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Até onde os sonhos de ser jogadora de futebol podem levar uma menina? No auge dos seus 18 anos, Bianca Martins prova que sonhar é necessário. A jovem surgiu no Flamengo de São Pedro, de Tenente Portela, e constrói uma história de inspiração em Porto Alegre. No início deste ano, se tornou atleta profissional do Inter.
Zero Hora contou a história de Bianca ainda em 2022. Aos 16 anos, ela surgia com um dos principais talentos do Flamengo. As Gurias dos Yucumã tiveram seu enredo marcado pela utilização de atletas indígenas durante o Gauchão Feminino.
Há três anos, ela posou para fotos sob os olhares de uma vaca e fez embaixadinhas sobre o chão batido, barro vermelho mesmo. Ao fundo, uma casa de madeira. Na terça-feira (10), a conversa teve outro cenário. O ambiente era o imponente estádio de um dos grandes clubes do futebol brasileiro. Sob os pés, o gramado verde do Beira-Rio.
A personalidade segue a mesma. Com o mesmo jeito tímida, a zagueira contou com entusiasmo a assinatura do primeiro contrato profissional com o Inter, válido até o final de 2027.
— É um sonho e um objetivo realizado. É tudo o que uma jogadora busca e sonha para a carreira.
O vínculo entre dela com o clube começou no final de 2022. Logo em seu primeiro ano como profissional do Flamengo, suas atuações chamaram atenção da comissão técnica durante o Gauchão sub-17. Em 2023, integrou a base colorada. Uma nova vida na capital gaúcha tomou forma.
A efetivação ao time profissional ocorreu após uma temporada de afirmação e crescimento na base. Em 2024, disputou 16 jogos como titular e marcou quatro gols. Nada mau para uma zagueira. Na campanha do vice-campeonato da Copa São Paulo, carregou a braçadeira de capitã em vários jogos.
A confiança em seu trabalho se transformou em chances na equipe principal ainda no ano passado, quando fez sua estreia como profissional no Gauchão. Naquele 26 de outubro, diante do Elite, marcou seu primeiro gol na goleada por 15 a 0.
No currículo, já são três taças conquistadas com a camisa do Inter: Gauchão Feminino sub-17, Brasileirão sub-20 e Copa Gramado/Siapergs. A missão para a nova etapa é evoluir e estabelecer novos feitos.
— Eu acho que o contrato profissional é uma segurança para a carreira. Mas não dá para a gente se sentir confortável. A cada dia, a gente tem que estar buscando mais, almejando e querendo mais para ter grandes feitos. Me sinto muito bem em estar em um grande clube, com grandes atletas, com bom staff, com uma boa comissão. Tudo isso ajuda para a evolução pessoal. Espero que seja um ano bem vitorioso.
A Xerife Colorada
Das colegas de elenco já recebeu apelido. Entre elas, Bianca é conhecida como a Xerife Colorada. A alcunha diz muito sobre suas características em campo. A jovem, que já foi até mesmo atacante, passou a jogar de forma mais recuada ao longo dos anos. Agora, oficialmente, é zagueira.
— Eu acho que é um processo. A gente vai se adaptando, se lapidando de fato. Ao longo do tempo, vamos vendo aonde que se encaixa melhor. O meu estilo é esse (de raça, de vontade). É para levantar todo mundo para cima, se for preciso (risos) — afirmou a zagueira do Inter.
Para se transformar em uma atleta profissional, Bianca abriu mão de uma de suas principais fortalezas, a família. Os pais e os dois irmãos pequenos seguem com a rotina do campo no município de Derrubadas, a 480 km de Porto Alegre.
Desde o começo do sonho, o pai Everaldo Pereira Martins foi o principal incentivador de Bianca. Dele veio a herança futebolística. Naquela primeira entrevista de Zero Hora com Bianca, ele destacou o orgulho em ver a filha trilhando cada passo.
— Eu sempre tive o sonho de ser um jogador profissional, mas não tive condições. Então, tudo o que as minhas filhas quiserem, elas vão ter o meu apoio. Se vão jogar, eu não sei, mas vamos tentar. É um sonho sendo realizado aos poucos, é tudo para um pai.
Com o incentivo do pai, vibrando a cada conquista, a meta é estabelecer novas marcas na carreira.
— Quero alcançar grandes coisas, alcançar títulos. Quem sabe um dia chegar na Seleção. Ter uma trajetória memorável, servir de inspiração para outras pessoas. Quero ser reconhecida no futebol — destacou Bianca Martins.
Rotina transformada
A vinda para Porto Alegre mudou a vinda de Bianca em vários aspectos. O trabalho em um clube de expressão cria desafios, mas também traz novas expectativas.
O início no Flamengo mostrou que o trabalho e a perseverança levam a caminhos distantes. Nesta nova etapa, um dos objetivos no horizonte é conquistar espaço na Seleção Brasileira. É um sonho, mas um sonho com os pés no chão.
— É um sonho. Imagina, a Copa vai ser aqui, talvez poder jogar... mas eu acho que ainda está longe e que para chegar lá tem que trabalhar muito mesmo.
Em meio à rotina de treinos e jogos, Bianca também tenta encontrar brechas para visitar a família. São mais de seis horas de viagem de carro. As idas para Derrubadas se tornaram mais especiais. A trajetória ainda curta, de quem saiu do interior e conquistou espaço em time grande, virou exemplo.
— Eu gosto bastante quando eu vou para lá. As professoras sempre me chamam para ir lá no projeto. E as meninas vêm para tirar foto, falam muito: "ah, eu quero ser que nem tu, quero chegar lá". Querendo ou não, serve de inspiração, de sair de um time pequeno, do Interior. Acaba servindo de esperança para quem está lá, de trabalhar mais, porque sabe que é possível chegar. O Flamengo é um time bom, vem relevando outras atletas.
Questionada sobre o que o futebol representa na sua vida, a jovem é taxativa:
— O futebol representa praticamente tudo hoje na minha vida. Me define como pessoa, como atleta. Eu vivo para ele. Estou longe da minha família e tudo mais para viver esse sonho. Então, o futebol é a maior parte da minha vida hoje.
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Inter aposta em protagonismo da base
Além de integrar a elite do futebol nacional e disputar as principais competições do país, o Inter tornou-se uma referência no trabalho nas categorias de base. Os títulos vencidos nas mais diversas idades demonstram o resultado na formação de talentos.
O projeto também tem dado frutos financeiros. Recentemente, o Inter foi protagonista em negociações de atletas que passaram pela base. A atacante Priscila foi negociada com o América-MEX na maior transação do futebol brasileiro para o Exterior. As cifras chegaram aos R$ 2,8 milhões. O clube ainda garantiu 20% em um negócio futuro envolvendo a atacante e receberá bônus adicionais conforme o desempenho dela no futebol mexicano.
O movimento de promover Bianca Martins foi um reforço do compromisso de valorizar as atletas da base, conforme destacou Luiza Parreiras, gerente de futebol feminino do clube.
— A profissionalização da Bianca reforça o nosso compromisso com a valorização das atletas formadas em casa. Temos um projeto sólido para o futebol feminino. Ver jogadoras como a Bianca fazendo essa transição com qualidade é motivo de muito orgulho. Isso mostra a força das nossas categorias de base e o cuidado que temos em preparar as Gurias Coloradas para desafios maiores — apontou a dirigente colorada.
O trabalho, no fundo, também é transformar os sonhos de meninas em realidade. Bianca é a prova de que eles se realizam.