Aline Zimmer, 19 anos, preferiu escutar a si mesma. Deixou de lado os conselhos de quem dizia que uma menina da idade dela já deveria trabalhar e ajudar nas despesas da família.
E resolveu seguir o caminho de seu sonho: formar-se em música pela UFRGS.
Em 2013, trancou-se em um dos quartos da casa em que mora com os pais no bairro Santa Rita, em Guaíba, e estudou por conta própria. Não tinha dinheiro para pagar as mensalidades de um cursinho preparatório. Os livros foram doados por amigas, as redações, corrigidas por professores voluntários.
- Foi bem cansativo. Tive crises achando que iria rodar, porque muitos dos conteúdos não havia aprendido na escola. Minha mãe chegava a bater na porta do meu quarto para saber se eu estava viva, de tanto tempo que eu ficava lá dentro.
Aline foi aprovada para Letras, a segunda opção em que se inscreveu. Foi reprovada na prova de habilitação específica em Música, pois teve de usar o violão com cordas de nylon que sua professora havia emprestado.
Segundo ela, o instrumento que tem está velho e tem cordas de aço, não sendo aceito para a realizar a prova. Aline tentou comprar um melhor, até deixou de comemorar a conclusão do 3 º ano para guardar dinheiro, mas não atingiu o valor necessário.
Nos próximos dias, a jovem fará a matrícula para Letras. Depois, pretende continuar treinando para a prova de violão e pedirá transferência interna para o curso de Música.
Para pagar passagens e alimentação, já tem em mente conseguir uma bolsa de iniciação científica.
- Às vezes, é complicado se sentir motivado diante das adversidades Na minha família, por exemplo, ninguém se formou.
Mas minha ânsia me motivou, e é por isso que escrevi: para motivar outras pessoas que, como eu, querem continuar estudando, mesmo que não tenham as melhores condições - afirma a garota.
Veja o depoimento de Aline:
"Filha de um caminhoneiro e de uma dona de casa, eu sempre estudei em escola pública e nunca tirei nota vermelha. Quando estava no 3 º ano, em 2012, tirei primeiro lugar em um simulado do Enem promovido pela escola e, com isso, ganhei uma bolsa de revisão num cursinho, mas nem fiz vestibular. Na época, tive ajuda de duas professoras, Heliana e Graça Nunes, e da minha colega Malu, com os custos das passagens.
No ano de 2013, estudei sozinha, trancada por seis horas diárias em meu quarto, de segunda a sexta- feira, com meus cadernos do Ensino Médio ( guardei todos) e livros emprestados da minha amiga Carina. Foi complicado estudar, pois não aprendi certos conteúdos no colégio. Anotava minhas dúvidas e ia todo sábado à lan house para resolvê- las. A prima do meu cunhado, a Taigher, professora de português, corrigia minhas redações. Meu professor do Ensino Médio, João Carlos, também corrigia algumas via e- mail.
Li 40 livros enquanto estudava para o vestibular, então a proposta de redação foi um presente.
Minha primeira opção era Música, porém, não fui aprovada na prova de habilitação específica. Fiz vestibular assim mesmo (afinal, a inscrição já estava paga - minha irmã que pagou) e fui aprovada para o curso de Letras. Talvez eu peça transferência para o curso de Música, mas, para isso, preciso de um violão adequado (fiz o teste com o violão da minha professora Denise). Devido à dificuldade de comprovar baixa renda, eu nem sequer solicitei cotas.
Depois do esforço, todas as minhas olheiras foram curadas na tarde de sexta- feira, dia 17." Aline Zimmer, 19 anos
Sonho de Aline
Jovem conta como passou na UFRGS sem fazer cursinho pré-vestibular
Aline Zimmer passava as manhãs de sábado em lan house para corrigir redações e tirar dúvidas
Bruna Scirea
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