O presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, Sérgio Corrêa, se recusa a falar de lances específicos dos juízes no Brasileirão. Mas não se furta a discorrer sobre a adoção do vídeo-árbitro em 2016, se a Fifa permitir, claro. Por e-mail e via assessoria da CBF, Corrêa respondeu perguntas enviadas por ZH.
O que leva a CBF a acreditar que a IFAB (International Board) permitirá o uso de recursos de vídeo como experimentação no Brasil em 2016?
Há uma corrente muito forte pelo teste do uso da tecnologia, e a Fifa já adiantou que, se houver autorização, Brasil e Holanda, que já apresentam projetos avançados, terão prioridade.
De que forma seria esse procedimento?
Haverá a criação do cargo de árbitro de vídeo (AV), que terá a atribuição de corrigir erros técnicos ou disciplinares claros e indiscutíveis que possam alterar diretamente o resultado ou o desenvolvimento das partidas, obedecendo ao princípio de não interrupção do jogo (mínima interferência). O AV atuará com base em imagem televisiva simultânea e com possibilidade de imediato replay. A comunicação com os árbitros será feita por ponto eletrônico.
Em quais tipos de lances seria usado?
A intenção da CBF é utilizar as imagens para evitar erros nos seguintes lances:
a) Dúvida se a bola entrou ou não no gol;
b) Dúvida se a bola saiu pela linha de fundo, quando na sequência da jogada ou contexto for marcado gol ou pênalti;
c) Definição do local de tiros livres diretos, ocorridos nos limites da grande área, para definir se houve ou não pênalti;
d) Gols e pênaltis marcados, possibilitados e evitados em razão de erro em lances de faltas claras/indiscutíveis, não vistas ou marcadas de modo claramente equivocado;
e) Impedimentos por interferência no jogo, caso na mesma jogada haja gol ou pênalti;
f) Jogo brusco grave ou agressão física (conduta violenta) indiscutíveis não vistos ou mal decididos pela arbitragem.
O quanto isso poderia ajudar o árbitro?
Ele continuará sendo a autoridade do jogo e terá sua honestidade menos questionada. Temos de confiar nas pessoas. Elas são honestas até que se prove o contrário. Não o inverso disso. Só o árbitro terá autonomia para revisar a jogada. Inicialmente, não há previsão de pedido de alguma das equipes por meio de seu técnico ou jogadores. A intenção é evitar o equívoco grave, aquele que pode ter grande importância no resultado da partida.
Qual seria o impacto na fluidez da partida?
Nossa intenção é que não haja interrupções. O árbitro faz a consulta e o AV informa em alguns segundos, com o replay, sem prejuízo para o andamento normal da partida. É importante que fiquem claras as situações com possíveis interferências do árbitro de vídeo. Os casos são muito específicos. O AV não ficará falando sobre todos os lances. Ele será consultado apenas nesses casos de muita relevância.
Qual sua avaliação da arbitragem neste Brasileirão em lances mais polêmicos?
Não é razoável falar apenas dos lances em que há equívocos. A arbitragem precisa ser analisada como um todo. Os números apontam que 89,7% dos impedimentos foram marcados com acerto contra 10,3% de erros. Analisamos como lances fáceis e ajustados (mais difíceis): 95,4% de acerto e 4,6% de erros. Nos lances ajustados, foram 75,3% de acerto e 24,6% de equívoco. Trabalhamos para reduzir os equívocos e isso vem acontecendo. É preciso contextualizar: um mínimo erro de arbitragem somado à paixão de dirigentes, jogadores e torcedores que acabaram de perder uma partida gera um onda enorme de críticas, tentando responsabilizar o árbitro. Essa é a cultura estabelecida, e mudar isso leva tempo. Iniciamos a Cruzada pelo Respeito para diminuir as reclamações em campo, com aquelas cenas que prejudicam o futebol. Nossos resultados, para o primeiro ano, são muito bons. É um trabalho contínuo.
Temos visto muitos lances em que os árbitros voltam atrás em suas decisões, o que era pouco comum antes. Parte de orientação da Comissão?
A regra permite que o árbitro modifique a sua marcação. O objetivo é acertar. Nossa orientação é buscar o máximo de tranquilidade para atingir o maior índice possível de acerto. Se o árbitro percebe que houve erro e corrige a tempo, é melhor para todos: jogadores, torcedores e para o próprio campeonato.
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