Entre os xavantes que estarão presentes no setor de visitantes da Arena para a partida entre Grêmio x Brasil-Pel, nesta quarta-feira (25), uma ausência sentida será a de Rai Duarte. Recuperando-se das agressões sofridas por policiais militares que lhe fizeram permanecer por 116 dias no hospital e ser submetido a 14 cirurgias, o torcedor disse que não pretende viajar para as partidas do time pelotense fora de casa. Além das restrições médicas, sente-se ameaçado.
— Estou recuperando meu psicológico. A gente sai para assistir um jogo e não sabe se vai voltar. Não se sabe o que vai se encontrar lá, posso ter outras represálias — afirmou.
Rai Duarte foi internado em 1º de maio do ano passado com um corte no abdômen, que afetou o intestino. Ele foi agredido por policiais militares após o jogo entre São José e Brasil, pela Série C do Brasileirão, em Porto Alegre. Foram 47 dias na UTI, em estado de coma induzido, e o restante do período no leito de enfermaria, de onde recebeu alta em 24 de agosto.
Durante os quase quatro meses, Rai foi acompanhado por sua mãe, Marta Cardoso. Nesses quase dois meses em que o filho esteve na UTI, ela alugou um apartamento próximo ao hospital. Não viajar para a Capital também atende a um anseio de Marta.
Em setembro, após a investigação, a Corregedoria-Geral da Brigada Militar indiciou 10 policiais por crimes de tortura e lesão corporal. Outro responderá por tentativa de homicídio. Em decorrência das identificações criminais, o caso foi encaminhado para a Justiça Militar e ao Ministério Público, onde ocorrerá um processo demissionário. Quase quatro meses depois, o MP ainda analisa o processo.
— Fizeram aquela selvageria comigo e, até agora, ninguém foi responsabilizado e punido — comentou Rai.
Depois de muito tempo afastado, Rai Duarte pôde ao menos acompanhar seu time do coração em um jogo no Bento Freitas. Junto do filho Hyantony, que nasceu em novembro, e da esposa Aline Lopes, ele compareceu no jogo-treino entre Brasil e Avenida, 14 de janeiro, e gostou do que viu.
Leia a conversa com Rai Duarte:
Como está a tua recuperação?
Estou me recuperando aos poucos. Voltarei a Porto Alegre em fevereiro para marcar uma tomografia, que será feita em maio, para em junho realizar a última cirurgia, a 15ª. É uma evolução aos poucos.
Como foi voltar ao Bento Freitas?
Experiência muito boa. Estive no jogo-treino entre Brasil e Avenida, gostei do que vi. Acredito que o Brasil vai chegar nas cabeças. Foi a primeira vez que meu filho esteve no Bento Freitas comigo. Fui junto dele e da minha esposa. E muito bom pelo fato de poder voltar a fazer o que eu gosto, que é assistir o Brasil.
Pretendes viajar para acompanhar Grêmio x Brasil?
Nesse ano eu não irei aos jogos fora do Bento Freitas. As viagens são cansativas e tenho muitas restrições. Não posso ficar em lugares fechados e que sacodem, como um ônibus. E eu estou recuperando meu psicológico. A gente sai para assistir um jogo e não sabe se vai voltar. No meu caso, saí para assistir uma partida e quase acabei não voltando. Foi muito tempo internado, tudo por conta de bobagens que eu não tinha nem participado e acabei quase morrendo.
Também teve uma promessa para tua mãe?
Eu escuto muito minha mãe. Foi ela quem segurou a barra comigo no hospital por quatro meses. Ela disse que não quer mais ver isso acontecer comigo. Então, por enquanto, vou ficar só no Bento Freitas. Não se sabe o que vou encontrar lá, posso ter outras represálias.
Estás acompanhando o processo?
Meu advogado disse que o assunto vai andar neste ano, depois do recesso do Fórum. Nós também estamos processando o São José, pois tudo aconteceu lá dentro. Fizeram aquela selvageria comigo e, até agora, ninguém foi responsabilizado e punido.