— Depois de formadas, cada uma foi para um lado. Então, era uma maneira de a gente se encontrar. Aí, uma foi chamando a outra, fomos combinando. A gente valoriza muito esse laço. Mesmo quando estou longe e não posso ir aos encontros, eu ligo e aviso que vai ter, para elas não esquecerem.
O depoimento é de Leda Lucca, 89 anos, ex-aluna do Instituto de Educação General Flores da Cunha, na Capital, que tem uma história de amizade digna de filme. Desde dezembro de 1954, quando se formaram em uma das primeiras turmas do colégio (ainda Escola Normal), o grupo de amigas se reúne mensalmente, faça chuva ou faça sol. Leda é a “mentora” do grupo, sempre convocando as reuniões e cobrando presença das amigas.
Neste ano, elas completam 70 anos de formatura – e de uma amizade duradoura e repleta de histórias. Entra ano, sai ano, e o grupo continua realizando o tradicional almoço coletivo mensal, sempre na segunda segunda-feira de cada mês. Essa é a regra, com direito a lista de presença, e quem não participa precisa dar uma justificativa às amigas por mensagem.
— A gente nunca deixa de ir ao nosso encontro. Infelizmente, muitas se foram, mas o importante é que não deixamos morrer essa semente. Agora, com o grupo do WhatsApp, a gente troca mensagem, fica sabendo da vida das colegas, conversando. Somos muito ativas — diz a advogada Noemy Gauterio Pedrazzi, 89 anos.
Atualmente, o grupo tem 10 frequentadoras assíduas. Nesta segunda-feira (9), além de Leda e Noemy, participaram Maria Lucia Fantin, Graciema Beccon Nerva, Inge Folz, Maria Ligia Ribu de Freitas e Dionice de Bartolo. A amizade surgiu a partir de uma “panelinha”. No total, eram 140 formandas naquele ano, somando as cinco turmas. Mas, como elas eram consideradas “patricinhas”, acabaram se juntando e aproximando.
Laço forte
Apesar de sentirem medo de se afastarem após a formatura, isso nunca aconteceu. O grupo de amigas permanece unido até hoje, sendo que todas têm mais de 80 anos. Mas elas não deixam de relembrar histórias da juventude e revisitar memórias.
— Quando nos reunimos a gente volta à idade escolar, lembrando das nossas peripécias e brincadeiras, é como se fosse naquele período. Naquela época todo mundo era mais comportado, mas a juventude falava alto, também. Muitas de nós casamos, uma foi madrinha da outra, vivemos muita coisa juntas — conta Maria Lucia, 88 anos, formada em Biblioteconomia.
Hoje, os filhos e netos muitas vezes participam dos encontros. O grupo de WhatsApp foi ideia da jornalista Lúcia Schetinger, filha da Leda.
— Depois da pandemia, parecia que elas não iam mais se encontrar. Mas a minha mãe sempre insistia, ela vinha sozinha, mas sempre estava aqui (no restaurante). Aí começou a vir mais uma, depois outras, e agora vêm várias, como antes — relata Lúcia.
O garçom do restaurante Vida e Saúde, Antônio Alex, que atende o grupo desde 2008, já se tornou amigo delas e sempre faz registros dos encontros. Segundo ele, já virou tradição juntar várias mesas para receber as amigas nas segundas-feiras. Até os anos 1980, o ponto de encontro principal do grupo era o Clube do Comércio, também no Centro Histórico de Porto Alegre.
Carinho pelo Instituto
Apesar de nem todas terem seguido a carreira de magistério, as amigas contam que ter estudado no Instituto de Educação foi uma experiência marcante, que guardam com muito carinho. À época, a instituição de ensino era uma das maiores referências no Rio Grande do Sul.
— Tenho muita gratidão. Tudo o que consegui na minha vida foi graças a essa base escolar — destaca Noemy.
O grupo de amigas faz parte dos jubilados do instituto, que conta com 155 anos de história. A instituição reabriu em fevereiro deste ano, após ficar fechado para obras desde 2016.