Não haverá estádio cheio. Muito menos pressão de torcida ou ambiente inóspito. E talvez isso seja a grande armadilha à espera do Grêmio nesta noite, no Defensores del Chaco. A partir das 21h30min, o clube gaúcho defende a vantagem de dois gols trazida da Arena e buscará, em sua segunda Batalha de Assunção em 100 dias, a vaga nas quartas de final.
O lado positivo é de que o Grêmio já está escolado. No dia 23 de abril, buscou sua salvação justamente contra o Libertad no mesmo Defensores del Chaco. Venceu por 2 a 0 diante de menos de 10 mil pessoas, em um cenário que nem lembrava uma Libertadores. Mesmo que agora o caráter do jogo seja de decisão para os paraguaios, a previsão de público é a mesma.
— Nossa concentração precisa aumentar ainda mais. O Renato nos cobra sempre isso —alertou o lateral-esquerdo Cortez após o treino no campo anexo à sede da Conmebol.
Em seguida, porém, Cortez fez questão de ressaltar que, embora a previsão de que muitos dos 42 mil lugares do estádio estejam vazios, trata-se de uma decisão de vaga nas quartas de final. O que colocará muita eletricidade no jogo.
— Será um jogo difícil, pode esperar por uma guerra — previu o lateral.
Há um consenso no Grêmio de que o Libertad deixou enterrada na Arena uma ideia de jogo mais conservadora. A previsão é de que os paraguaios busquem o gol logo no começo e exerçam uma pressão intensa nos primeiros 15, 20 minutos, como forma de minimizar o prejuízo levado de Porto Alegre.
— É um bom time, virá para cima nos primeiros minutos, exercerá aquela pressão habitual de quem joga em casa — apostou o diretor de futebol Alberto Guerra.
O Libertad não é propriamente um clube popular no Paraguai. Embora tenha completado 114 anos na terça-feira, sua história tem mais capítulos a partir dos anos 2000, quando subiu de volta à elite impulsionado pelo dinheiro de Horacio Cartes, empresário, um dos homens mais ricos do país e que, entre 2013 e 2018 ocupou a cadeira de presidente do Paraguai. Em 18 anos deste século, o Libertad conquistou 14 dos seus 20 títulos paraguaios. Em 2006, ganhou notoriedade no continente ao chegar à semifinal da Libertadores.
Hoje, é o clube que paga os melhores salários no futebol paraguaio e tem capacidade para repatriar figurinhas carimbadas locais, como os veteranos Paulo da Silva, zagueiro de 39 anos, e Tacuara Cardozo, centroavante de 36 anos. Cardozo, aliás, concentra as atenções gremistas. A projeção é de que o Libertad procure muito a bola área em cruzamentos para ele. Ou o acione para fazer o pivô e segurar a bola para os meias.
O Grêmio tem como trunfo para suportar essa pressão inicial do Libertad justamente seu modelo de jogo. A troca de passes e o estilo de toques costumam arrefecer o adversário, principalmente, por permitir que o time tenha o controle do jogo. Em conversa informal no saguão do Bourbon Hotel, o diretor de futebol Alberto Guerra mostrou-se convencido de que isso beneficiará o Grêmio no Defensores del Chaco:
— Jogamos até melhor fora de casa por causa desse estilo.
Talvez escolado nisso o Grêmio passa dias de absoluta tranquilidade em seu QG no Bourbon Conmebol Hotel, vizinho à sede da entidade. Pela manhã, quarta-feira, jogadores caminharam pelo saguão e visitaram a lojinha de souvenirs antes do almoço.
À tarde, depois de ver um vídeo produzido pela comissão técnica com lances de jogo e frases de Guardiola em que valoriza a ousadia do jogador brasileiro, veio o treino com o calor da torcida, que esperava o grupo no acesso ao campo da Conmebol. Houve tempo para selfies, autógrafos e pedidos pela vitória.
A previsão nesta noite é de que entre 1 mil e 1,2 mil gremistas estejam no Defensores del Chaco e façam do histórico estádio paraguaio uma extensão da Arena. E talvez more aí a maior armadilha. Mesmo que o ambiente seja favorável, se trata de uma decisão por vaga nas quartas da Libertadores, com todo o seu peso. Passando por Assunção, Santiago estará a quatro jogos. Portanto, todo o cuidado é pouco.