Demorou duas horas e 40 minutos para os jogadores brasileiros aparecerem na zona mista. Eles surgiram em uma fila que mais parecia um cortejo. O silêncio impactava. Dava para ouvir o som do solado do tênis Nike azul padrão do uniforme no piso. Não havia silêncio. Nem pressa. Caminhavam como se estivessem catatônicos. Neymar foi um dos últimos a passar. Parou para falar, algo raro nas duas últimas Copas. Assumiu a postura de líder que é. Nas três paradas que fez na zona mista, deixou aberto seu futuro na Seleção.
— Não é certo que continuarei. Preciso pensar, refletir. Acabou de acontecer. Mas também não é 100% certo que me despedi hoje. Tenho de analisar tudo ainda — disse.
Na última entrevista na zona mista, as lágrimas do vestiário, denunciadas pelos olhos vermelhos e inchados, voltaram a cair.
Ao lado de Neymar, Richarlison também falava e enxugava as lágrimas. Ele tinha passado pelo primeiro grupo de repórteres e pedido para não falar. Desculpou-se e seguiu. Porém, parou mais adiante. Richarlison é um sujeito atencioso e de bom trato com a imprensa. Ele mal conseguia completar uma frase e puxava a camisa amarelo da Seleção enrolada à mão para secar as lágrimas.
— É muito doído. Só quero sair ali e dar um abraço no meu pai — suspirou.
O primeiro a passar foi Lucas Paquetá. Em seguida, veio Fred. Explicou o lance em que acabou desarmado e lamentou o desfecho da Copa para o Brasil.
— O Pedro deu o passe um pouco mais longo, eu disputei a bola ali, aconteceu. Temos de valorizar o trabalho que foi muito bem feito aqui — ressaltou.
Questionado se houve erro na postura ao final do jogo, já que o time estava com sete no ataque no momento de segurar o resultado, Fred lembrou que houve tentativa de segurar a bola no ataque antes de levar o contra-ataque.
— Poderíamos ter tomado mil decisões. São coisas do futebol, é levantar a cabeça e seguir — disse, sem se aprofundar muito.
Thiago Silva foi quem mais falou. Olhos marejados, parecia não acreditar na forma como acabou seu ciclo na Seleção. Thiago esteve na África do Sul, na queda para a Alemanha, na Rússia e, agora, aqui no Catar. São cicatrizes demais para um dos melhores zagueiros brasileiros deste século.
— Aqui se encerra meu ciclo na Seleção, desta forma tão trágica, triste. Essa geração merecia ganhar a Copa — disse, se referindo aos mais veteranos do grupo.
A entrevista de Thiago fechou a zona mista. Os repórteres se dispersaram para finalizar o conteúdo de mais um capítulo da história brasileira em Copas. Mais um capítulo triste, em preto e branco. Como vem sendo desde 2006. Faz 16 anos que é assim. E isso pesa na alma.