É só por telefone ou redes sociais que os jogadores do Grêmio têm se comunicado com os familiares nas 48 horas que antecedem as partidas. Quem tem namorada precisa se contentar com fotos ou vídeos da amada.
Durante este período, os convites para baladas são ignorados. Ao lançar a operação Carne Fraca, numa referência às avessas ao trabalho da Polícia Federal, Renato Portaluppi instituiu uma cartilha de comportamento que, até agora, tem funcionado.
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A primeira experiência foi antes da partida contra o Juventude. O time vinha de um empate em 2 a 2 contra o Novo Hamburgo, o quarto consecutivo no Gauchão, e os primeiros rumores sobre queda de rendimento físico passaram a pairar no CT Luiz Carvalho.
– Nem todos são os profissionais que deveriam ser – foi o sintomático comentário de Renato Portaluppi ao justificar a medida.
Na noite de 25 de março, um sábado, o Grêmio teve um dos melhores desempenhos da temporada e não enfrentou qualquer dificuldade para fazer 4 a 0 na equipe caxiense. Ficava claro que o repouso havia feito bem ao grupo.A receita voltou a ser aplicada antes do jogo contra o Veranópolis. Outra vez seguida de bom resultado: 2 a 0 no Antônio David Farina e a vaga na semifinal praticamente garantida.
Ao falar em profissionalismo, o treinador poderia não se referir necessariamente a excessos noturnos. Tanto que, na entrevista seguinte, disse não se importar com o que os jogadores faziam "do portão para fora". Ao mesmo tempo, afirmou que, ao antecipar a concentração, tratava de não dar chance a excessos. Foi quando usou a sequência de frases que simboliza o regime de concentração.
– A carne é fraca. E a única carne fraca que eles vão ter é na concentração. Frango, carne. Depois do jogo, aí tem carne dura, carne de pescoço, carne mole.
Renato minimiza a importância dada à concentração. Diz que se trata de uma rotina nos clubes em que é chamado a trabalhar. Repete-se, conta ele, uma estratégia utilizada na decisão da Copa do Brasil, vencida pelo Grêmio.
– Estamos em meio a uma maratona. Faremos tudo o que for melhor para o grupo dentro e fora de campo – assegura.
A apresentação antecipada no hotel permite que a nutricionista Katiuce Borges, há quatro anos atuando junto aos profissionais, tenha um maior controle sobre as 3 mil calorias diárias recomendadas em média aos jogadores.
– Facilita porque podemos oferecer a comida e saber que eles estão se alimentando bem – afirma.
Nesta semana, por exemplo, em que a apresentação ocorreu na noite de quinta-feira, o controle foi mais tranquilo. Na sexta-feira pela manhã, os jogadores tomaram café da manhã juntos e foram para o treino na Arena.
Depois, ainda em grupo, seguiram para o almoço, lanche da tarde, jantar e ceia. Nos intervalos entre uma refeição e outra, muitas horas de sono, o que talvez não fizessem se estivessem em casa.
– A maioria se cuida, mas a gente nunca sabe. Como a quantidade de jogos é maior, o gasto é grande e o reforço na alimentação se faz necessário – completa Katiuce.
Não houve imposição para que a concentração fosse antecipada, garante o lateral-esquerdo Marcelo Oliveira, capitão da equipe durante a ausência de Maicon. A medida nasceu de um comum acordo entre comissão técnica e jogadores. E só traz benefícios, assegura.
– No hotel, você tem alimentação regrada e descanso também. Tem muita gente que é pai recente, o bebê é novo, chora bastante na madrugada. Nos jogos decisivos, é importante este descanso para estar 100% – destaca.
Nem todos os treinadores pensam da mesma forma. Exemplo: não diga a Abel Braga, do Fluminense, que pode ser positivo reunir o grupo 48 horas antes do jogo. Desde 2012, quase sem exceção, o técnico aboliu a concentração nos clubes em que trabalha.
– Meu time não concentra. Nem na final contra o Flamengo (Taça Guanabara) fizemos isso. Está ultrapassado, fora de contexto. Pelo número de jogos que tem durante o ano, o jogador entrará em depressão se concentrar antes de cada um deles – entende Abel.
Em jogos no Rio, a apresentação ocorre às 11h, antes do almoço. Os jogadores só se reúnem um dia antes quando precisam viajar para disputar uma partida.Com um sorriso, Abel recorda que, em 2014, também tentou abolir a concentração no Inter. Foi aconselhado por D'Alessandro a rever sua ideia.
– Havia alguns jogadores que não se comportaram e D'Ale pediu para voltar a concentração (risos). Ele conhecia o grupo e viu que algumas coisas estavam fora do lugar. Eu tenho grande admiração por D'Alessandro. Sempre o cito como exemplo de profissionalismo – diz Abel.
Campeão da Copa do Brasil de 2014, o Atlético-MG aboliu a concentração em jogos em casa na metade daquele ano. Para Levir Culpi, então treinador da equipe, os jogadores já eram excessivamente punidos por ficarem distante da família a cada viagem. Ao justificar a medida, dizia confiar no profissionalismo de cada um deles para evitar desgaste exagerado nos dias de folga.
– Concentração não ganha jogo. Os casados com filhos preferem ficar em casa. Mais importante são as oito a 10 horas de sono para um equilíbrio físico um dia antes dos jogos. No Atlético, mesmo com olhares desconfiados, conquistamos grandes resultados. Cometemos erros, mas formamos um grupo vencedor apelando para a consciência profissional dos jogadores – recorda Levir.
Na terça-feira, quando tomarem o rumo da Arena para a partida contra o Iquique, pela Libertadores, os jogadores do Grêmio terão completado 96 horas de concentração, incluído o jogo deste sábado, frente ao Veranópolis. Se a vaga na semifinal do Gauchão tiver sido conquistada, já sabem que o novo encontro nos corredores do hotel Deville será no próximo fim de semana.
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Luís Henrique Benfica
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