
Quem passa pela Avenida Prudente de Morais, uma das principais vias de Natal, no Rio Grande do Norte, finalmente consegue visualizar os primeiros contornos de um estádio de futebol no canteiro de obras da Arena das Dunas.
Desde que o antigo Machadão foi demolido, em outubro do ano passado, a obra, que já começou com um quase ano de atraso devido a problemas na licitação, era alvo de descrédito entre os natalenses. De maio para cá, quando a superestrutura começou a ser montada, a construção engrenou, e hoje está 38,5% concluída, conforme o balanço de agosto _ 5,9% adiantada em relação ao cronograma da Fifa. Se continuar nesse ritmo, o estádio pode ser entregue até dois meses antes da data prevista, 31 de dezembro de 2013.
GRÁFICO: Confira o ranking dos estádios para a Copa de 2014
- Natal tem tudo para ser uma das cidades-sede que mais vai ganhar com a Copa, por conta de suas belezas naturais, estrutura turística e a proximidade com o continente europeu - aposta o diretor-presidente da Arena das Dunas, Charles Maia.
A cidade conta com 22 mil leitos em hotéis e pousadas de todos os portes, a maioria deles enfileirados na Via Costeira, entre o Parque das Dunas e a beira-mar, não muito longe do estádio. É o que leva a OAS, construtora encarregada da obra, a pensar muito além de 2014 - e do futebol.
No mundial, Natal sediará apenas quatro jogos. Depois, o estádio estará à disposição dos clubes. Maia considera boa a demanda por futebol na cidade, que tem seus dois principais times, América e ABC, disputando a Série B do Campeonato Brasileiro. Porém, 30 ou 40 jogos por ano não sustentariam um projeto desta envergadura. A saída é investir no legado.
Localização central é o ponto forte
O projeto da Arena das Dunas prevê a transformação das lajes que abrigam os 10 mil lugares temporários em empreendimentos que variam de academias a restaurantes panorâmicos, com vista para o campo, além de uma arena indoor para shows com 5 mil lugares e um auditório para conferências com 200 assentos. O setor de hospitalidade do estádio se transformará em lojas e salas de reuniões para nichos específicos, mediante um estudo de mercado.
Na parte externa, uma área de 22 mil m² pode servir para feiras, esportes radicais, vôlei de praia ou patinação no gelo. E o próprio campo pode virar palco para shows de grande porte, em agenda combinada com as outras arenas administradas pela OAS, em Salvador e Porto Alegre.
- Temos que aproveitar a localização estratégica da Arena para transformar esse empreendimento em um organismo vivo, oferecendo um serviço diferenciado e condizente com as necessidades da cidade - justifica Maia.
Além de estar em uma das principais avenidas de Natal, a Arena das Dunas tem a sede administrativa do Estado como vizinha. A estrutura moderna e a disponibilidade de estacionamento, um dos pontos fracos do entorno, são atrativos para empresários locais, que já entram em contato com a construtora para firmar parcerias pós-Copa.
O contrato da OAS com o governo do Estado do Rio Grande do Norte prevê três anos de construção e 17 de operação. Nesse período, cada parte fica com 50% dos lucros do empreendimento. Após o prazo, a administração passa para o governo estadual, ou pode ser renovado o contrato de administração pela construtora, se houver interesse. O investimento total da obra é de R$ 413 milhões, sendo R$ 380 milhões com financiamento federal.
Números da Arena das Dunas
_ 2,2 mil vagas para estacionamento, sendo 500 no subsolo
_ 42 mil lugares, sendo 10 mil temporários
_ 30 camarotes
_ 30 banheiros
_ 3 lounges VIP
_ 24 restaurantes e lancherias
_ cabines para 1,2 mil jornalistas
_ 21 acessos
_ 4 elevadores
_ 8 minutos para evacuação
_ 1,7 mil colaboradores diretos e indiretos durante a construção
Desapropriações comprometem obras viárias
Como está em uma das principais avenidas da cidade, a Arena das Dunas está em local de fácil acesso, inclusive com linhas de ônibus que atendem o entorno. Para ampliar a acessibilidade aos estacionamentos do complexo, uma Via Projetada, paralela à Prudente de Morais, será entregue pela OAS na conclusão da obra. As melhorias viárias pretendidas pela prefeitura de Natal, no entanto, pouco avançaram até agora e a Secretaria de Obras Públicas e Infraestrutura (Semopi) já admite a possibilidade de que elas não sejam concluídas até a Copa.
As obras do lote 1, que compreendem 8 quilômetros entre a zona norte e a Arena das Dunas, têm orçamento de R$ 140 milhões e financiamento já aprovado pelo Ministério das Cidades e pela Caixa Econômica Federal, mas emperram em desapropriações imobiliárias. De acordo com a titular da pasta, Teresa Cristina Vieira Pires, não seria possível, com o valor da desapropriação, reconstituir a condição de moradia dos afetados.
- Já executamos recapeamento de cerca de 27 vias para desvios de tráfego, porém nada mais foi feito. Creio que não teremos um horizonte muito favorável à conclusão dessas obras até 2014 - diz a secretária.
O projeto de alargamento da Avenida Capitão Mor-Gouveia, que liga a zona oeste ao centro da capital potiguar, está sendo revisto de modo a diminuir as desapropriações. A expectativa, segundo Teresa Cristina, é divulgar a nova proposta no começo de novembro.
Com relação ao lote 2, a secretária afirma que as perspectivas são mais animadoras, já que não envolve desapropriações. As obras preveem melhorias no entroncamento entre as principais vias de acesso ao estádio, qualificando o corredor viário para dar maior fluidez ao transporte coletivo. Porém, os projetos serão submetidos à análise da Caixa somente em 30 de outubro. O orçamento estimado para essa etapa é de R$ 167 milhões. Somente recursos de contrapartida foram pagos até agora, somando em torno de R$ 10 milhões.
- Caso ainda façamos a licitação até novembro, é possível concluir os serviços para a Copa - ressalta Teresa Cristina.
O Aeroporto Internacional Augusto Severo já recebeu os primeiros investimentos em preparação para o Mundial, mas continua pequeno para atender a demanda de 2 milhões de turistas ao ano. O novo Aeroporto Internacional São Gonçalo do Amarante está em construção e já recebe alguns voos, inclusive internacionais. A previsão da conclusão da obra, conforme a Infraero, é para outubro de 2013.
Detalhe ZH
A Arena das Dunas reutilizou todo o material da demolição do Machadão na terraplanagem do terreno. Uma fábrica de concreto e ferragens foi montada no próprio canteiro de obras para reduzir o transporte de cargas pesadas até o local. Os colaboradores frequentam escola de 1ª a 4ª série e cursos de informática também dentro da obra. Resíduos da coleta seletiva são repassados a uma cooperativa de catadores da cidade. Entre os trabalhadores, há 34 ex-detentos e apenados do regime semiaberto, além de 30 jovens aprendizes.