Softwares de análise de vídeo, plataformas de análise de dados, dispositivos de monitoramento e rastreamento e modelagem matemática fazem parte da parafernália tecnológica que os grandes clubes brasileiros lançam mão na hora de contratar. As ferramentas são tão importantes quanto caras, o que deixa os seus benefícios inalcançáveis para quem, ao menos na quantidade, mais precisa. Caso dos clubes que disputarão o Gauchão 2024 a partir de janeiro.
Enquanto Inter e Grêmio falam em contratações pontuais, e o Juventude conta com uma estrutura mais robusta, as equipes do Interior reformulam a cada ano os seus elencos. Há casos em que um grupo completamente novo é montado para o Estadual. Nenhum dos outros nove participantes chega para disputar o Estadual com menos de 19 contratações realizadas, de acordo com levantamento de GZH. A cada troca de temporada, uma troca frenética de jogadores. O volume impressiona.
Sem contar com o arsenal tecnológico para vasculhar o mercado, outras formas precisam ser utilizadas para garimpar reforços. A expressão que sai da boca de todos os dirigentes do Interior é que a margem de erro para contratações é pequena. Orçamento mensal gira entre R$ 200 mil e R$ 350 mil.
Ainda assim, uma parte consegue recorrer a algum tipo de recurso para ser mais assertivo no mercado de transferências. Beliscando um acesso à Série B nos últimos anos, o Ypiranga tem a maior estrutura, com um processo mais maduro de contratação.
Confira como cada uma das equipes montou o seu elenco para a disputa do Gauchão.
Avenida
A análise após o Gauchão de 2023 foi de que o time perdeu rendimento na reta final devido à falta de opções. A direção acredita que para a próxima edição conseguiu formar um elenco competitivo. O clube conta com um profissional que faz análise de mercado e leva dados para a diretoria e a comissão técnica.
Após a aprovação, quando possível, o jogador-alvo é observado ao vivo em partidas. A estrutura também conta com um banco de dados. Ao menos 22 jogadores foram contratados para a disputa do Estadual.
— Nosso banco não é grande porque traçamos pontos para contratar. A grosso modo, temos de buscar jogadores com rodagem em competições nacionais. Acompanhamos muito as competições. Hoje em dia, todas possuem algum tipo de transmissão. Se possível, acompanhamos o jogador in loco — explica o diretor Guilherme Eich.
Brasil-Pel
São, pelo menos, 24 novas caras no Bento Freitas. Elas chegam em um trabalho conjunto do diretor de futebol Luis Fernando Hannecker e o técnico Fabiano Daitx. O clube conta com uma plataforma de pesquisa que filtra nomes para a análise dos dois. A comissão técnica também conta com um analista de desempenho.
— Na hora de contratar, temos de ter muito argumento para convencer o jogador. Criamos uma linha de ação com o treinador. Vemos muito a questão da treinabilidade do atleta na hora da avaliação. Analisamos vários aspectos — conta Hannecker.
Caxias
Os grenás chegam empolgados após o vice-campeonato da edição passada e o acesso à Série C. Ainda assim, o levantamento de GZH aponta 24 novas contratações para a temporada que se avizinha.
A formação do grupo, conforme o diretor Paulo Cesar Santos, é um quebra-cabeça. As informações são absorvidas da comissão técnica, empresários e de ferramentas de análises. Além de contar com um banco de dados, o Caxias assina diversas plataformas que fazem medição de desempenho. Entre os índices analisados estão minutagem, histórico de lesões, entre outros aspectos.
— Mudamos 70% do elenco. É uma mudança bem agressiva. Fazemos uma análise bem pontual de cada jogador junto com a comissão técnica e o João Corrêa (gerente de futebol) — relata o dirigente.
Guarany-Ba
Um novo Guarany-Ba surge para o retorno do Gauchão. O clube montou um grupo quase 100% novo para o estadual. O estudo de mercado é realizado por dois diretores de futebol. Apesar de ter algumas ferramentas à disposição, o presidente Tato Moreira afirmar que o “feeling” é o mais importante na hora de trazer reforços.
— O mais importante é feeling, o sentimento que o jogador passa. Já tivemos três acessos nessa realidade. Fazemos um estudo pés no chão — argumenta o dirigente.
Mais de duas dezenas de jogadores desembarcaram no Estrela d'Alva. Onze deles atuaram em outras edições do Gauchão.
Novo Hamburgo
O clube dispensou 16 jogadores que compuseram o grupo neste ano. A direção optou por montar um elenco mais enxuto para a arrancada da temporada 2024. A montagem do elenco começou em junho, quando as esperanças de seguir vivo na Série D terminaram.
— Todo dia eu e o Edinho Rosa (técnico) avaliamos nomes. É um trabalho da direção e do treinador. Contamos com um analista de desempenho na comissão técnica também. Mas sou eu quem acaba fazendo a função de analista de mercado — relata o diretor de futebol Ademir Bertoglio.
Santa Cruz
A direção estima ter mantido 20% do elenco que subiu este ano. Das contratações, cerca de 30% partiram de indicações do técnico Paulo Henrique Marques. O restante chegou através do acompanhamento da direção.
As ferramentas utilizadas para formar o grupo foram um banco de dados e um analista de desempenho.
— Temos de pensar de acordo com o campeonato. Tivemos de virar a chave para disputar o Gauchão — avalia Lairton Reis, um dos responsáveis pela formação do elenco, mas que pediu demissão na semana passada.
Virar a chave significa uma mudança total no elenco. São 28 novos atletas contratados.
São José
O acesso à Série B do Brasileirão bateu na trave este ano. O elenco do técnico China Balbino está praticamente montado. Alguns nomes ainda podem chegar até o início do Gauchão. Ainda assim, ao menos 22 atletas desembarcaram na Zona Norte de Porto Alegre.
As contratações são feitas com a participação da comissão técnica e de um analista de mercado.
— Apostamos muito na base. Temos uma política de pés no chão, com pagamento em dia. Isso ajuda muito na hora de contratar — Milton Machado, vice de futebol do clube.
São Luiz
Sem ter competições no segundo semestre, o São Luiz admite ter alguma dificuldade para contratar para o Gauchão. Um dos argumentos apresentados aos possíveis reforços é que o clube é uma oportunidade para a carreira do jogador.
Sem muito dinheiro em caixa, as ações no mercado são centradas no diretor Tiago Gaúcho. O custo com ferramentas de observação e analista é elevado para as finanças do clube. A opção é utilizar o valor para trazer jogadores.
— Falamos com gente que conhece o mercado, empresários, outros jogadores. Tenho um banco de dados. Vamos mais no meu olhômetro. Não temos analista. É ter jogador ou analista. É valido ter esse profissional, mas prefiro ir pelo meu olho — explica Tiago.
Para a disputa do Gauchão 2024, foram contratados ao menos 20 jogadores.
Ypiranga
A estabilidade na Série C e as boas campanhas nas duas edições passadas do Gauchão refletem no trabalho minucioso para a contratação de jogadores. Entre os clubes do Interior é o que apresenta a maior estrutura.
O processo envolve o máximo de profissionais possíveis. O Ypiranga conta com o Centro de Observação e Análise (COA), que analisa possíveis reforços. Independentemente de onde parta a sugestão de um atleta, o nome é submetido a um raio-x no COA.
São quatro setores que precisam dar resposta positiva para um negócio ser fechado. Além do COA, comissão técnica, diretoria e o gerente executivo Farnei Coelho. Cada contratado tem atuações em três ou quatro jogos avaliadas.
— É um processo cuidadoso que envolve o máximo de profissionais possíveis. Temos apostas no elenco, mas também jogadores consolidados. Buscamos esse equilíbrio no grupo — explica Farnei.