No primeiro ano em que os poemas de Gregório de Matos figuraram na lista de leituras obrigatórias, foram cobradas duas questões. Na primeira delas, o foco era a compreensão e a interpretação do poema Retrato / Dona Ângela, o que não necessariamente pressupunha a leitura anterior do poema, já que ele estava dado na questão. Na segunda, o objetivo era que o vestibulando associasse a primeira à última estrofe de quatro poemas, exigindo, aí sim, um conhecimento prévio dos poemas da seleta.
26. Leia o poema abaixo, de Gregório de Matos Guerra.
Retrato / Dona Ângela
Anjo no nome, Angélica na cara
Isso é ser flor, e Anjo juntamente:
Ser Angélica flor e Anjo florente
Em quem, senão em vós se uniformara?
Quem veria uma flor, que a não cortara
De verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus o não idolatrara?
Se como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu custódio, e minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.
Mas vejo, que tão bela, e tão galharda
Posto que os anjos nunca dão pesares
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.
Considere as seguintes afirmações sobre o poema
I. O poeta explora o paralelo entre Anjo e Angélica e revela a condição perecível e doméstica da flor, permitindo que se perceba a uniformização pretendida pelo barroco, a qual estabelece regras poéticas rígidas.
II. A mulher Anjo Luzente, no poema, encarna tanto o anjo protetor que livra "de diabólicos azares", quanto a criatura feminina tentadora que provoca a imaginação e a sensualidade.
III. A associação e o contraste da flor, que seria cortada do verde pé, com o Anjo luzente a ser idolatrado, indica o diálogo do poeta (vós) com o anjo enviado dos céus para proteger os altares de sua esposa.
Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas I e II.
(D) Apenas I e III.
(E) I, II e III
Resposta certa: B.
27. As duas colunas, abaixo, apresentam versos de alguns poemas de Gregório de Matos Guerra.
Associe adequadamente a coluna da direita à da esquerda, indicando os tercetos que pertencem a cada soneto, cujo quarteto inicial se encontra na coluna da esquerda.
1. Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa piedade me despido,
Porque quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
2. Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
3. Triste Bahia! Oh quão dessemelhante
Estás, e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vejo eu já, tu a mi abundante.
4. Um soneto começo em vosso gabo:
Contemos esta regra por primeira;
Já lá vão duas, e esta é a terceira,
Já este quartetinho está no cabo,
( ) Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada
Cobrai-a, e não queirais, Pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
( ) Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.
( ) Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.
( ) N'esta vida um soneto já ditei;
Se d'esta agora escapo, nunca mais:
Louvado seja Deus, que o acabei.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é
(A) 4 - 2 - 1 - 3.
(B) 3 - 2 - 1 - 4.
(C) 1 - 2 - 3 - 4.
(D) 1 - 4 - 2 - 3.
(E) 2 - 3 - 4 - 1.
Resposta certa: C