A paralisação do futebol no Rio Grande do Sul e no Mundo devido a pandemia de coronavírus não prejudica somente clubes, jogadores e torcedores, mas também interfere diretamente na vida daqueles que precisam do futebol para sobreviver. É o caso dos árbitros. No Brasil, a profissionalização da arbitragem ainda não é regulamentada. Portanto, a categoria não tem um salário fixo e direitos trabalhistas garantidos. Todos recebem por partida apitada. Ou seja, sem jogos, sem salário.
Em entrevista à Rádio Gaúcha, três árbitros gaúchos foram ouvidos para trazer a realidade do problema vivido pelos dos dono apito. Entre eles, o santa-mariense Anderson Daronco — único árbitro do Estado no quadro da Fifa, patamar mais elevado do apito.
Segundo ele, é complicado para um árbitro de alto nível conciliar outro emprego, devido as viagens, jogos e treinamentos. E fala sobre a difícil situação que a categoria vive em meio à pandemia.
— Minha dedicação é exclusiva para o futebol e esse é um assunto muito pertinente para o momento. Que não soe como uma choradeira, mas que se faça uma reflexão sobre o assunto. Primeiro, que é muito difícil de um árbitro de alto nível ter qualquer outro tipo emprego, devido as demandas de viagens e treinamentos. Então, ele vive exclusivamente do jogo. Sem jogo, não tem de onde tirar renda. Por isso se luta tanto pela profissionalização, para que o árbitro tenha segurança nessas situações. Seja um árbitro do quadro da Fifa ou do quadro básico da Federação — comentou.
Daronco é um caso à parte. Por ser árbitro Fifa, tem uma demanda de jogos mais elevada e um calendário cheio ao longo do ano. O mesmo não ocorre com todos os juízes gaúchos. O natural de Novo Hamburgo, Jonathan Pinheiro, por exemplo. Além de fazer parte da CBF e da FGF, é personal trainer e se sente duplamente prejudicado pela doença:
— Sou educador físico, tenho alguns alunos de personal e estou sendo lesado por essa situação que o mundo está passando. Além de não ter jogos, têm academias fechando.
Sobre sua renda durante a paralisação, Jonathan ressalta que o trabalho autônomo torna o profissional mais cauteloso.
— Eu sempre falo que a gente nunca deve viver o hoje como se não houvesse o amanhã. A gente se prepara durante um tempo. Já são sete anos de formação, sabemos da dificuldade do professor no Brasil e já trabalhamos pensando que temos que separar um pouquinho para alguma emergência. A mesma coisa na arbitragem, pelo fato de sermos autônomos a gente sempre tem que estar vivendo com menos do que ganha para em uma situação como essa não passar aperto — finalizou.
Daronco e Pinheiro afirmaram que estão treinando durante a quarentena. O objetivo é estar prontos para quando o futebol retornar.
— Não podemos ficar parados. Não sabemos quando tudo vai normalizar, quando as partidas vão voltar. Quando isso acontecer, não se admite que a gente esteja fora de forma. Devemos estar prontos — declarou Daronco.