Como muitos que ingressam na Psicologia, Mirela de Cintra, 47 anos, já havia cursado outro curso superior quando passou no vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Formada em Direito, ela trabalhava em um banco e se questionava sobre os frequentes problemas emocionais de alguns colegas. E se questionar, sem buscar respostas únicas, é um dos requisitos importantes para quem deseja cursar Psicologia.
Definido como um curso em parte da área das humanas e em parte da área da saúde, a Psicologia muda de acordo com as demandas da sociedade. Hoje, por exemplo, a parte ligada a assistência social cresce. Mirela, especializada em clínica com ênfase em psicanálise, trabalha em uma casa de acolhimento de crianças e adolescentes ligada à Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc). Lá, ela mistura especialidades distintas:
- É preciso saber sobre desenvolvimento humano, utilizar técnicas da psicologia clínica e da psicologia social. Acredito que essa articulação entre as áreas enriquece - comenta.
Até chegar ao abrigo, que recebe crianças de casos considerados de alta complexidade, geralmente com laços familiares rompidos, a profissional trabalhou como terapeuta em clínicas particulares e, também, na área de recursos humanos. Com formação em Direito, somou conhecimentos e atuou com psicologia do judiciário. Em paralelo ao abrigo, atua como voluntária na ONG Nucriad, que forma educadores sociais.
Para ela, a preocupação e o cuidado com o outro são os maiores estímulos.
Quer cursar Psicologia?
Veja o que Mirela considera importante para o curso:
> Gostar de ler.
> Manter-se atualizado, também, na área cultural. Conhecer músicas, filmes e livros é importante porque essas referências aparecem no discurso das pessoas.
> Questionar-se sobre as pessoas e o mundo sem a necessidade de obter respostas fechadas e imediatas.
> Saber colocar o outro em primeiro lugar.
Onde trabalhar
Confira algumas das áreas em que um psicólogo pode atuar longe das clínicas tradicionais:
> Desenvolvimento e aplicação de testes: a área cresce muito e é interessante para quem gosta de matemática.
> Políticas públicas: o profissional pode pensar projetos de apoio a crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade ou na área da saúde pública.
> Área organizacional de empresas: o psicólogo pode trabalhar na área de recursos humanos, selecionando pessoas, avaliando funcionários da empresa ou, ainda, na parte estratégica da organização.
> Psicologia jurídica: é possível trabalhar dentro de instituições da área do Direito, ou como autônomo, reunindo as duas formas de conhecimento
> Neuropsicologia: pesquisa reações neurológicas em áreas específicas do cérebro e as relaciona, muitas vezes, com as reações e o comportamento da pessoa
> Psicologia do esporte: auxilia atletas em busca de alto rendimento ou, por exemplo, esportistas que começam a praticar esportes de forma profissional
> Assistência social: é possível atuar em organizações não governamentais ou em setores do governo com atividades de acompanhamento que podem auxiliar tanto crianças quanto adultos
> Pesquisador: o profissional pode trabalhar em universidades como professor e pesquisador
> Área escolar: além de trabalhar em escolas, o psicólogo pode elaborar novas formas de aprendizagem - um exemplo são as técnicas de ensino à distância
> Psicologia da arte: focada na análise do processo criativo
> Coaching: auxilia pessoas a desenharem estratégias para a a carreira profissional
O estereótipo da profissão
Um psicólogo tem de atuar como terapeuta em uma clínica
Não. A parte clínica é apenas uma possibilidade para o psicólogo. Além disso, aquela imagem de filme, do psicólogo de costas para o paciente, que fica em um divã, é algo muito específico. De acordo com Mirela, isso é apenas uma das técnicas possíveis dentro da psicanálise, que também é uma linha específica. Ou seja, é uma possibilidade, não regra.
Psicologia é um curso para mulheres
Hoje, o número de mulheres e homens que ingressam na graduação é semelhante. As habilidades de um psicólogo não tem a ver com gênero.
É preciso escolher uma linha dentro da Psicologia
Lacanianos, freudianos, psicólogos sociais e muitos outros. Quem ingressa neste curso vai descobrir que existem muitas linhas de pensamento, a maioria ligada a determinados filósofos e pensadores. No entanto, optar por uma delas não é necessariamente uma obrigação. Há psicólogos que conseguem trabalhar integrando mais de uma linha. Isso vai depender de onde se trabalha e, também, de quanto o aluno se identifica com determinada forma de pensamento. Há os que escolhem uma linha com a mesma paixão dos fanáticos por um time de futebol.