Com o Olímpico, onde o Olímpico estiver: seja no sítio de um torcedor, em salas do CT Luiz Carvalho, ou no chão, em paredes e móveis da Arena. Ao completar 61 anos neste sábado, o estádio ganhou sobrevida por meio de peças cuidadas com carinho por gremistas que jamais darão o adeus definitivo. Enquanto parte do concreto resiste à demolição no bairro Azenha, outros pedaços tiveram novos destinos e mantêm viva a memória da antiga casa tricolor.
O silêncio no local divide espaço com os trabalhos de retirada de materiais do Olímpico, que são frequentes. Segundo o departamento de patrimônio do clube, não há dia em que não se reaproveite alguma mesa, cadeira ou peça do estádio. A lei é utilizar tudo que for possível, desde mobiliário até cabos e tomadas.
A implosão virou uma incógnita. A entrega do complexo à OAS, como contrapartida pela construção da Arena, deveria ter ocorrido em março de 2013. No entanto, ainda não tem data para se concretizar. Parcialmente demolido, principalmente na antiga área que abrigava as piscinas, no lado da Avenida Gastão Mazeron, o Monumental se transformou em moeda de barganha. A posse do terreno, que ainda é do Grêmio, só será transferida para a construtora depois que o clube receber a gestão de seu novo estádio no Humaitá. Até por isso, nenhuma máquina é vista no Velho Casarão desde o fim de março.
A distribuição dos materiais que restam do antigo lar tricolor passou por diferentes fases: houve dois leilões, em que torcedores puderam adquirir itens como cadeiras, casamatas e placas de sinalização. Depois, o Instituto Geração Tricolor e o CT Luiz Carvalho receberam cabos elétricos, extintores e hidrantes, além de móveis.
Foram feitas doações de cadeiras a clubes do Interior, Brigada Militar, Corpo de Bombeiros e até para o Multipalco do Theatro São Pedro. Um dos campos do Parque Marinha (foto abaixo), na capital, recebeu grama do campo suplementar. Nesta semana, a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) instalou assentos em paradas de ônibus que ficam perto da Arena.
Foto: Omar Freitas
Os meninos das categorias de base também vivem daquilo que um dia habitou o Olímpico. A chamada Residência Esportiva, em Eldorado do Sul, às margens da BR-290, ganhou forma onde funcionava um motel. Para transformar o local, foram usadas peças oriundas do estádio: lavatórios, torneiras, tomadas e interruptores, entre outros itens.
É na Arena, porém, que está a maior parte das lembranças do Olímpico. A Central de Atendimento ao sócio (foto abaixo), por exemplo, foi toda montada com peças do extinto Quadro Social. No saguão principal da Central de Administração, está pregado no chão o granito Azul Bahia que antigamente ocupava os saguões dos camarotes do Olímpico. E há mais por vir. Atualmente, são pelo menos quatro depósitos que abrigam materiais. Outros dois estão fechados, aguardando pela chegada de novas peças.
Foto: Omar Freitas
Há itens de todos os tipos: troféus, refletores, placas, quadros e mobiliário da antiga capela. Eles estão guardados a sete chaves, esperando o momento de reaparecerem na nova casa tricolor. A estimativa é que somente a sala que hoje abriga as taças ocupe 300 m² na Arena. A maioria das peças deve voltar aos olhos do público nos próximos meses, com a inauguração do novo memorial do clube.
O sítio que abriga as casamatas
Há quem cultue o Olímpico no pátio e até mesmo dentro de casa. O empresário do ramo calçadista Epifânio Loss, de 61 anos, arrematou a casamata que abrigava comissão técnica e jogadores reservas do Grêmio. A compra ocorreu no segundo semestre de 2013, por menos de R$ 3 mil. De presente do clube, ganhou também a que os adversários habitavam. Ambas estão em seu sítio, em Novo Hamburgo, na Região Metropolitana de Porto Alegre.
- Eu fiquei com grande parte da história do futebol gaúcho ali. Uma está ao lado da outra, mas é claro que a do Grêmio tem um destaque maior - brinca.
Hoje, há muitos amigos e familiares que aproveitam a atração. Não há gremista que não queira uma foto com as casamatas (imagem abaixo). Todas as quintas-feiras, Epifânio recebe convidados para jogar futebol. E lá estão elas, imponentes, como uma atração à parte da pelada.
Aniversário do Velho Casarão
61 anos do Olímpico: gremistas reaproveitam peças e dão sobrevida ao abandonado estádio
Enquanto parte do concreto resiste à demolição, outros pedaços tiveram novos destinos e mantêm viva a memória da antiga casa tricolor
Paula Menezes
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