aqui no Rio Grande do Sul, com a torcida nos esperando. São coisas que vivi pouco com clubes de camisa, mas sou muito privilegiado por ter novamente essa oportunidade com uma torcida me abraçando desde o início. Estou muito motivado e feliz.
Como está sendo receber esse carinho da torcida do Grêmio?
É diferente de tudo. Quando iniciaram as especulações há 10 dias, como eu não falava nada nas redes sociais, gerou alguns comentários. Mas depois de quarta-feira, quando o Grêmio anunciou, foi impressionante. A minha caixa de mensagens não só das redes sociais, mas de amigos, pessoas que convivem comigo, todos muito felizes. O Grêmio causa isso. É uma camisa fortíssima, conhecida no mundo inteiro, com uma torcida apaixonada, com uma história de 117 anos de glórias. Tudo isso pesa muito. E ser abraçado por tudo o que fiz no futsal me dá uma responsabilidade maior de me preparar, fazer bons jogos e ser campeão. Seria um desrespeito eu vir caminhar no jogo, só tocar na bola, fora de peso, então já que eu topei esse desafio vou me preparar da melhor maneira possível para representar essa camisa.
Qual a expectativa para essa estreia neste sábado no time de futebol 7 do Grêmio?
O futebol sete é muito parecido com o futsal, ainda mais quando é jogado em um campo fechado. Facilita muito, porque não tem quadra e bola molhadas, não tem o vento. O jogo em si é muito similar com o futsal. Estou bem tranquilo. Claro que vai bater um nervosismo, porque não estou indo bater uma bola com os amigos que é a minha rotina desde que parei de jogar, participar de eventos e dar bicicleta, dar chapéu, agora não, tem uma competição, um compromisso com a camisa. Mas tenho experiência para lidar com isso. Estou preparado. Eu não escolho adversário ou momento para fazer as minhas jogadas. Se a bola sobe perto do gol eu vou dar uma bicicleta seja com os meus filhos em casa ou em uma final de campeonato. Isso é uma característica de jogo minha que será colocada em prática a partir deste sábado pelo time do Grêmio.
O Renato te mandou uma mensagem de boas-vindas e você foi recebido na Arena. O que dá para projetar dessa relação entre os times de futebol 11 e sete do clube?
Essa relação começou da melhor maneira possível, já tendo o apoio do treinador. Ele não é só o treinador, é o maior ídolo da história do clube. Pouco clubes ou nenhum tem o engajamento tão grande do ídolo como o Renato tem com o Grêmio por toda a sua história como jogador e treinador. Os jogadores querem estar junto, nós queremos estar com eles. Quando o Grêmio for a São Paulo vou jantar com eles, ter esse contato direto. O Renato tive alguns contatos com ele no Maracanã, os jogos do Zico. Não sou amigo dele, mas quero ser, porque ele é um personagem vitorioso do futebol. E na Arena pouca gente sabe, mas eu fiz gol aqui já naquele "Jogo Contra a Pobreza", do Zidane e do Ronaldo, no final de 2012. Eu fiz o segundo gol daquela partida.
O que representa para ti vestir a camisa do Grêmio?
Foi o que mais mexeu comigo. Se não fosse uma camisa com esse tamanho, talvez e preferisse seguir fazendo apenas os meus eventos. Mas poder vivenciar isso, acho que é algo que eu merecia, de poder uma torcida me abraçar de novo. E eu consigo ser abraço por uma torcida sem perder o respeito dos rivais. Aqui com o Inter tenho certeza que será assim, até porque eu respeito muito os clubes e suas histórias. Hoje estou defendendo o Grêmio, mas respeito os adversários. Agora, o que me tirou da minha casa, com a vida estabilizada, para encarar esse desafio foi por ser um clube do tamanho do Grêmio.
Todos se acostumaram a te ver jogando futsal. Mas o que tu passou a fazer e como foram esses dois anos de aposentadoria?
Na verdade eu planejei a minha aposentadoria. De 30 dias no auge dos meus eventos, eu passava dois ou três em casa. Viajei o mundo inteiro fazendo eventos e cumprindo compromissos com os meus patrocinadores. Então eu não parei e acordei de manhã e pensei: "E agora, o que vou fazer?". Eu parei de jogar com um planejamento feito, uma agenda definida. Voltar a jogar agora é uma coisa diferente, porque o futsal eu tinha que treinar todo dia, morar na cidade que jogava, viajava com o time. Agora, não. É uma coisa esporádica. Eu jogo aqui no sábado e depois volto só em dezembro. Depois só em março. A gente tem esses compromissos de acordo com o calendário do futebol 7. Eu não preciso estar longe da minha casa, dos meus filhos. Se fosse para ter aquela rotina eu jamais voltaria, porque eu parei de jogar por causa disso. É um desaposentamento diferente, que eu não preciso mudar tudo na minha vida.
Consegue acompanhar o futebol de 11 em meio à essa rotina de eventos, e o tens visto a dupla Gre-Nal?
Claro que acompanho. Assisti a vitória do Grêmio sobre o Juventude por 1 a 0, acompanho a cobrança do Brasileirão em cima do Grêmio. Mas a gente sabe que o Renato gosta do mata-mata. O Inter também vem fazendo um grande Campeonato Brasileiro. Aqui ninguém deixa o outro respirar. É uma rivalidade sadia, onde um só é tão grande porque existe o outro. E nada se compara a um Gre-Nal. É o tipo de jogo que todo mundo acompanha, que lá em São Paulo o pessoal deixa de assistir o seu time muitas vezes para acompanhar o Gre-Nal.
Qual o recado que tu queres deixar para a torcida tricolor?
Primeiro quero agradecer ao carinho do torcedor, que me recebeu muito bem. A procura de camisa, está muito legal isso. Isso me deixa muito feliz por ter deixado esse legado, por as pessoas ainda serem fãs do Falcão pelo futsal, pela seleção. Isso mostra que tudo o que eu fiz valeu a pena e que torcidas que às vezes a gente nem tem noção acompanham a nossa carreira. E que abracem o futebol 7, independentemente de o Falcão estar ou não. Que seja um projeto duradoura e que a torcida abrace mesmo, que seja para sempre. Porque um projeto como esse leva a camisa do Grêmio para outros lugares, onde o futebol muitas vezes não leva.