Ninguém contesta a veia goleadora do Grêmio. Em 13 jogos na temporada, foram 30 gols. Na média, a cada 39 minutos de confronto, o adversário tem de ir buscar a bola na própria rede. É quase como se a partida começasse 2 a 0 para a equipe de Renato Portaluppi. E, além deste dado impressionante, há outra marca que não deixa de ser inusitada: das três dezenas de vezes que o time marcou, apenas cinco foram de centroavantes. Jael, que já saiu e agora demonstra sua crueldade em solo japonês, fez dois gols. Felipe Vizeu, também. André deixou o seu contra o São José. Esse é o mistério entre os titulares gremistas, que voltam a campo neste domingo, às 16h, no confronto de ida das quartas de final, diante do Juventude, no Alfredo Jaconi.
A tendência para o jogo é a de que Vizeu ganhe outra oportunidade. Ele atuou em Pelotas na quarta-feira para ganhar ritmo e deve receber sequência. André, que ficou treinando em Porto Alegre enquanto o grupo atuava na Boca do Lobo, segue no banco. Diego Tardelli, outro postulante à vaga, ainda que não seja propriamente um camisa 9 de origem, pode fazer sua estreia como titular, mas aberto pela esquerda.
A pista para essa nova oportunidade ao jogador contratado em 2019 foi dada pelo próprio Renato na última entrevista coletiva:
— Às vezes, o gol não sai, mas daqui a pouco vai sair. Não dá para mexer muito, senão o cara perde confiança.
É nesse ponto que se apoia Gilson Maciel, ex-centroavante tricolor no início dos anos 1990 e atual treinador. Segundo ele, Vizeu deve seguir no time para não desanimar, já que ainda está em processo de adaptação. E precisa se adequar ao estilo da equipe.
— O Grêmio tem um conceito de jogo, que já teve sucesso com Luan jogando de centroavante trocando muitas vezes com Douglas. Depois, teve o crescimento técnico com Jael, um jogador de sustentação de bola que também funcionou. Vizeu ainda está chegando ao clube, André cresceu nos últimos jogos e Tardelli precisa de melhores condições física e técnica. Hoje, a referência goleadora do Grêmio são os extremas, como Marinho e Everton — analisa.
Gilson aborda um ponto interessante. O primeiro time de Renato, em 2016, ganhou a Copa do Brasil sem a figura de um centroavante clássico. Luan era escalado na função e alternava posicionamento com Douglas, um camisa 10 à moda antiga. Apesar do sucesso, no ano seguinte, a direção trouxe Lucas Barrios, do Palmeiras. Ele foi importante na conquista do tri da América, principalmente ao fazer o gol da classificação diante do Botafogo nas quartas de final. Ainda assim, o argentino não foi um grande artilheiro: marcou 18 vezes em 45 jogos pelo Grêmio.
Goleador do Brasileirão 2002 pelo Grêmio, Rodrigo Fabri também falou sobre a situação dos atacantes — e destacou que, hoje em dia, a posição de centroavante vive um período de baixa no futebol brasileiro.
— Às vezes, os centroavantes não marcam muitos gols, mas são importantes como pivôs ou em movimentação para abrir espaço para os meias e volantes que chegam de trás. O gol é uma consequência. E outra, estamos vivendo uma safra ruim de artilheiros. Não é só o Grêmio: no Brasil, os melhores jogadores nessa posição, Ricardo Oliveira e Fred, estão em final de carreira. Todos os times sofrem com a carência nessa posição — analisa.
O time parece não necessitar de um centroavante goleador para funcionar. E não é a primeira vez que isso ocorre. Ainda que equipes gremistas tenham sido campeãs com um 9 legítimo (Baltazar, Nando, Nildo, Jardel e Barrios, por exemplo), há outras conquistas que não necessitaram de um jogador mais posicionado. O Grêmio de 1996 teve Zé Alcino e Paulo Nunes como dupla de ataque; o de 2001, Marcelinho Paraíba e Luís Mário. Rodrigo Mendes fez parte da equipe de 2002, semifinalista da Libertadores, e opina:
— No estilo do Grêmio, de construção de jogo desde a defesa, o ataque começa lá atrás. Quem faz o gol é irrisório e os gols do conjunto todo mostram equilíbrio. É uma bobagem dizer que o atacante vive de gols e que precisa aparecer fazendo gols. Isso aumenta a pressão. Mas realmente ainda não tem um ataque definido na equipe e todos precisam render mais para atingir o nível e a história do clube.
FELIPE VIZEU
9 jogos
430 minutos
2 gols
1 assistência
6 finalizações
ANDRÉ
8 jogos
407 minutos
1 gol
4 assistências
5 finalizações
TARDELLI
3 jogos
65 minutos
0 gol
1 assistência
0 finalização