Contato Tcheco em uma noite muito quente em Curitiba. Ele está ao lado da namorada, Kelly, com um ouvido no celular e outro na TV de tela plana, que apresenta Atlético-PR, o grande rival local, e Flamengo na primeira partida das finais da Copa do Brasil. Ele reclama do termômetro, mas não esquece o bom humor nem mesmo com a crise do seu Coritiba:
- Quente mesmo, caldeirão puro, vai estar em Caxias, domingo, no Estádio Centenário, no jogo contra o Inter. Aí o bicho vai pegar.
Aos 37 anos, jogador até os 36, 16 de carreira, o curitibano Anderson Simas Luciano não desejava o cargo de treinador interino, nem pensava. Ele está no começo de uma fase de aprendizado, integrante fixo da comissão técnica do clube. Foi convencido pelos dirigentes, pelos jogadores, pelo capitão Alex.
- Tenho consciência de que não estou em condições de pegar um time e disputar um campeonato longo como o Brasileirão, por exemplo. O que fazia no Coritiba era um estágio, puro aprendizado. Preciso de bem mais estrada para me dar bem nesta nova fase da carreira.
Ele estanca a conversa. Parece que a ligação caiu, mas não. Ele volta:
- Mas tudo bem, não tem problema. Aceito o desafio. Acho que para um tiro curto vai dar certo. Tem que dar. Conto com o suporte da comissão técnica e dos jogadores, o que me serve muito.
As decisões no vestiário do Coritiba nos próximos três jogos (Inter, Botafogo e São Paulo) - o time necessita de seis pontos para continuar na Série A - serão coletivas. Tcheco esgrima contra os números. Eles são pavorosos quando explicitam a campanha fora do Paraná.
Foram 17 disputas longe de casa. Ganhou uma vez, 1 a 0, do Grêmio, na Arena, e exibe 17,65% de aproveitamento (só o pobre Náutico tem menos, 15,69%). Os paranaenses disputaram 51 pontos, faturaram apenas nove.
- Nós colocamos o Coritiba nesta situação (17º na tabela, primeiro na zona da degola). Nós mesmo precisamos tirar. É nossa obrigação.
Tcheco nem acha que o esquema tático a ser utilizado na Serra seja o mais importante. A motivação é que é a chave de um possível sucesso.
- Todos prometeram me dar uma mão. Somos um grupo, conversamos sobre qualquer coisa, montagem da equipe, maneira de jogar, esquemas. Os atletas "fecharam" comigo. Mas quando vejo que tudo fica muito distante do que quero, mudo. Sou o líder do processo, dou liberdade, mas cobro. A última palavra é minha.
O treinador Tcheco, que de chuteiras era um líder - capitão em vários clubes, no Grêmio inclusive -, revê agora os ensinamentos dos experimentados "professores" Celso Roth, Mano Menezes e Paulo Autuori.
- O Celso é comandante, disciplinador, enérgico e exige muito do jogador. Trabalha pesado. Todos os dias. É o que eu procuro fazer. Ofereço liberdade, mas quero compromisso total de todos. Conheço de cor o idioma dos jogadores, já fui um, mas tenho novas responsabilidades. No jogo contra o Inter, serei mais Celso Roth do que Mano ou Paulo.
Quando as lembranças de seu tempo do Olímpico reaparecem, ele cita Marcelo Rospide.
- Você lembra quando o Grêmio contratou o Paulo Autuori, em 2009, e chamou o auxuliar Marcelo Rospide para ser o interino por um tempo?
Eu digo que sim.
- Pois é, enquanto nós esperávamos o Autuori, que estava no Oriente Médio, o time inteiro apoiou o Rospide. O Coritiba vive história igual. Todos estão comigo nesta luta.
Tcheco diz que o treinador campeão brasileiro da temporada com o Cruzeiro, Marcelo Oliveira, que trabalhou dois anos no Coritiba, é também uma referência.
- Ele me ensinou a motivar um grupo, não atender só os 11 titulares.
Tcheco diz que não tem espiões na Capital e que a comissão técnica do Coritiba analisou o adversário.
- Mas eu tenho um monte de informantes azuis por aí.
Ele brinca.
- Se precisar, aciono as minhas boas fontes gaúchas (risos).
Tcheco vai precisar de toda a ajuda do mundo. Há 11 anos ou oito jogos que o Inter não perde para o Coritiba em solo gaúcho. Caxias vai ferver.