Jael marcou depois de quase um ano e meio de jejum. Contra o Novo Hamburgo. De pênalti. Segundo tempo, já estava 2 a 0. Se perdesse, nada aconteceria. Mas marcou. E aconteceu.
Jael foi quase ovacionado pela torcida, sem ironia nenhuma. Como se fosse final de campeonato e não era.
Além de não marcar, Jael vinha apanhando da bola. Esteve mais para pierrô do que pivô. Fora o passe decisivo para o gol de Cícero no primeiro jogo contra o Lanús na final da Libertadores, ele e a bola estavam brigados. Mas a torcida se conteve nos piores lances. Soube aplaudir jogadas desastradas, soube conter a angústia. E esperar.
Jael marcou finalmente. Claro que é mais fácil ser condescendente nas horas boas como andam as do Grêmio, mas tem quem não o seja nunca.
A torcida foi. A torcida é. A torcida é a mãe pacienciosa com o erro do seu filho. A mãe que vê o gesto casual como um momento épico, a pequena vitória como definitiva. Nos casos maternos, o filho se alivia. O que era pesado fica leve e pode até mesmo se livrar do defeito. Defeitos são inevitáveis, mas cedem a um olhar otimista de mãe ou substitutos de mãe como professora ou torcida. E, não raro, se desfazem diante da esperança.
A torcida do Grêmio não perdeu a esperança com Jael, e ele já deu uma pequena resposta. Como um filho de movimentos descoordenados e que, estimulado pela mãe, alcança o último nível do trepa-trepa. Como a filha com dificuldades na aprendizagem e que, estimulada pela mãe, torna-se escorreita na leitura. Nos casos de olhar, otimismo e esperança maiores desta mãe, o patinho feio vira cisne.
A pomba desajeitada, esquilo aos olhos da mãe, mas olhos de mãe ecoam e podem se tornar convincentes para todo o parque.
No estádio, Jael marcou. De pênalti. Na partida já decidida. A torcida soube esperar. Como nas mães, o humor de uma torcida pode oscilar bruscamente, mas tem horas contingentes de abrir espaços para o filho adquirir confiança e crescer. Agora é tempo de Jael para conhecermos o tamanho do poder materno da torcida gremista.