Adolescente, Patricia Antunes Laydner decidiu cursar Direito por uma questão, principalmente, racional. Analisou o mercado de trabalho e viu que a carreira ia ao encontro de habilidades que tinha, como o gosto pela leitura e pela escrita. Quando se formou na PUCRS, aos 21 anos, planejava ser promotora. Começou a trabalhar no Tribunal de Justiça e logo decidiu buscar a carreira de juíza.
Hoje, aos 38 anos, é responsável por cerca de 10,5 mil processos todos os meses na 1ª Vara Cível de Sapiranga, na Região Metropolitana. Em média, são entre 100 e 120 sentenças assinadas em um mês. Patrícia não utiliza uma toga preta em suas audiências e gosta mesmo é de atuar como mediadora:
- Para mim, as melhores decisões são aquelas em que se alcança uma conciliação.
Ela acredita que um magistrado precisa gostar de gente, não apenas de livros. É fundamental que o juiz se relacione com a comunidade. Além disso, é preciso ser organizado e ter desenvoltura para administrar.
Mestrado e doutorado em Paris
O gosto pelo estudo e a preocupação com problemas ambientais também fizeram com que a juíza fosse convidada para cursar mestrado na área de Direito Ambiental em Paris. Hoje, ela faz doutorado à distância na mesma universidade. Além disso, atua como voluntária no Ecojus, núcleo do Tribunal de Justiça responsável por implantar ações sustentáveis na instituição, e coordena o Núcleo de Estudos de Direito Ambiental da Escola Superior da Magistratura (Ajuris). Nas horas vagas, ainda consegue jogar tênis e pintar quadros em seu ateliê.
- Meu sonho é trabalhar em uma jurisdição especializada em Direito Ambiental - comenta.
Verdades
Juiz trabalha no final de semana
A frequência do trabalho depende da cidade e da função. Porém, na maioria das vezes, os juízes têm de trabalhar em um sistema de plantão nos finais de semana. Patricia, por exemplo, costuma ficar disponível - com o celular sempre ligado - um final de semana por mês. Este ano, atuará nas eleições municipais e já começou a trabalhar nos finais de semana em uma força-tarefa que deve se estender até novembro.
O Direito tem uma linguagem específica
Sim, não há como fugir de determinados termos técnicos da área. Porém, hoje existe um esforço no judiciário para simplificar, dentro do possível, a linguagem utilizada nas sentenças.
O juiz leva processos para analisar em casa
A produtividade de um juiz costuma ser avaliada a partir da demanda de trabalho. A eficiência é medida pela qualidade das sentenças e, ainda, pela agilidade dos setores. Por isso, em muitos casos, é preciso avaliar processos em casa para manter os prazos em ordem. Há ainda os pedidos que têm de ser analisados em um prazo de, por exemplo, 48 horas, e precisam ser avaliados rapidamente.
Mitos
A atividade é arriscada
Em alguns casos, principalmente para quem trabalha na área criminal, a função pode ser perigosa. Porém, isso não é rotina nem regra. Ameaças ou o uso de escoltas são considerados casos isolados.
O profissional da magistratura é homem, sisudo e fechado
Há muito esse perfil estereotipado vem desaparecendo. Nos últimos anos, os concursos têm aprovado um número semelhante de homens e mulheres e, em alguns casos, há ainda mais aprovados do sexo feminino. Sobre a posição de um juiz, a magistratura entende que o profissional tem de ser sério, mas, ao mesmo tempo, precisa aproximar-se da comunidade.
Juiz é aquele que decide, dando razão para uma das partes
O juiz tem de ter habilidade para decidir, porém, também precisa ter um perfil conciliador. Patricia acredita que, em muitos casos, a conciliação é o melhor resultado que um processo pode atingir, pois atende aos dois lados.
O juiz tem de usar toga preta em todas as audiências
O uso da toga preta não é comum no cotidiano das audiências. Patricia, por exemplo, não lembra de ter usado a toga alguma vez em toda a sua carreira. Isso porque elas são mais usadas em audiências no Tribunal do Júri, em casos com grande repercussão pública.